sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Os Anos de Chumbo das FP-25 de Abril

esta série multimédia “Os Anos de Chumbo das FP-25 de Abril” é constituída por quatro artigos e três episódios de um podcast especial.  Durante 5 meses, uma equipa do Observador fez dezenas de entrevistas a protagonistas do caso FP25 de Abril. Ouvimos magistrados, vítimas e operacionais para contar a história da organização terrorista que matou 13 pessoas.



terça-feira, 28 de dezembro de 2021

das FP 25 ao Bloco da Esquerda extrema

Antes sequer de começarem a atuar, já tinham uma morte no cadastro. Seguir-se-iam muitas mais: quando a Justiça conseguiu acabar com as FP-25, 13 pessoas tinham morrido vítimas das balas e das bombas da organização terrorista. Esta é a história de como um pequeno grupo de homens e mulheres espalhou o terror em Portugal entre 1980 e 1987. A PJ, o Ministério Público e os tribunais nunca tiveram dúvidas: o seu líder era Otelo Saraiva de Carvalho 

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Pedro Arroja desvenda o programa eleitoral do Partido Chega

 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A imagem move a cultura ocidental e sem imagens, nada atormenta nossas mentes ...

Ninguém sabia o que acontecia na União Soviética. Nenhuma camara filmou os fuzilamentos em massa,os campos do gulag, o Holodomor, a fome na Ucrania, as matança na Chechénia 
A imagem move a cultura ocidental e sem imagens, nada atormenta nossas mentes por isso os crimes de Estaline não suscitaram a mesma reacção visceral que os de Hitler. 
Havia também o conceito que o Ocidente fazia do comunismo: 

Nos anos 30, jornalistas americanos foram enviados para tentar aprender as regras na União Soviética. Um deles, do The New York Times, passou alguns anos por lá e voltou escrevendo que o regime era um sucesso – ganhou um prémio Pulitzer pela reportagem. 
O facto de Estaline ser um dos aliados contra Hitler na Segunda Guerra também ajudou…
Na Rússia actual, não existe nenhum monumento nacional em tributo às vítimas. 30 anos depois do colapso do comunismo na União Soviética, o novo regime não instaurou nenhum julgamento, nenhuma comissão ...
Enquanto na Alemanha pós-nazismo, as atrocidades ficaram na mente das pessoas. Na Rússia pós-soviética, essas memórias são confusas, com a presença de atrocidades que vieram após o colapso económico, com a penúria e os conflitos internos porque esta desinformação é útil para o actual governo.
(Leia mais em: https://super.abril.com.br/historia/o-holocausto-comunista/)

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

André Ventura e a corrupção da justiça (2)

2. A prostituta do sistema
Quando comecei a observar a maneira convicta e vigorosa como o André Ventura denunciava os vícios e a corrupção do sistema, não pude deixar de encontrar algumas semelhanças com a minha própria pessoa, e em breve estava a escrever um post a explicar porque votaria nele nas eleições presidenciais.
A razão principal era a justiça (cf. aqui).
À medida que o tempo foi passando, fui-me convencendo também que o sistema - definido como a aliança implícita entre o PS e o PSD que nos governa há quase 50 anos - nunca iria combater o André Ventura na arena pública do debate e do confronto das ideias, como é próprio de uma democracia.
O sistema está demasiado velho e corrupto, alguns dos seus representantes oficiais e defensores fazem-me lembrar, às vezes, a célebre Brigada do Reumático do tempo do Estado Novo. Ora, um velho corrupto não luta de frente, falta-lhe a força física e a força moral para isso. Um velho corrupto é sempre um cobarde.
Por isso, o meu convencimento era o de que o sistema iria lutar contra o André Ventura, não no espaço aberto do debate público, mas subrepticiamente através da justiça, que o próprio sistema (PS/PSD) tão bem controla. Também aqui havia algumas semelhanças entre o André Ventura e a minha própria pessoa.
Os processos por difamação seriam o instrumento principal, como acontece em todos os regimes totalitários ou naqueles em que as instituições democráticas estão corruptas, como é o caso de Portugal. E não me enganei.
O processo por difamação movido contra o André Ventura pela família Coxi foi o primeiro, e foi um processo cível. A advogada que representa a família Coxi tem todo o aspecto de ser militante do Bloco de Esquerda. Mas outros processos por difamação já estão na calha e estes são processos-crime (cf. aqui e aqui), para além de um outro processo-crime em que ele é acusado de desobediência (cf. aqui).
A diferença acerca dos processos-crime é que eles dão prisão e a acumulação de condenações em processos-crime acabará inevitavelmente por levar o André Ventura à prisão, que é onde o sistema o quer levar. O André Ventura está agora condenado a ter uma votação significativa nas próximas eleições legislativas para se impor ao sistema cobarde e corrupto, ou então parece mais ou menos certo que acabará na prisão
A questão que permanece é a de saber se o André Ventura cometeu algum ilícito em relação à família Coxi para ser condenado pelos tribunais portugueses. Não. Como já expliquei noutro lugar não há ilícito nenhum (cf. aqui). O André Ventura exerceu o seu direito à liberdade de expressão no ardor de uma disputa eleitoral onde a família Coxi estava atravessada no meio, e foi visada por tabela.
A condenação do André Ventura é pura corrupção da justiça. Quando este assunto for levado ao tribunal supremo que decide sobre esta matéria, que é o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), a probabilidade é elevadíssima de que o Estado português (isto é, a justiça portuguesa) seja condenada por ter condenado o André Ventura, e obrigada a anular a sentença.
A justiça portuguesa está ela própria corrupta, é a prostituta através da qual o sistema PS/PSD - apoiado nas suas muletas BE e PCP dum lado, CDS do outro -, combate os seus adversários políticos. A justiça portuguesa tornou-se especialista a condenar inocentes, como o André Ventura, e a deixar criminosos à solta, a alguns oferecendo-lhes todas as condições para que eles possam fugir (cf. aqui).
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2021/12/andre-ventura-e-corrupcao-da-justica-2.html

3. No tempo do Estado Novo
São necessários dois para dançar o tango, e se é verdade que o sistema persegue politicamente o André Ventura através da justiça, também é verdade que no processo da família Coxi, como em outros processos por difamação que estão em curso contra ele, o André Ventura não tem sido bem defendido.
Desde o dia em que se começou a falar deste processo que os advogados do André Ventura, ou alguém por eles, deveriam ter vindo a público invocar a Convenção Europeia dos direitos do Homem (CEDH) que Portugal subscreveu em 1978 (cf. aqui); a jurisprudência do TEDH acerca do confronto entre o direito à liberdade de expressão e a o direito à honra (cf. aqui); e a triste história de condenações do Estado português (leia-se: justiça portuguesa) pelo TEDH sobre este assunto - três vezes superior à média europeia (cf. aqui).
Ninguém o fez. Ninguém veio a público dizer que Portugal é um dos países que mais utiliza a justiça para perseguir adversários políticos; que mais uso faz da difamação para reprimir a liberdade de expressão, que é o direito fundacional da democracia; que mais tem ignorado a recomendação do Conselho da Europa de 2007 para descriminalizar a difamação porque é pela difamação que os regimes anti-democráticos põem os seus adversários políticos na cadeia (cf. aqui).
Ninguém veio falar da triste história que a justiça portuguesa tem no TEDH acerca da defesa do direito à liberdade de expressão. Ninguém veio dizer que, qualquer que fosse a decisão dos tribunais portugueses no caso da família Coxi, essa decisão não era a decisão final e a decisão de justiça; que a decisão final e a decisão de justiça pertence ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e que essa é, com elevadíssima probabilidade, favorável ao André Ventura.
Nos comentários ontem produzidos na comunicação social sobre a decisão do Supremo, quase todos feitos por juristas, não existe um - um só - que refira a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, a jurisprudência do TEDH e a triste história da justiça portuguesa acerca desta questão. O carácter medieval e provinciano da cultura judicial portuguesa considera que o mundo começa e acaba em Portugal e às vezes na terra natal de cada jurista.
No tempo do Estado Novo, existiam restrições à liberdade de expressão, estavam explícitas na lei e todos podiam conhecê-las. O regime do Estado Novo não apregoava a liberdade de expressão. Pelo contrário, o regime democrático apregoa a liberdade de expressão mas depois, cobardemente, utiliza a difamação e corrompe o sistema de justiça para condenar meter na cadeia aqueles que fazem uso dela.
O André Ventura e os seus advogados ainda estão a tempo de recorrer para o TEDH - o prazo é de seis meses a contar do trânsito em julgado da sentença, que foi em Setembro - e de vir a público defender-se da condenação corrupta e injusta de que foi vítima. Mas esta reacção peca por tardia porque uma boa parte dos danos mediáticos produzidos sobre ele e sobre o Chega a propósito desta questão já não são remediáveis.
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2021/12/andre-ventura-e-corrupcao-da-justica-3.html

André Ventura e a corrupção da justiça (1)

1. O título é falso

Em muitos órgãos de comunicação social, a notícia aparece com um título semelhante ao do JN, um dos jornais conhecidos por não querer bem ao Chega e a André Ventura:
Supremo condena André Ventura e o Chega por segregação racial (cf. aqui)
Quem, porém, se der ao trabalho de ler a notícia conclui, logo nas primeiras linhas, que o título é falso. Na realidade, o Supremo não condenou nem deixou de condenar o André Ventura. O Supremo pura e simplesmente não admitiu o recurso.
Na mesma linha bombástica, mas falsa, reportaram outros órgãos de comunicação, como a TSF (cf. aqui) e a CNN (cf. aqui), embora seja justo dizer que também houve quem tivesse reportado com exactidão, como é o caso do Público:
Supremo Tribunal de Justiça recusa reapreciar condenação de André Ventura (cf. aqui),
ou do Observador (cf. aqui).
(Continua) Posted by Pedro Arroja at 09:16
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2021/12/ventura-e-familia-coxi.html

in memoriam: Pearl Harbor

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

valem o que valem...

Se as eleições legislativas fossem hoje (5 de Novembro) 
o PS seria o vencedor (38,5%), sem maioria absoluta, mas com 14 pontos de vantagem sobre o PSD (24,4%), segundo a sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF. A Esquerda continuaria a ser maioritária no Parlamento, com o BE em terceiro (8,8%), à frente do Chega (7,7%). Seguem-se Iniciativa Liberal (4,7%), CDU (4,6%), PAN (2,8%) e CDS (2%).

sábado, 4 de dezembro de 2021

epitáfio do governo ou do Eduardo Cabrita ?

(inclui a entrevista da CNN ao Antonio Costa porque“este é, decididamente, um governo que gosta de aldrabar as pessoas que, ao que nos dizem as sondagens, gostam de ser aldrabadas.) Rui A.
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Depois do escândalo dos incêndios em Pedrógão Grande, do SIRESP, das golas anti-fumo inflamáveis, do SEF, e de tudo o resto, assistir às declarações de Cabrita, a lavar as mãos e deixar o motorista arcar com as culpas e possível pena de prisão, é o maior dos pontos baixos deste ainda governo minoritário e do ainda Partido Socialista nacional.) Sofia Afonso Ferreira
 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Para memória futura 25 de Novembro 1975

O dia 25 de Novembro, que é entendido pela extrema esquerda folclórica como uma tragédia, foi o dia em que pessoas normais, impediram que o nosso Pais se transformasse numa Cuba Atlântica, ou fosse condenada à pobreza e à miseria,

Para outros o dia da derrota dos totalitários, o que é manifestamente verdade,
Julgo que o dia 25 de Novembro significa o dia em que uma extraordinária geração de Portugueses, cumpriram a sua missão,
A geração de portugueses que combateu 13 anos em Africa, que fez o 25 de Abril, e quando foi necessário o ultimo esforço para entregar o Pais ao soberano disseram presente,
Muitos dos homens do Coronel Neves estavam na disponibilidade, foram chamados nos dias que antecederam ao 25 de Novembro, para cumprirem a sua ultima missão, fazer respeitar a vontade da Assembleia Constituinte, a vontade popular, fizeram-no de forma brilhante, com disciplina, contenção e bravura, como o haviam feito durante anos na Guerra Colonial, quando o Pais lhes pediu,
Esta extraordinária geração de Portugueses fez imenso, combateu quando foi pedido, deitou abaixo um regime quando foi necessário, e no meio da confusão, defendeu a democracia,
Cada dia tem um símbolo, o 25 de Novembro o General Neves, e muitos heróis, dois, o Tenente Coimbra e o Furriel Pires foram até ao limite, morreram, impediram uma tragédia, honra lhes seja feita

Para memória Futura fica aqui um artigo de um "marinheiro" negacionista do 25 de Novembro.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

cheias 25 Novembro 1967

eram seis da tarde quando, na Praça da Figueira (seria Martim Moniz), apanhei, de volta, a “excursão de fim-de-semana” que nos levava ao COM em Mafra. Na altura, sem auto-estradas ou vias rápidas, o trajecto era por Odivelas, Loures e Malveira. Uma chuva “miudinha” mas intensa à saída de Lisboa, na Calçada de Carriche transformada em “ribeiro”, deu-nos uma terrível sensação que alguma coisa estava errada. Pressentimento que se confirmou à “porta d’armas” quando nos foram dispensados os “cumprimentos da praxe” e nos ordenaram a mudança imediata para a “farda numero 3”. Cumprida a ordem e formados na Parada – a chuva “miudinha mas intensa continuava- seguimos em “bicha pirilau” para as “arrecadações” onde nos foi entregue uma pá ou uma picareta. As camionetas já nos esperavam e seguiram para vários destinos. Coube ao meu pelotão a zona de Oeiras e por lá andámos 3 ou 4 dias... 
O resto é história. A minha história!

25 de Novembro: as Cheias!

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

O que está a acontecer nas escolas portuguesas?

A degradação da escola pública é uma das consequências mais gravosas da geringonça. 
Percebeu-se rapidamente que as correntes mais esquerdistas iam liderar este campo quando, logo em 2016, contra toda a racionalidade, foi decidido acabar com vários contratos de associação: não era a qualidade da escola que estava em causa, era o seu controlo. 
Ao longo destes seis anos, os dados sobre o desempenho escolar dos alunos foram-se tornando mais opacos; reduziu-se a exigência; o dinheiro gasto não se traduziu em melhores equipamentos ou em melhor ensino (os alunos saem em média mais caros no ensino público que no privado). 
A presente dificuldade de contratação de professores é um dos sinais mais evidentes dessa degradação de que pouco ou nada se fala. (Helena Matos)

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

ainda sobre a (má) reforma das Forças Armadas!

O GREI, Grupo de Reflexão Estratégica Independente, que reúne vários antigos chefes militares, lançou esta quarta-feira um livro crítico da reforma na estrutura superior das Forças Armadas implementada pelo actual Governo, insistindo no debate sobre a mesma.
Durante a apresentação do livro
"A Reforma na Estrutura Superior das Forças Armadas -- Um processo apressado e sem propósito entendível",
o presidente da direcção do GREI, general Pinto Ramalho, considerou que a obra "é suficientemente clara quanto às críticas" relativas à forma como o processo foi conduzido.
ler mais AQUI
À margem da sessão, Pinto Ramalho, fundador do GREI (Grupo de Reflexão Estratégica Independente), instado por jornalistas, também comentou a investigação a militares portugueses por tráfico de diamantes e a má actuação do ministro da Defesa que a ocultou dos Presidente da Republica e do Conselho.
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sábado, 6 de novembro de 2021

Aldeia da Glória - RARET

Em 1951, com o mundo dividido entre dois blocos - um capitalista, encabeçado pelos EUA, e outro, comunista, pela URSS -, uma pacata freguesia portuguesa, Glória do Ribatejo, passou a ter um papel na forma como ele se moldou nas décadas seguintes. Tudo a partir da Raret, um centro retransmissor em onda curta da Radio Free Europe.

Nem mesmo o 25 de Abril de 1974 viria a mudar a conjuntura. Logo depois da revolução, a Raret foi ocupada por um pelotão militar e coube ao capitão Tomás Rosa, da Força Aérea, nomeado pelo Governo, a sua manutenção, que mesmo durante o PREC acabaria por decorrer sem grandes sobressaltos. “Foi criada uma comissão de trabalhadores e, ao contrário do que se passava noutras empresas, ali, o que se pedia era que a Raret continuasse a funcionar”, realça o investigador.

Se, antes da revolução, muitos justificavam o trabalho da Raret como de combate a um inimigo comum, o comunismo, que também o era para Salazar, sobretudo nas colónias, depois, os ares de liberdade foram o que motivou os trabalhadores a promover essa luta no leste da Europa, como recorda José David: “Já depois do 25 de Abril, nós, que tínhamos tido a experiência de viver com censura, sabíamos que o nosso papel era ajudar o leste europeu a conquistar também essa liberdade.”

Foi um trabalho como outro qualquer. Cumpri sempre as minhas obrigações, nunca extrapolei em caso algum e fui sempre muito bem tratado.” João Luís Rodrigues ainda hoje guarda com nostalgia as memórias do tempo que passou na Rádio Retransmissão (Raret), instalada em Glória do Ribatejo, em 1951, onde trabalhou por três décadas. “Ainda hoje tenho boas recordações do tempo que lá passei. Ali vivi, casei e vi o meu filho crescer. Fazíamos uma vida completamente à parte do mundo exterior, mas tínhamos tudo.”

Em 1968, quando pela primeira vez passou os portões do complexo actualmente em ruínas, nada fazia prever que a sua estadia naquela localidade se prolongaria por tanto tempo e que seria hoje testemunha de uma realidade oculta na história portuguesa da segunda metade do século XX. Agora que passam 70 anos da criação da Raret, essa história que se manteve na sombra é trazida à luz em “Glória”, a primeira série de ficção portuguesa com o carimbo da Netflix, com realização de Tiago Guedes e argumento de Pedro Lopes. Ficção à parte, uma história em período de Guerra Fria e de Estado Novo, num século dominado pelas lutas doutrinárias e ideológicas, com vozes e costumes ribatejanos à mistura.

Mas o que foi, afinal, a Raret? Esta exacta questão era a mesma que colocavam muitos dos trabalhadores da Raret quando lá entraram pela primeira vez, mas também por Vítor Madail, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE que, depois de lhe dedicar uma tese de mestrado, está agora a concluir o doutoramento sobre o impacto deste projecto em Portugal. Para encontrar uma resposta teve de recuar 70 anos e até à Herdade da Nossa Senhora da Glória, onde a 4 de Julho de 1951 foi instalado a Raret. O seu objectivo? Combater o expansionismo soviético na Europa e incentivar a libertação dos países de Leste, sob alçada comunista.

Meses antes dessa data, o embaixador dos Estados Unidos em Portugal, Lincoln MacVeagh, fora recebido pelo presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar. A audiência tinha dois propósitos: revelar às autoridades portuguesas os esforços realizados pelos EUA no combate à expansão do comunismo na Europa e, ao mesmo tempo, convidá-las a participar nessa luta, autorizando a construção de um centro de retransmissão em Portugal da Radio Free Europe (RFE), organização fundada em 1949 pelo Governo norte-americano, que a financia até hoje, actualmente com sede em Praga e sob o nome Radio Free Europe/Radio Liberty.

Um combate hertziano
Até hoje não se sabe o que realmente ficou decidido nessa audiência, mas certo é que em poucos meses se deu a constituição da Sociedade Anónima de Rádio Retransmissão, que detinha a Raret, e que se procedeu à implementação de diferentes instalações: um centro receptor na Maxoqueira, que recebia os programas a serem utilizados em contexto propagandístico, o centro retransmissor da Glória e ainda uma sede, localizada na Avenida Padre Manuel da Nóbrega, em Lisboa, onde se realizaram muitas das entrevistas dos novos trabalhadores. É entre as duas primeiras que se passa o primeiro episódio da série produzida pela SPi para a Netflix.

Era o início de um longo combate hertziano. Ao NOVO, o historiador Vítor Madail explica como, no caso português, a implementação da Raret surge em concordância com várias decisões tomadas por Salazar nos anos posteriores ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. “É mais uma peça do puzzle da inserção de Portugal nas políticas norte-americanas. Portugal tinha acedido às negociações do Plano Marshall em 1946, no ano seguinte acedia aos fundos, em 1949 tornava-se membro da NATO e em 1951 faziam-se os acordos da base das Lajes, nos Açores, e do estabelecimento da Raret.”

O período é de transição para a ditadura portuguesa, que pretendia afastar-se das ditaduras de cunho totalitário acabadas de implodir com a guerra e reenquadrar-se num quadro internacional. Para o investigador, é nesse âmbito que se deve olhar para a Raret como exemplo de soft power. O papel de Portugal seria, inicialmente, o de retransmissão de conteúdos provenientes de Munique, na Alemanha.

Era lá que estava a sede da RFE, patrocinada pelo National Committee Free Europe (NCFE) e financiada pela CIA e por fundos angariados pela Cruzada pela Liberdade (Crusade for Freedom), pelo menos até finais da década de 1960. “Repare-se como não permitimos que a partir do nosso território fossem enviadas para outros países soberanos emissões que pusessem em causa essa mesma soberania. O que se fazia era apenas retransmitir. No fundo, fomos apenas um veículo facilitador.”

Ondas de propaganda
A RFE iniciou as suas emissões a partir de Munique, Biblis e Holzkirchen, localizadas no sector americano da Alemanha ocupada, em onda curta e média. Os alvos eram os países da Cortina de Ferro, mas a interferência causada pelos emissores soviéticos era tanta, como de resto retrata “Glória”, que os responsáveis acabaram por encomendar um estudo com o objectivo de identificar localizações alternativas que pudessem melhorar as condições de radiodifusão. É aqui que entra Portugal e, em concreto, a região do Ribatejo, aconselhada pelos engenheiros Manuel Bivar e Henrique Leotte.

A localização central do país no quadro geopolítico, a zona relativamente plana do território nacional e a proximidade ao Tejo e a Lisboa foram aspectos cruciais para que se criasse um verdadeiro circuito que começava em Munique e chegava a Portugal através da Maxoqueira. Era lá que estava José David, um dos operadores do centro receptor, que relembra ao NOVO os desafios que a operação impunha: “Controlávamos os programas que chegavam e tínhamos de ir mudando as frequências porque havia interferências por parte dos russos. Os que estavam na Glória recebiam os nossos sinais. Funcionávamos como um espelho. Recebíamos e mandávamos os programas em UHF. O desafio era encontrarmos forma de passar estes sinais na melhor qualidade possível para darem o salto.”

Em onda curta, cada salto, explica José David, podia percorrer cerca de mil quilómetros, ao reflectir-se nas camadas da ionosfera, permitindo que os conteúdos fossem audíveis na Polónia, Checoslováquia, Hungria e Roménia. “Dependendo da forma como estavam orientadas as antenas, era assim que lá chegava a propaganda americana.” Mas a Raret não estava sozinha nesta guerra. Em Portugal também se podia escutar a Rádio Moscovo e emissões de rádios britânicas ou alemãs que não se coibiam de contornar a censura, mesmo que isso não fosse do agrado do regime do Estado Novo.

Secreto... e com espiões?
Com o passar dos anos, a Raret tornou-se um verdadeiro complexo, uma “base americana”, sustenta Vítor, onde havia supermercado, campos de futebol e de básquete, uma piscina, uma clínica, uma maternidade e uma escola industrial, o que motivava o tom elogioso da imprensa local face ao contributo social da empresa para a região. Os jardins das casas eram cuidados por jardineiros e mesmo em tempos de maior crise havia abundância dos produtos que os salários “acima da média” permitiam comprar.

Essa “fachada” contribuía para o desviar de atenções. Como uma mão lava a outra, a Raret investia continuamente na região: a primeira luz eléctrica em Glória do Ribatejo foi instalada ainda nos anos 50. E também uma casa do povo, a junta de freguesia, o campo de futebol e a sede do clube local, construídos a expensas da Raret ou em terrenos cedidos pela empresa. Ainda hoje, Glória do Ribatejo é atravessada por uma avenida chamada Estados Unidos da América, como lembrança desses tempos.

Sobre aquilo que verdadeiramente ali se fazia, João Luís Rodrigues e José David, que se cruzaram como colegas, sublinham que nunca lhes foi ocultado o propósito das suas funções, mas que o desconhecimento das línguas em que vinham os programas também não lhes permitia um conhecimento mais profundo da realidade em que participavam. “Aquilo, para nós, era chinês. Não sabíamos o que se passava. Não sabíamos se haveria guerra ou não, estávamos só a fazer o nosso trabalho.”

Já a possibilidade de terem existido espiões, como sugere a premissa de “Glória”, o historiador Vítor Madail não tem como confirmar. Não há, pelo menos, evidências históricas disso. “O que houve foi tradutores dos países para os quais emitiam, porque muitas vezes era necessário fazer acrescentos de última hora às peças que saíam. Os operadores, aqui, não sabiam aquelas línguas. Era necessário ter pessoas que falassem polaco, húngaro ou checo para dizer ‘corta aqui’, ‘acrescenta ali’.”

Nem mesmo o 25 de Abril de 1974 viria a mudar a conjuntura. Logo depois da revolução, a Raret foi ocupada por um pelotão militar e coube ao capitão Tomás Rosa, da Força Aérea, nomeado pelo Governo, a sua manutenção, que mesmo durante o PREC acabaria por decorrer sem grandes sobressaltos. “Foi criada uma comissão de trabalhadores e, ao contrário do que se passava noutras empresas, ali, o que se pedia era que a Raret continuasse a funcionar”, realça o investigador.

Se, antes da revolução, muitos justificavam o trabalho da Raret como de combate a um inimigo comum, o comunismo, que também o era para Salazar, sobretudo nas colónias, depois, os ares de liberdade foram o que motivou os trabalhadores a promover essa luta no leste da Europa, como recorda José David: “Já depois do 25 de Abril, nós, que tínhamos tido a experiência de viver com censura, sabíamos que o nosso papel era ajudar o leste europeu a conquistar também essa liberdade.”

O tempo dos satélites
Os anos 80 foram de grandes mudanças para o sector das telecomunicações. O aparecimento dos satélites facilitava a transmissão, o que levou ao abandono progressivo da Maxoqueira, primeiro transformada também em centro retransmissor e posteriormente desactivada. Restava o centro da Glória, que mantinha as suas funções numa altura em que os avanços tecnológicos iam já permitindo outras possibilidades. A Raret passou a ter mais capacidade de alcance e, com o início da Guerra do Afeganistão, a RFE passou também a produzir programas em farsi, destinados aos territórios invadidos pela União Soviética. Paralelamente, a Raret passou a emitir programas da Antena 1 para as comunidades portuguesas localizadas nestes países.

A queda do Muro de Berlim, em 1989, e o fim da União Soviética (que as personagens de “Glória” vão prevendo) precipitaram o fim da Raret. José David conta como ainda guarda em casa a carta que marca o fim de um percurso com mais de 20 anos, assinada pelo Presidente norte-americano na altura, Bill Clinton. Mas não é caso único: em 1994, face ao fim anunciado, todos os trabalhadores receberam uma igual. Em forma de louvor, Clinton agradece-lhes pelos bons serviços prestados em prol do desenvolvimento da democracia nos países da Europa de leste e na ex-URSS: “The world will feel the impact of your loyal service and your dedication to the cause of freedom for years to come.” [“O mundo sentirá por muito tempo o impacto dos vossos leais serviços e da vossa dedicação à causa da liberdade.”]

Para um punhado de trabalhadores surgiu ainda a oportunidade de fazerem parte da equipa de instalação dos emissores da Raret nas Ilhas Marianas do Norte, onde é criada a Radio Free Asia, em 1996. Vinte e cinco anos depois da última emissão feita a partir de território nacional, restam as lembranças e a nostalgia de um trabalho “como todos os outros”, mas que dava forma a uma verdadeira aventura nos bastidores da Guerra Fria.
Por Ricardo Ramos Gonçalves em 05.11.2021 no NOVO

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Revolução húngara de 1956

História para os mais novos e para os putos e as chavalas a quem a extrema-esquerda colocou antolhos (ou vendas)


domingo, 31 de outubro de 2021

A semelhanças são mais que as divergências...

As recordações do que aconteceu em 2011 devem causar suores frios à gente do Bloco. Já o PCP assiste apreensivo à corrida do seu eleitorado para o Chega, tanto nos subúrbios de Lisboa como no Alentejo.
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O fenómeno não é novo (sucedeu em França com o PCF e a RN) porque estas forças políticas, sejam à esquerda ou à direita, não deixam de colocar o Estado no topo da equação, não deixam de ter uma visão socialista da sociedade, da vida em comunidade, da forma como se governa um Estado. A semelhanças entre o Chega e a extrema-esquerda, principalmente o PCP, são mais que as divergências que o confronto directo aparenta. (in “Pior que 2011” de André Abrantes Amaral)

à espera de azulejos?


Rua Marquês de Fronteira
com 
Avenida Miguel Torga.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

serviu o Costa, mas o recreio acabou!!!

O desespero do Governo [minoritário] para aprovar o Orçamento de Estado (OE) para 2022, um ministro da Defesa vaiado pela tropa, um primeiro-ministro obrigado a pedir desculpa aos patrões, caos nos hospitais (que são recorrentes) e o anúncio em catadupa de greves da função pública, médicos, enfermeiros e professores em Novembro (culminando tudo com uma manifestação nacional da CGTP).
A geringonça foi uma mentira que durou 6 anos e que só serviu o Costa.
O país regressou ao pântano mas em pior estado: nenhum problema se resolveu, só se atirou dinheiro para cima dos problemas.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

cercas, testes rápidos e previsões!

a infografia mostra o resultado entre 15 e 16 de Julho (identico ao dos dias anteriores) e, por isso, a subida de infectados nos escalões 2 a 5 (10 a 49 anos) parece merecer outro tipo de atenção diferente das “cercas” e dos testes “à entrada” dos restaurantes.
e, a “talhe de foice” também, tenho direito a fazer previsões:
Com os dados agora disponíveis admito que a totalidade da população legalmente residente esteja totalmente inoculada a 100 % em 25 de Outubro e totalmente vacinada a 13 de Dezembro
(publicado no feicebuque em 18Julho 15.00)

Camara de Municipal de Lisboa: Os boys e as boyas!

Fernando Medina é acusado de fazer crescer a autarquia em cerca de 20% no último ano em que presidiu à principal câmara do país e... é verdade!
... os números estão correctos! 
Se foi assim na Camara Municipal de Lisboa imagine (ou faça contas) ao que se passa noutras autarquias e no governo nacional socialista
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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Teixeira Branquinho, o diplomata esquecido!

Obviamente desconhecedora da Historia de Portugal (e da Europa) a burmedjus Joaquina Moreira destapou um ninho de vespas que, por exemplo a Maçonaria (Regular), por boas razões, nunca quiz abrir e agora alguém, que se espera não seja alérgico, irá levar algumas picadas. 
(às vezes pergunto-me se para se ser deputado a iliteracia na História é obrigatória!) . 

“Que se faça justiça a Aristides Sousa Mendes, mas não é necessário esquecer Teixeira Branquinho, por uma simples razão, é profundamente injusto, uma vergonha, Os Húngaros consideram Teixeira Branquinho um herói, por cá não, e nós é que sabemos, afinal não fomos ocupados pelo Alemāes, não houve perseguição a judeus, não tivemos a guerra, nós é que sabemos, os Húngaros não, nem a comunidade judaica de Budapeste, que tristeza”

 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

porque foi precisa a Ditadura Nacional (e posteriormente o Estado Novo?

Teoricamente este pedaço de história faz parte do programa do 9º ou do 12º anos de escolaridade mas quer os  "manuais/resumos escolares", quer o "guião para os professores do ensino secundário" do chamado Ministerio da Educação não lhe merece mais que meia dúzia de linhas...
Há 100 anos a I República vivia a “noite sangrenta” e a sua morte moral. Não é possível compreender o Estado Novo sem conhecer essa violência infame, mas nas nossas escolas pouco se fala desses dias. 
Se considerarmos que todos os assassinados eram antigos "sidonistas e opositores dos democráticos do Partido, com esse nome, do Afonso Costa podemos inferir quem foram os mandantes..
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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Noite Sangrenta!

Na noite de 19 de Outubro de 1921, um grupo de marinheiros e guardas republicanos percorre as ruas de Lisboa naquela que viria a ser conhecida como a “camionnette fantasma”. Liderado pelo cabo Abel Olímpio, conhecido pela alcunha de “Dente de Ouro”, o bando assassina várias figuras políticas e militares. Incluindo os heróis da revolução de 1910, Machado Santos e Carlos da Maia. Os crimes chocam o país. Os jornais chamam-lhe a “Noite Sangrenta”.
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Os homens da camioneta são julgados e são condenados, mas nunca chegam a ser reveladas as identidades dos conspiradores que encomendaram as mortes. Berta Maia, a jovem viúva de Carlos da Maia, recusa-se a aceitar a passividade dos tribunais e decide investir contra tudo e contra todos em busca da verdade. Após várias tentativas consegue visitar Abel Olímpio na prisão e depois de uma sucessão de encontros, ganha a confiança do assassino do seu marido e fá-lo confessar.
Mas à verdade nem sempre corresponde a justiça.
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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

José Manuel Fernandes e o OE2022 em Contra Corrente!

Libertos da censura imposta pelos 15M de euros à imprensa a que temos direito e longe da tenebrosa máquina de propaganda do minoritário partido nacional socialista nacional em Contra Corrente José Manuel Fernandes, Helena Matos, Jorge Fernando e Ouvintes com "bom senso" comentam a trapalhada que está a ser o OE2022
- A crise política pode estar mesmo à porta, depois de um fim-de-semana em que a temperatura política subiu.
- Todos querem o Orçamento aprovado, mas ninguém o quer aprovar, e a culpa é de António Costa.

Rebelo de Sousa e o OE2022 e o intocável Eduardo Cabrita

1 - Marcelo avisa que chumbo do Orçamento pode conduzir a eleições e "Colocou a estabilidade do país na mão dos partidos"?
[contra todos uma opinião do Rui Pedro Antunes que tem por hábito errar…]
2 - Quatro meses depois do acidente, António Cabrita continuar "intocável".
O acidente e impunidade do Eduardo Cabrita, quatro meses depois, na quase sempre acertada visão de Paulo Ferreira


sábado, 16 de outubro de 2021

A Bandeira Portuguesa em Timor


Timor-Leste ocupa meia ilha ao norte do Continente Australiano, com uma área aproximadamente de 16.00 km2, possui cerca de 20 dialectos e várias etnias. Portugal esteve em Timor de 1515 a 1975.
A pacificação e ocupação efectiva de Timor apenas se deu a partir dos finais do Sec.XIX. A diversidade linguística e de povos, o seu estado de desenvolvimento social, bem como as difíceis ou inexistentes vias de comunicação dificultaram sempre a pacificação dos aguerridos habitantes. E quando a paz, a muito custo era conseguida, logo era quebrada por violentos confrontos inter-reinos, ou entre estes e a administração portuguesa. Não movida por qualquer princípio de “luta de libertação” contra os malai (estrangeiros), mas tão-somente pela necessidade de se guerrearem. Esta acção bélica era de natureza cultural e económica, já que a tomada de gados, escravos e outros haveres aos reinos vizinhos foi sempre um modo ancestral de estar na sociedade timorense de então.
Alguns governadores tentaram formas de ampla pacificação, mas sem resultado. Somente o Major Celestino da Silva (1894-1908) iniciou com êxito tal tarefa. Homem que conheceu Timor e os timorenses como poucos, constatou a diversidade das nações que compunham o território e percebeu que só com a coesão dos timorenses se conseguiria a efectiva pacificação, condição essencial para o progresso da Colónia.
Para tanto, o Grande Celestino, ou o Rei de Timor – como ficou conhecido – implementou junto dos povos o culto ao simbólico: Bandeira, Pátria, Rei, que evoluíram para valores de mitos considerados lulic (sagrados). Fez explicar que esses símbolos identificavam todos aqueles que eram considerados portugueses. Se o rei em Portugal era considerado um símbolo vivo, estando distante, nunca foi visto pelos timorenses. A Pátria transmitida como o conjunto dos povos que reconheciam o mesmo soberano como seu, e que tinham a mesma bandeira. Bandeira essa que ali estava em Timor e podia ser vista por todos como também a SuaBandeira. Esta capacidade identificativa de um símbolo de coesão nacional é de primordial importância para os nacionais em qualquer canto do mundo, e muito mais o foi no longínquo Timor. Lá ganhou mais do que o normal respeito que o símbolo nacional merece. Teve foros de sagrado, de mito, quase dogmático, pois não é preciso explicá-lo no todo ou em parte: facilmente dele se apreende a identidade que representa e a emoção que nele sentimos.
A Bandeira Portuguesa foi em Timor, sem dúvida, um símbolo intocável!
…E não esqueço aquela noite em Aileu no longínquo Outubro de 1974, após visita de um malai boot liu como era o Ministro Almeida Santos. As bandeiras nacionais trazidas pelas povoações à recepção de tão ilustre visitante, repousavam respeitosamente de encontro a uma árvore de canela defronte ao posto dos correios, devidamente guardadas por dois guerreiros (assua’in) armados de espadas.
Um infeliz timorense, talvez sob efeito do álcool ingerido e pela euforia libertadora desses tempos revolucionários, ousou desafiadoramente tocar-lhes. O atrevido viu a sua mão decepada por golpe certeiro por uma das espadas de guerra (suric).
Para além dos poucos que tiveram conhecimento do caso, não houve grandes comentários ou sequer queixa apresentada às autoridades administrativas ou policiais…

Mais recente e que toca profundamente é o seguinte episódio que inseri no livro “Monumentos Portugueses em Timor-Leste”:
Carta recebida pelo adido militar na Embaixada de Portugal em Díli, Cor. Carlos Aguiar. (o português foi ligeiramente corrigido para melhor inteligibilidade do texto)

"EX. EXCELENCIA SENHOR CHEFE DE ACAIT QUE ESTÁ EM DILI TIMOR- LESTE
1. O meu Pai, Marcelino Babo, foi Soldado de Segunda Linha no Ano de 1973 até 1975, ou seja, trabalhou cerca de 3 anos como Soldado de Segunda Linha.
2. O meu Pai Marcelino Babo, em 1975, recebeu ordem de Estado Português no Posto de Lete-Foho para fazer Segurança na Fronteira em Maliana, no Quartel Segunda Linha de Tunu-Bibi.
3. Numa manhã cedinho, mais ou menos às 5 horas, eles fizeram patrulha na Fronteira. De repente apareceram os Tropas da Indonésia de arma na mão. Dali eles voltaram para quartel, arrumaram as coisas deles e fugiram, cada qual seguindo o seu rumo, menos o meu Pai Marcelino Babo que não fugiu ainda, por razão de a Bandeira Nacionalidade Portuguesa ainda esta no ar. Dali ele desceu a Bandeira Nacionalidade Portuguesa, embrulhou muito bem e fugiu para Posto Lete-Foho, e seguiu para casa onde ele morava.
4. Em 1978 os Tropas da Indonésia foram a nossa casa, a fazer inquérito ao meu Pai Marcelino Babo, sobre a sua arma bem como a bandeira, negou que tanto a arma como a Bandeira de Nacionalidade Portuguesa, não estava na mão dele. Por isso os Tropas de Indonésia ficaram furiosos e deram pancadas, coronhadas com arma até meu Pai Marcelino Babo ficar aleijado. O meu Pai Marcelino Babo, entregou então a arma para as Tropas da Indonésia, menos a Bandeira Nacionalidade Portuguesa é que ele não entrega. Com o sofrimento provocado pela agressão, ele veio a morrer no ano de 1982.
5. Antes de o meu Pai Marcelino Babo morrer, o meu Pai ainda me chamou e como eu sou a filha mais velha, o velhote disse para mim: "que essa Bandeira de Nacionalidade Portuguesa, e você como minha filha mais velha, você tem de guardar muito bem, e um dia mais tarde, quando chegar o Dono dessa Bandeira , você tem de entregar outra vez ao Dono. Porque eu sei muito bem que o Dono dessa Bandeira, cedo ou tarde há-de chegar, há-de voltar".

...e a Bandeira Nacional foi entregue na Embaixada de Portugal, pela filha do Marcelino Babo que não quis que a mesma fosse apoderada pelos invasores. Durante esse tempo, ficou escondida em vários locais, servindo de travesseira, colchão ou mesmo enterrada: - O pedido foi cumprido!

Exemplos destes felizmente para os Portugueses e Timorenses, não foram únicos. Em muitas casas lulics ainda se encontram bandeiras e artefactos dos Maiores de ambos os Povos, que um dia, numa prova de confiança, foram entregues aos Timorenses, pela sua proximidade, dedicação e respeito às Gentes Lusitanas, representadas num símbolo que entenderam sempre como um elemento de coesão nacional.
Foi assim o Timor Português.

Nota final: A bandeira encontra-se actualmente à guarda do Museu Militar em Lisboa.
Rui Brito da Fonseca
Oficial Miliciano em Timor 1973/75
Ex-Adido para a Cooperação na Embaixada de Portugal em Díli.
Autor do livro “Monumentos Portugueses em Timor-Leste”

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Lepanto

Foi a 7 de Outubro de 1571 que, na recortada costa sudoeste da península grega, à entrada do golfo de Lepanto e não longe da cidade que hoje se chama Nafpaktos, se travou uma batalha naval decisiva para o futuro da Europa e do mundo.
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A Europa do século XVI estava dividida por linhas religiosas e políticas, isto é, por convicções e interesses. Carlos de Habsburgo, Carlos I de Espanha e Carlos V da Áustria, reunia na sua pessoa as coroas de Espanha e do Sacro-Império. Tentara a hegemonia europeia e por isso tivera de enfrentar a França de Francisco I e os príncipes alemães protestantes em duelos sucessivos. O Imperador levara uma vida de guerras e negociações, da vitória de Pavia ao saque de Roma, da batalha de Mühlberg à paz de Augsburgo, em que se confirmara a divisão religiosa do Continente.
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O Império Otomano estava a sueste da Europa e desde que Maomé II, em 1453, tomara Constantinopla, começara a ofensiva para Ocidente, por terra e por mar. Solimão, o Magnífico, conquistara Belgrado em 1521 e a Hungria em 1526, depois da batalha de Mohacs. Quando pusera cerco a Viena, em 1529, a sensação de perigo subira entre os cristãos. O Inverno obrigara os turcos a retirar, mas, em 1566, Solimão, já septuagenário, voltaria a querer tomar Viena. Mas morreria antes de tentar o cerco.
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O sucessor, o seu filho Selim II – que teve os cognomes pouco magníficos e pouco vulgares para um príncipe muçulmano de Selim, o Bêbado, e Selim, o Louro ­ – decidiu prosseguir a marcha para Ocidente, sempre por mar e por terra.
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Selim era filho de Solimão e da sua esposa preferida, uma cristã da Ruténia, filha de um padre ortodoxo, chamada Anastasia Lisowska. Anastasia fora raptada e vendida como escrava para o Harém mas, graças à sua inteligência e à sua beleza, que Ticiano retrataria em “La Sultana Rossa”, tornou-se a primeira mulher da Corte de Istambul, conhecida pelo nome de Hurrém Sultana e Roxelana. Além de Selim, Roxelana deu outros cinco filhos a Solimão e conseguiu que os seus meios-irmãos fossem sendo afastados ou eliminados de modo a que fosse ele a suceder ao pai.
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Os turcos tomaram Rhodes por mar em 1522 e cercaram Malta em 1565. Em 1570 atacaram Chipre e em 1571 completaram a conquista, tomando Famagusta aos venezianos. Para conseguirem a rendição de Famagusta, prometeram ao governador da praça, Marco Antonio Bragadin, que o deixavam sair em paz com a guarnição e a população civil – mas depois acharam por bem cortar-lhe o nariz e as orelhas, passearem-no pelas ruas agrilhoado e humilhado e esfolarem-no vivo.
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O Papa Pio V (um papa austero, consciente dos abusos dos seus predecessores renascentistas, canonizado em 1712 por Clemente XI) quis enfrentar a ameaça turca através de uma aliança de poderes católicos. A Santa Liga foi formalmente estabelecida em 25 de Maio de 1571, ainda com o propósito de resgatar Chipre. O pacto era entre os Estados papais, a Espanha de Filipe II, as Repúblicas de Veneza e Génova, os ducados de Saboia, Urbino e Parma e os Cavaleiros da Soberana Ordem de Malta.
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Apesar de convidados, o Sacro Império, a França e Portugal não entraram na Aliança: o Sacro Império assinara recentemente um tratado de paz com os turcos; a França tinha por inimigo principal os Habsburgo, e até se aliava aos turcos; Portugal considerava-se já suficientemente empenhado no esforço contra o Islão em Marrocos e no Oriente. Mas uma das galés da Ordem de Malta foi capitaneada pelo português Luís Mendes de Vasconcelos.
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A armada cristã, chefiada por D. João da Áustria, filho bastardo de Carlos V, reuniu-se em Messina, na Sicília, e daí navegou até ao golfo de Patraikos, perto de Lepanto. Eram 210 barcos de guerra, equipados com canhões e levavam 30 000 soldados, na sua maioria venezianos e espanhóis. D. João da Áustria comandava o centro, o genovês Andrea Doria, ao serviço do Papa, a ala direita, e o veneziano Agostino Barbarigo, a ala esquerda. Na reserva, ficava D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz. As galés aliadas misturavam-se neste dispositivo, mas 90% das forças eram venezianas e espanholas.
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A frota turca, comandada por Ali Paxá, era ligeiramente superior à da Liga, com 230 galés. O confronto deu-se à boca do golfo, com o choque e a abordagem das galés, quase transformando a batalha naval numa batalha campal de infantaria, travada nos conveses dos barcos. A Sultana, de Ali Paxá, abordou o El Real de D. João da Áustria, mas Ali Paxá foi morto e a sua nau-almirante tomada. Apesar da reacção de almirantes muçulmanos, como o paxá de Argel, Uluch Ali – que comandava a ala esquerda turca, em frente a Doria, e penetrou a linha cristã, causando sérias perdas às galés da Ordem de Malta –, a reserva de Santa Cruz reequilibrou a situação e Ali teve de retirar para mar aberto, salvando umas 40 naves.
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Consta que, na indecisão da batalha, D. João da Áustria deu ordens para que os remadores das galés – cristãos condenados por delitos comuns – fossem libertados e armados, com a promessa de que, se vencessem, ficariam definitivamente livres. A ordem foi recebida com escândalo pelos oficiais espanhóis, entre todos por Santa Cruz, mas D. João, como filho do Imperador e irmão do Rei, impôs a sua vontade. E assim se terá arregimentado uma reserva estratégica decisiva.
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Um grande feito e uma Graça
Ao tempo, a vitória do Lepanto foi vista e saudada como um grande feito humano e guerreiro, mas também como uma graça de Deus, pela intervenção da Virgem Maria, Nossa Senhora do Rosário e das Vitórias. O vocativo “auxilium cristianorum” foi então introduzido na Ladainha da Virgem. O motor desta aliança fora o Papa.
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Pio V, Michele Ghislieri, dominicano, inquisidor feito papa em Janeiro de 1566, era um homem de grande fé. Defensor da ortodoxia, empreendeu uma campanha severa contra os abusos, luxos e pompas da cúria de Roma e procedeu a uma série de diligências contra a simonia, a blasfémia e a sodomia entre o clero. Em contraste com os seus predecessores imediatos, preocupou-se com o bem-estar do povo de Roma, despendendo grandes somas para acudir às fomes e carências na cidade. E combateu a ameaça protestante em toda a sua extensão, opondo-se ferverosamente aos huguenotes franceses e excomungando a rainha Isabel I de Inglaterra. Foi a firme aliança que estabeleceu com Filipe II de Espanha que esteve na base da Santa Liga.

A vitória de Lepanto foi exaltada por toda a Cristandade. A mensagem do sucesso chegou a Filipe II, que estava no Escorial (ainda por terminar), ao princípio da tarde de 31 de Outubro de 1571. Os portadores da boa nova percorreram 3.500 quilómetros a uma média, então sem precedentes, de 150 quilómetros por dia. Filipe II rejubilou com a vitória e encomendou a Ticiano um quadro comemorativo. A vitória foi celebrada por toda a Europa em mais de meia centena de pinturas de artistas contemporâneos, como Vasari, Veronese, El Vicentino, El Greco, Tintoreto e muitos outros.
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O remador cativo de Cervantes
A literatura também não esqueceu a batalha. Cervantes, que foi ferido em Lepanto, chamou-lhe, no “Prólogo al lector” das Novelas Ejemplares (1613), “la mas memorable y alta ocasión que vieron los passados siglos, ni esperan ver los venideros”. E, no seu livro de poemas, Viaje del Parnaso, põe Mercúrio a dizer-lhe, a ele, Cervantes, autor-protagonista: “Bien sé que en la naval dura palestra / perdiste el movimento de la mano / isquierda para gloria de la diestra”.
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Mas já no Quijote (1605), no “discurso verdadeiro” do cavaleiro Ruy Pérez de Viedma, Cervantes celebrara a batalha histórica. Na narrativa de Viedma, “aquele dia”, o dia de Lepanto, provara que os turcos não eram invencíveis. Ruy de Viedma não tivera a sorte dos cristãos vitoriosos: ficara prisioneiro dos turcos, servindo como remador forçado. É este o estratagema que permite a Cervantes passar para o “lado de lá”, contar a história a partir do campo do inimigo – e formular críticas à política imperial da Espanha dos Áustrias e à obstinação das celebrações retóricas. Para ele, os grandes feitos não precisavam de celebrações: quando eram verdadeiramente grandes, impunham-se.
Cervantes levava a batalha a peito, daí que a sua curta referência a Lepanto em Don Quijote surja como uma espécie de interlúdio sério no meio da sua sátira generalizada, caucionada por Sancho, aos livros “de caballerias”.

O Rei, o Bardo e a expedição vitoriosa
Em Inglaterra, uma das repercussões da vitória de Lepanto foi o poema “The Lepanto”, do futuro Jaime I, a saudar a vitória da Santa Liga. Jaime VI da Escócia, que, pela morte de Isabel I, em 1603, se tornaria também Jaime I de Inglaterra, era um pensador e escritor de talento, continuador da idade de ouro isabelina e impulsionador da tradução inglesa da Bíblia (a célebre King James Bible).
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Shakespeare era um génio prudente, atento aos riscos e às vantagens da relação com o poder; ou seja, atento às penas da censura isabelina e às vantagens de permanecer nas boas graças do seu sucessor. Ora, tendo o poema do rei Jaime sobre Lepanto sido republicado em 1603, Shakespeare, que conhecia a simpatia do novo Rei pela batalha, não quis deixar de trazer a guerra da Sereníssima contra os turcos para as suas peças. Much Ado About Nothing começa em Messina, depois de Lepanto; e, em Othelo, a expedição vitoriosa de que regressa o shakespeariano “mouro de Veneza”, experimentado capitão mercenário, pode bem ser a grande vitória contra os turcos.
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Os repetidos confinamentos causados pelas sucessivas pestes de Londres davam ao Bardo frequentes ocasiões de leitura e investigação, e Shakespeare terá tido conhecimento da descrição de Lepanto de Richard Knolles na sua História do Império Turco, publicada em Londres, em 1603, sob o copioso título The generall historie of the Turkes from the first beginning of that nation to the rising of the Othoman familie: with all the notable expeditions of the Christian princes against them. Together with the lives and conquests of the Othoman kings and emperours.
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Ali, Knolles sublinha os horrores da batalha, o mar tinto de sangue e o medo dos turcos, que descreve como inimigos jurados da civilização e da Cristandade, à espreita da guerra “como o leão bíblico”. Shakespeare também terá lido os contos de Giovanni Battista Giraldi, conhecido por Cinthio, Gli Hecatommithi. Dois desses contos – “Desdemona and the Moor” e “Egitia” – têm tudo para terem sido fontes importantes para Othelo.
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Ter-lhe-á vindo daí, por exemplo, a ideia de um casamento misto ou intercultural, como a união de Otelo e Desdémona. Com um profundo entendimento da natureza humana, na sua permanente oscilação entre Deus e o Demónio, Shakespeare recriou em Othelo a figura do vilão Iago (que na narrativa de Cinthio, menos subtil, age mais por ciúme e despeito do que por inveja), sob o pano de fundo da guerra pelo Mediterrâneo e da alegria dos cristãos com a vitória sobre os turcos.
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Os novos Lepantos
Não creio que valha muito a pena, na sua celebração, estabelecer retóricas paralelas com a Europa de hoje perante o Islão de hoje. Até porque, hoje, a grande ameaça à civilização não vem de fora, vem de dentro; não vem das armas, vem do irrealismo e do simplismo das ideias que alguns nos querem autocraticamente impor. E vem também da apatia dos que já não defendem nada nem ninguém e da desistência e da falta de comparência dos muitos que, discordando e dissidindo, se calam, se rendem, se conformam. São estes os novos Lepantos. Os nossos Lepantos. Os que nos devem convocar para o combate.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Cavaco Silva: Avisos

Desde 1995 que o país é governado pelo Partido Socialista, tirando apenas férias quando o país estava de " tanga" no pós Guterres ou na bancarrota de Sócrates. [...] Goste-se ou não de Cavaco, este seu último artigo publicado no Expresso é mais uma pedrada no pântano económico, politico e social em que o país se encontra. Infelizmente, por mais clarividente e assertivo que possa ser a sua argumentação encontrará sempre o grupo de (verdadeiros) negacionistas e relativistas do costume que, ao invés de se concentrarem na importância da mensagem, procuram matar o mensageiro. Uns, por sectarismo ideológico, outros - quais arautos da intelectualidade, procurarão atribuir a Cavaco a sua quota de responsabilidade para este estado de sítio, quando, em bom rigor, Portugal recebeu muito mais dinheiro oriundo dos fundos europeus no pós Cavaquismo.
 

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

um ainda mais venerável presidente


Féfé Rodrigues 
O Venerável Presidente Rebelo de Sousa terá de ser submetido a nova uma intervenção cirúrgica. Pelo menos, é isso que avança a revista (de mexericos) 'Nova Gente'.
Será mais uma operação a mais uma hérnia, mas ao que parece não é urgente!