reVISÕES
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
domingo, 6 de outubro de 2024
em tempo de pazes com Leão
Em 1169, aquando do cerco de Badajoz, D. Afonso Henriques, então com 60 anos, sofreu uma grave lesão numa perna da qual nunca recuperou e foi aprisionado pelo exercito do Rei de Leão.
a Ficou lastimado o valeroso Rei Dom Afonso Henriques, quando se viu em estado tão alheio de sua grandeza, pois sobre tantas vitórias e triunfos passados, descaindo ao presente daquele alto ponto da prosperidade que até então o acompanhara, estava não só preso, mas sua vida posta em grande perigo. El-Rei Dom Fernando não pode negar a compaixão devida a espectáculo tão triste, antes como Príncipe dotado de prudência e humanidade não só usou temperadamente da vitória, mas tratou a El-Rei Dom Afonso com grande cortesia e regalo, e não menor cuidado de sua saúde do que pudera ter o Infante Dom Sancho, filho do próprio Rei Dom Afonso. E porque o quebrantamento da perna d'El Rei pedia remédio com brevidade, o fez aplicar logo; e com a mesma diligência se foi continuando todo o tempo que El-Rei esteve em suas terras, a primeira das quais diz que foi Zamora e depois Ávila, donde cobrada alguma melhoria e firmados os contractos das pazes se tornou para seu Reino.
(in Veritatis "Frei António Brandão in «Terceira parte da Monarquia Lusitana: Que contém a História de Portugal desde o Conde Dom Henrique, até todo o reinado d'El-Rei Dom Afonso Henriques», 1632.")
sexta-feira, 4 de outubro de 2024
quinta-feira, 3 de outubro de 2024
“uma Direita Mal-Educada”. A sorte que temos por a ter!
“Em Portugal, André Ventura é um dos poucos líderes partidários que compreendeu a ameaça cultural.
Podemos usá-lo como exemplo de como é possível dar-lhe seguimento político. Vamos ver isso olhando para dois dos assuntos mais discutidos por ele: a imigração e a segurança.
Estes dois assuntos, que escolheu e que o distinguem, acertam no coração do fanatismo woke. O debate sobre imigração desmonta a fantasia do multiculturalismo. Como é que o faz? Descendo ao concreto. Levando as pessoas a pensar: quais culturas são compatíveis com a nossa?, em que circunstâncias?, pelo turismo?, pelo comércio?, pelo trabalho? Todas estas dúvidas e possibilidades foram limitadas até à chegada do Chega e, sobretudo, até que Ventura elegesse com ele 50 deputados à Assembleia da República. Contra a força deste pequeno exército, tornou-se impossível manter a censura sobre a discussão, e o estigma sobre quem se atrevesse a duvidar. O debate sobre segurança devolve a autoridade ao Estado, tirando-a do relativismo e dos sentimentos (para onde a liturgia woke a levou e onde a pretendia manter). Por outras palavras, o debate sobre segurança reduz a autoridade hierárquica e brutal dos criminosos, e a autoridade fáctica dos grupos de pressão – ou seja, dos Climáximos, das “plataformas”, “núcleos” e “colectivos” onde a extrema-esquerda vive mal disfarçada.” (Margarida Bentes Penedo)
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
terça-feira, 1 de outubro de 2024
Adeus Amiga
Conhecemo-nos em 2004 e mantivemos a nossa amizade perto, muito perto, mesmo quando a distancia era de centenas de quilómetros.
sábado, 28 de setembro de 2024
um contributo para os 50 anos da História do 25A
O que os sócio-fascistas vos tem ocultado!
(um dia a história os julgará!)
(um dia a história os julgará!)
O Estranho Caso do 28 de Setembro
0 28 de Setembro de Jaime Nogueira Pinto
Há 50 anos, na noite de Sexta-Feira, 27, para Sábado, 28 de Setembro de 1974, fui procurado em Lisboa, com algum empenho, por um destacamento do COPCON – Comando Operacional do Continente –, a unidade chefiada pelo brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho.
Não fui, evidentemente, o único: nessa noite, véspera da manifestação da “Maioria Silenciosa”, umas largas centenas de “fascistas”, de “reaccionários”, de “miguelistas”, de “legionários”, de “ex-ministros da Ditadura” ou de meros suspeitos de poderem vir a constituir “um perigo para democracia” foram procurados e detidos por grupos de militares.
Procuraram-me, como disse, com algum empenho: primeiro foram à minha última morada de solteiro, que eu deixara em Janeiro de 1972 mas que constava dos registos da Faculdade de Direito. A gentileza da informação deve ter partido de alguns colegas “associativos”, que não terão querido perder a oportunidade de contribuir para a marcha da revolução, denunciando um culpado de delito de opinião. Tendo eu furado algumas greves, impedido algumas unanimidades e animado alguma oposição ao poder que exerciam na Faculdade (um poder tão ou mais totalitário do que o que os “vitimava” e ao país fora da universidade), como resistir, dois anos depois, a um irresistível “não passará!”?
Imagino que os soldados do COPCON que faziam a rusga também respirassem o ar festivo de Abril, gozando as alegrias de andarem, já não em África, atrás de “turras”, mas na capital atrás de “fachos”. Ah a aura romântica da revolução e a beleza de caçar fascistas!
Mas nessa noite de há 50 anos não encontraram o fascista em questão no quarto alugado da Av. Rio de Janeiro, 46, a morada que estava nos arquivos da Faculdade de Direito. Passaram por isso a interrogar a senhoria, uma velha senhora que, sob pressão, lá lhes deu a morada que ali tinha num convite de casamento.
E para lá seguiram as tropas. Entraram, revistaram a casa, não me encontraram e, ao contrário do que fariam noutros sítios, deixaram tudo onde estava e como estava. Levavam à frente um aspirante miliciano. Com eles ia também um civil – um comissário? – que dava instruções e era ouvido com respeito pela tropa. Seria, muito provavelmente, o Dr. Jean-Jacques Valente.
O comissário político que, na noite de 27 de Setembro de 1974, se passeava com os COPCON’s de casa em casa.
Jean-Jacques Valente era o famoso oficial médico antifascista da Conspiração dos Claustros da Sé, uma conspiração de civis e militares, envolvendo republicanos do reviralho, comunistas e católicos progressistas, todos acolhidos pelo pároco da Sé. Entre os mais dinâmicos animadores da conspiração estivera o capitão José Almeida Santos, Manuel Serra e Varela Gomes. O capitão Nuno Vaz Pinto, monárquico ultramarinista, mais tarde meu amigo e conspirador anti-marcelista, também lá tinha estado.
Como outros conspiradores da Sé, Jean-Jacques Valente foi julgado e condenado. Preso no forte de Elvas, acabou por evadir-se com Almeida Santos, ajudado por um cabo da Guarda Nacional Republicana, António Gil. Seguiram-se meses de fuga e clandestinidade, primeiro em Chaves, depois no Sul, perto de Lisboa. Tudo acabou num huis-clos dramático, com Jean-Jacques e Gil a assassinarem a sangue-frio Almeida Santos. José Cardoso Pires recriou toda esta história em A Balada da Praia dos Cães e José Fonseca e Costa traduziu-a por imagens.
O crime passou-se em 1960 mais ou menos nos termos descritos no excelente romance de Cardoso Pires e no belo filme de Fonseca e Costa e conforme a reconstituição dos factos da Polícia Judiciária. Jean-Jacques Valente e o cabo António Gil tinham matado a sangue-frio o seu correligionário e companheiro de fuga de Elvas: Gil disparara, Valente disparara, mas, como a pistola encravara, Jean-Jacques tivera de acabar Almeida Santos à pancada com as tenazes da lareira.
Ora era precisamente este Dr. Jean-Jacques, o tenaz misericordioso de 1960, o valente bom-selvagem, o comissário político que, na noite de 27 de Setembro de 1974, se passeava com os COPCONS de casa em casa.
Como é que o assassino de um correligionário, um assassino frio e a frio, capaz de acabar barbaramente com um seu companheiro de conspiração e revolução, aparecia, anos depois, nas unidades militares destacadas para fazer prisões políticas – como consultor, como conselheiro, como comissário político, o que fosse?
Mas lá estava ele. Convém acrescentar que, naqueles tempos, tudo era possível: a poesia descera à rua, pintavam-se os muros e a vida de vermelho e passavam-se mandados de captura em branco. Até Jean-Jacques Valente na Quinta Divisão era possível.
O espírito do tempo
Sobre o 28 de Setembro de há 50 anos e para que o leitor consiga entrar no espírito do tempo e veja ou leia para crer, aconselho a leitura do capítulo relativo ao episódio em Textos Históricos da Revolução, com organização e introdução de Orlando Neves (disponível online).
A introdução reza assim:
“A passos lentos, mas quase sempre irreversíveis, a marcha para a destruição da máquina fascista e do aparato capitalista prosseguia […] A espíritos eivados de anquilosamentos passadistas ou a espíritos avidamente interessados em defender os seus privilégios não podia agradar este ambiente geral do País”.
E depois? – perguntará o leitor – Depois,
“o capitalismo e mais uma vez com ele todos os seus naturais aliados, em especial a social-democracia, tentam o golpe espectacular (e sangrento pois estava previsto o derramamento de sangue para que, em nome da «ordem» e da «autoridade», Spínola assumisse o poder absoluto ao decretar o seu desejado estado de sítio)”.
Como “espírito eivado de anquilosamentos passadistas”, não resisti à extensa citação.
O que se seguiu fo o aproveitamento da ingenuidade e confusão de Spínola e dos spinolistas (ou melhor “do capitalismo e de todos os seus naturais aliados, em especial a social-democracia”) para avançar com um, já não hipotético, mas verdadeiro golpe; um golpe travestido de contragolpe, usando como instrumentos a Quinta Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas e o COPCON.
Inicialmente chefiada por Vasco Gonçalves, que logo em Julho 74 a deixaria para abraçar o cargo de primeiro-ministro como “companheiro Vasco”, esta Quinta Divisão controlada e animada pelo PCP tinha, entre outras funções, “detectar desvios no cumprimento do programa do MFA e propor medidas para a sua correcção”. Ficámos também a dever-lhe as campanhas de Dinamização Cultural. E ao lado desta mítica Quinta Divisão estava o ainda mais mítico (mas também bastante real) COPCON.
Passo então a citar o Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, mais conhecido por Relatório das Sevícias (também disponível online):
“A partir de 28 de Setembro de 1974, o COPCON surge com poderes ilimitados sobre a segurança e a liberdade das pessoas, arvorando-se até no direito de decidir pleitos, dirimir questões civis, resolver problemas de habitação […] Efectuava ainda apreensões de bens e congelamentos de contas bancárias e decretava medidas limitativas da liberdade, tais como interdição de saída para o estrangeiro, residência fixa, etc.”
Reacção em cadeia
Nessa noite iniciava-se, executada pelo COPCON, uma acção que levaria à prisão de cerca de 300 pessoas (números do Relatório das Sevícias), sem contar com os agentes da PIDE. Eram pessoas ligadas à manifestação da Maioria Silenciosa, ao governo ou a organizações do anterior regime e a “partidos e jornais situados à direita, depois do 25 de Abril”. Em Caxias, era a própria “Reacção em cadeia”, nas palavras do Quito Hipólito Raposo à entrada, ainda no pátio, fazendo da tristeza e da tragédia graça.
Os tais “elementos dos partidos e jornais situados à direita depois do 25 de Abril” foram a chave e a razão da operação; uma típica operação comunista, orquestrada com o apoio dos meios de comunicação social, que foram exaltando o já de si exaltado primeiro ministro Vasco Gonçalves e outros líderes do MFA e espalhando desinformação sobre a “conspiração da extrema-direita” e “o golpe spinolista”. Havia que prender todos os que estavam a pôr em perigo a democracia. Motivo do encarceramento? “Associação de malfeitores”.
“As prisões foram efectuadas por forças militares do COPCON, mas também por grupos civis, ou pelo menos orientados por civis. É de registar sobretudo a intensa actividade desenvolvida por um médico, membro do PCP”.
Lá estava ele no relatório, o Dr. Jean-Jacques Valente, o médico, o comissário político que no dia 27 de Setembro acompanhou os emissários da democracia e da liberdade do COPCON que vieram por mim e por muitos outros nessa noite. Era quase Stevenson: The Strange Case of Dr. Valente and Mr. Jean-Jacques.
A inventona de 28 de Setembro não foi mais do que um pretexto da esquerda comunista e da ala mais esquerda do MFA para, alegando golpe e contra-golpe, poder matar no ninho da serpente a direita que se organizava para, ao abrigo das leis da Democracia e em democracia, se bater por uma solução que permitisse salvar o que pudesse ser salvo no Ultramar e do Ultramar. E defender, na Metrópole, a liberdade contra os seus maiores inimigos de sempre: os comunistas e a esquerda radical.
Como consta do Relatório das Sevícias, as prisões dessa noite, geralmente por instigação de militantes do MDP-CDE, foram acompanhadas de denúncias e de mobilização de multidões. O regime restaurador da democracia e das amplas liberdades conseguiria assim a proeza de exibir em Outubro de 1974 mais presos políticos do que os que lá estavam no dia 24 de Abril de 1974.
Nessa noite, quando da visita ao que julgavam ser o meu paradeiro em Lisboa, eu estava em Carmona como alferes miliciano, na Acção Psicológica. Poucas semanas antes do 25 de Abril tinha trocado com um camarada meu, que estava mobilizado. Sendo então um convicto defensor do Portugal ultramarino, não me passava pela cabeça não servir em África. E como me oferecera mas nunca mais me chamavam, resolvi trocar com um mobilizado.
Em Carmona, no Sábado, começaram a chegar as notícias, esparsas, de que na Metrópole se prendiam “reaccionários” ad hoc. Em Angola, Rosa Coutinho procedia também à limpeza e neutralização de quaisquer movimentos políticos que se desviassem da “linha geral” do MFA, vitorioso em Lisboa.
A partir desse 28 de Setembro preparei a fuga para a única fronteira possível – a do Sudoeste Africano, hoje Namíbia. Na Sexta-Feira seguinte, 4 de Outubro, pus-me a caminho. Seguiram-se quatro anos de exílio – na África do Sul, no Brasil e em Espanha.
28 de Setembro. A maioria silenciosa. O "desmantelamento" do MFP-PP
A “maioria silenciosa” e o desmantelamento do MFP-PP
Eventualmente existiu algum diálogo com a Presidência República e com os elementos spinolistas da Junta de Salvação Nacional, sobretudo com o coronel Galvão de Melo- maior entusiasta desta demonstração de força- relativamente às pressupostas movimentações da manifestação da “maioria silenciosa” (Rodrigues, 2010). Estes contactos eram tidos através do embaixador Nunes Barata, assessor diplomático do presidente da república, bem como comunicações com o major Monge e o capitão António Ramos, ajudante-de-campo do general Spínola. Já no domínio partidário, deve destacar-se uma alegada reunião organizada pelo Partido Liberal- apoiante incondicional da manifestação, tendo sido o centro político e grande coordenador civil da mesma-, no Edifício Franjinhas em Lisboa, onde terão estado representados para além deste partido: PPD, CDS, MFP-PP, PTDP, MPP e o Partido Social Democrata Independente (PSDI) (Rodrigues, 2010: 495). Ainda assim, Freitas do Amaral (1995: 242) nega o envolvimento do CDS em qualquer movimentação preparatória da manifestação, referindo apenas um contacto oficioso de dois elementos do Partido do Progresso numa fase já bastante adiantada do processo preparatório.
É nas movimentações prévias à planeada demonstração pública de 28 de setembro que é possível confirmar, pelo menos, uma conduta cooperante do MFP-PP no que concerne à organização desta manifestação, mormente naquele que terá sido o seu ensaio geral: a corrida de touros da Liga de Antigos Combatentes realizada a 26 de setembro. O Banco Espírito Santo terá financiado a compra de bilhetes para a referida corrida de touros, tendo sido distribuídos não só pelo PL, mas também por militantes do MFP-PP.
Parte dos militantes do MFP-PP presentes na tourada tomariam também parte nos confrontos com militantes de extrema-esquerda, sobretudo da UDP, que tiveram lugar nas imediações do Campo Pequeno após o final do evento. Desde a fase organizativa embrionária a comissão organizadora tem disponíveis fundos do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa por ordem direta dos seus donos, não só em nome da comissão organizadora e de elementos do PL, mas também em contas de dirigentes do MFP-PP (Marchi, 2020: 135). De resto, os documentos do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa alegadamente comprovam uma generosa concessão de crédito ao Partido do Progresso que de 6 a 30 de setembro terá recebido dois créditos de 750 contos cada um, numa conta em nome de JCD, um dirigente do MFP-PP, com morada na sede do partido, que supostamente serve de financiamento para a impressão do cartaz da “maioria silenciosa” (Marchi, 2020).
Assim, ainda que de forma velada- não há qualquer dirigente do partido na comissão organizadora- é possível confirmar pelo menos um comportamento colaboracionista para com a organização da manifestação. Não obstante, o comportamento do MFP-PP no 28 de Setembro não deixa de ser complexo, na medida em que politicamente há uma discordância unânime no partido relativamente à realização da manifestação, esgotando todas as vias comunicacionais para persuadir todos os atores políticos envolvidos a pelo menos suspender a realização da manifestação. O MFP-PP tem uma leitura estratégica muito assertiva relativamente à falta de oportunidade da manifestação, e às consequências políticas funestas que dela poderiam advir, preferindo resguardar o partido com vista à participação no processo eleitoral para a assembleia constituinte. Desta feita, recusa “qualquer tipo de actuação que possa revelar oportunismo aventureiro, imediatismo ou total irrealismo”, reprovando “quaisquer atitudes que ameacem o processo de normalização da vida política portuguesa”, rematando de forma lacónica: “Com o sentimento fazem-se revoltas. Com o pensamento fazem-se revoluções”. Só na madrugada de 27 para 28 o MFP-PP torna público o seu apoio com um comunicado que, segundo António Maria Pereira (1976: 113), foi fruto de diligências de Spínola que exortou os dirigentes a tomarem posição. A sede partidária do Porto é saqueada logo na noite de 27 de setembro e os móveis e documentos incendiados na Praça da Liberdade, o que, porventura, terá despoletado a conclusão política aos dirigentes de que apenas lhes restaria avançar. Logo nessa noite são levadas a cabo as primeiras prisões com o beneplácito de Costa Gomes ao encargo da COPCON (Cervelló, 1993: 208). Pese embora este posicionamento do MFP-PP, o PCP escolhe o Partido do Progresso como principal alvo da sua “inventona”, atribuindo-lhe um papel central na busca por armamento para o suposto golpe de estado das direitas (Marchi, 2020: 135).
Desta forma, fracassando a manifestação da “maioria silenciosa” prevista para 28 de Setembro, não hánenhum processo de ilegalização do MFP-Partido do Progresso, mas antes de desmantelamento do partido. Isto é, não houve nenhum procedimento legal, mas sim a utilização do dispositivo militar do estado para o aprisionamento político de todos os principais dirigentes do partido- com o consequente exílio dos que se puseram em fuga do país- e a invasão e posterior assalto dos espaços ocupados pelo MFP-PP, bem como a destruição da grande maioria da sua documentação (Ramos, 2016: 63). Assim, tendo sido efetivadas as detenções na madrugada de 27 para 28 de setembro e ao longo dos dias seguintes, pode, oficiosamente, assinalar-se a extinção do MFP-PP com a ocupação da sua sede nacional, no dia 2 de outubro de 1974 por um piquete da COPCON, com sindicalistas de esquerda simultaneamente a invadirem as instalações da distribuidora da Tribuna Popular e do jornal Bandarra, queimando todas as cópias. A perseguição e ilegalização são também prova da relevância política do MFP-PP e um determinado estatuto de dominância nesta área política, na medida em que outros partidos não foram alvo de represálias de tal ordem: o PTDP não foi alvo de qualquer repressão, sendo que as direções políticas do PDC e MPP escapam praticam incólumes à onda de prisões pós-28 de setembro (Marchi, 2020). No caso do PL, dado ter sido o grande protagonista político-partidário da manifestação, não poderia ter como resistir ou evitar as consequências político-militares.
(Rafael Oliveira Dias – O Percurso do Movimento Federalista Português – Partido do Progresso)
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