sábado, 30 de dezembro de 2023

Marcelo negativo pela primeira vez

Presidente está em queda desde outubro. Já só lhe sobram os eleitores do PSD .

Adivinhava-se que poderia acontecer e o barómetro de dezembro da Aximage para o DN, JN e TSF confirma: Marcelo Rebelo de Sousa regista, pela primeira vez, um saldo negativo na avaliação dos portugueses (mais notas negativas do que positivas). O único segmento da amostra em que o Presidente se mantém acima da linha de água é entre os eleitores do PSD.
Depois de um pico de popularidade, em julho passado, na sequência do conflito com António Costa e do "deplorável" episódio que envolveu João Galamba, o Presidente começou a acusar o desgaste. Perdeu fôlego na avaliação de outubro e, em novembro, depois de decidir dissolver a Assembleia da República e antecipar as eleições, só conseguiu quatro pontos de saldo positivo. Em dezembro, com o caso das gémeas luso-brasileiras a marcar a agenda mediática, passa para um saldo negativo de 17 pontos.
Quando se analisam os segmentos geográficos, Marcelo está no vermelho em todas as regiões: o Centro continua a ser o terreno mais favorável (saldo negativo de dois pontos) e o Porto o mais cáustico (saldo negativo de 34 pontos). A tendência para uma menor tolerância entre os homens volta a confirmar-se (saldo negativo de 26 pontos), mas a novidade deste barómetro é que também as mulheres fazem agora uma avaliação negativa do Presidente da República (saldo negativo de 10 pontos).
Se se tiver em conta as preferências partidárias dos eleitores, Marcelo só se mantém à tona entre os sociais-democratas (embora com uma erosão significativa, de 37 para 7 pontos de saldo positivo). Os eleitores socialistas, que foram o principal pilar da popularidade do Presidente, abandonaram-no definitivamente (de 46 pontos de saldo positivo em outubro, para 20 pontos de saldo negativo em dezembro).[Rafael Barbosa 30 Dezembro 2023)

Diário de Noticias: Avaliação aos oito anos de Governo de Costa é positiva

António Costa chega ao fim do seu tempo como primeiro-ministro com saldo positivo entre os portugueses. De acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, são mais os que dão boa nota (41%) aos seus oito anos de Governo, do que os que fazem uma avaliação negativa (36%). São também em maior número (39%) os que acreditam que o seu desempenho terá um efeito positivo nos resultados do PS, mesmo que a maioria (48%) entenda que não deve participar na campanha.
O país foi abalado por uma inédita crise política a 7 de novembro. Na sequência de uma investigação do Ministério Público, o primeiro-ministro apresentou a sua demissão, prontamente aceite pelo Presidente da República, que haveria de optar, poucos dias depois, pela dissolução da Assembleia da República e a marcação de eleições antecipadas para 10 de março. Tudo apontava, então, para o fim da longa carreira política de António Costa. Uma morte que talvez tenha sido prematuramente anunciada. De então para cá, o ainda primeiro-ministro desdobrou-se em entrevistas, proclamações oficiais e intervenções avulsas. E parece ter virado a maré a seu favor.
Da última vez que o barómetro da Aximage para o DN, JN e TSF mediu o desempenho do então primeiro-ministro, em outubro passado, o saldo era de 22 pontos negativos (mais avaliações negativas do que positivas). António Costa esteve no vermelho desde julho de 2022 (escassos seis meses depois de ter conseguido uma maioria absoluta nas urnas) e a avaliação agravou-se ao longo do último ano. Mas, quando se pergunta, agora, que balanço fazem, já não dos últimos 30 dias, mas do conjunto dos oito anos de Governo, o saldo é positivo.

Quando se analisam os diferentes segmentos da amostra, percebe-se, no entanto, que não há unanimidade. A avaliação ao consulado de Costa é mais generosa nos dois escalões mais velhos, em particular entre os que têm 65 ou mais anos (saldo positivo de 23 pontos); e mais cáustica nos dois escalões mais novos, em particular nos que têm 18 a 34 anos (saldo negativo de 14 pontos). Ao nível regional, o saldo é negativo na Área Metropolitana do Porto e no Centro (dois pontos) e o melhor resultado é o do Sul e Ilhas (saldo positivo de 20 pontos). Quando a análise incide nos segmentos partidários, não há surpresas: os mais satisfeitos são os que votam à esquerda (sobretudo os socialistas), enquanto os eleitores à direita fazem uma avaliação bastante negativa.
Positivo para o PS
Tanto António Costa, quanto o seu sucessor, Pedro Nuno Santos, já deixaram claro que, nas eleições de 10 de março, também é o legado destes oito anos que vai a votos. E são mais (39%) os que acham que isso terá uma influência positiva no resultado eleitoral do PS, do que os que acham que terá repercussões negativas (30%). Entre o primeiro grupo destacam-se os que vivem a Sul, os homens, os mais velhos e os eleitores socialistas; no segundo avultam os mais jovens e os que votam nos três principais partidos à direita.
Finalmente, são também 39% os que querem ver António Costa ao lado de Pedro Nuno Santos na campanha eleitoral dos socialistas. Um desejo que o primeiro-ministro já expressou mais do que uma vez, e que o novo líder do PS acolheu. Mas são mais ainda os que pensam que não é uma boa ideia (48%), em particular os que vivem no Porto, os mais jovens e as mulheres (53%). (Rafael Barbosa 30 Dezembro 2023 — 09:00)

para memória futura!

quando o OBSERVADOR virou TSF (ou similar) com
Anselmo Crespo, Mafalda Pratas Fernandes e André Maia

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Era o Paquete RITA MARIA. Levou-me à GUINÉ !

Era o dia 26 de Dezembro de 1968 quando partimos do Cais da Rocha Conde de Óbidos em Lisboa. A chegada foi a 9 de Janeiro de 1969 ao Cais do Pigiguiti em Bissau.

o RITA MARIA
No âmbito da renovação da frota mercante nacional a seguir à segunda guerra mundial, seguindo as directrizes do Despacho 100 do Ministro da Marinha Cte. Américo Thomaz, a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes mandou construir nos estaleiros da CUF, em Lisboa, quatro navios mistos de passageiros e carga destinados principalmente à carreira de Cabo Verde e Guiné, o maior dos quais foi o RITA MARIA, de que apresentamos duas fotografias, na fase final da sua existência, com as cores da Companhia Nacional de Navegação.
O RITA MARIA foi lançado à água no estaleiro da Rocha em Outubro de 1952 e entregue à Sociedade Geral um ano depois, a 6 de Outubro de 1953.
Em 1959 foi alongado, com a inserção de uma nova secção no casco, por vante do casario. Em 1972 foi um dos navios da S.G. transferidos para a CNN.

O RITA MARIA completou a última viagem em 1977 e foi vendido no ano seguinte, sendo desmantelado parcialmente e transformado em batelão. Como tal operou no Tejo muitos anos ao serviço da empresa SOCARMAR.
O RITA MARIA transportava 70 passageiros
Texto de L. M. Correia. Fotos de LMC (PB) e da colecção L. M. Correia - 19 Fevereiro 2007

 

domingo, 24 de dezembro de 2023

navios elétricos no Tejo

Só no final do ano, quando houver um conjunto de quatro barcos, é que os navios elétricos vão começar a navegar no Tejo, entre Lisboa e Seixal, substituindo uma parte da “frota envelhecida”. No total, os 10 navios custaram 85 milhões de euros".

No próximo ano chegarão outros quatro e os últimos dois estarão no Tejo em 2025. Os primeiros carregadores deverão ser instalados em junho ou julho. “Sem eles não poderemos ter nada a funcionar”.
“Podemos ser uma referência numa travessia desta dimensão com barcos elétricos. Passaremos de uma situação incómoda para uma situação de referência de que nos orgulharemos a nível internacional”, afirmou o Duarte Cordeiro que estava ministro do Ambiente.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

a Atitude Reflexiva dos eleitores do partido nacional do socialismo

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio, uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia na escada para apanhar as bananas, os cientistas 
arremessavam um jato de água fria nos macacos que estavam no chão.
Até que, após algum tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o cercavam-no e batiam-lhe muito.
Depois de receberem vários jatos de água fria, os macacos deixaram de tentar subir a escada, apesar da tentação das bananas.
Então os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primeira atitude do novo macaco foi subir a escada. Contudo, foi imediatamente 
cercado pelos outros macacos, que o espancado.
Depois de algumas sovas, o novo integrante do grupo não voltou a subir a escada.
Um segundo macaco foi substituído e o mesmo ocorreu e o primeiro substituto participou com entusiasmo em desancar o novato.
Um terceiro foi trocado e, novamente, o mesmo ocorreu. Um quarto e, por final, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas, então, ficaram com o grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse pegar subir a escada para apanhar as bananas
isto é:
Se fosse possível perguntar a algum deles por que eles votavam PS, provavelmente a resposta seria:
"Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui”.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

uma potencia europeia de terceira classe!

Falemos da direita, e do momento que atravessa, começando pela Europa.
Hoje, na Europa, há fundamentalmente duas famílias de direita. Ambas são nacionalistas, no sentido em que o valor nação e a independência nacional são denominadores comuns de todas as direitas. E, portanto, até em contraponto com uma certa tendência ou vocação “federalizante” da União Europeia. Esse aspecto nacional é importante. E, depois, acho que há essencialmente duas linhas bastante marcadas nessas direitas. Uma que eu chamaria nacional conservadora, e está mais ligada a valores religiosos, o conceito de família, e é mais tradicionalista. É, por exemplo, o caso dos polacos, que estão muito nessa linha. Portanto, têm muito essa preocupação com esses valores de família, a não permissão do aborto, e da eutanásia, o casamento ser entre um homem e uma mulher, e não ser dois homens ou duas mulheres. Essas coisas tradicionais.
E depois, há uma direita mais popular, ou populista, se quiser, que está mais preocupada, por exemplo, com questões de imigração e de segurança. É uma direita que eu vejo muito aparecer com estes partidos que têm ganho agora eleições, como o Partido da Liberdade na Holanda, do Geert Wilders, os democratas suecos, ou até mesmo o Rassemblement National, da Le Pen. Esta direita não está muito preocupada com as questões mais tradicionais. Para mim, são estas duas as famílias significativas que aparecem. A grande diferença destas direitas em relação às direitas tradicionais, é que as direitas tradicionais eram muito cépticas e críticas da democracia partidária. E estas não são, pelo contrário. Estas, estão muito preocupadas em dizer que são elas, essencialmente, que representam o povo e o voto popular.

Mas são acusadas de fascismo.
Ah, isso os inimigos chamam-lhes de tudo. Mas a direita já há muito tempo que faz parte de governos, nomeadamente na Hungria e na Polónia, e nunca acabou com as eleições. Tanto que na Polónia, agora, perderam as eleições e vão sair. Portanto, isso é uma treta. Os movimentos fascistas tinham a preocupação exactamente de dizer que eram contra a democracia, porque a democracia não era uma expressão da vontade popular, mas sim de grupos de interesses, de oligarquias, e das oligarquias do poder. E as de hoje não, e têm cumprido. Nos Estados Unidos, o Trump esteve quatro anos no poder e não acabou com a democracia. Perderam as eleições e saíram. Podem ter protestado, enfim, alegadamente, que houve fraude, mas na hora de sair, saíram. Portanto, não me parece que essa agenda anti-democrática esteja de pé.

Quais considera serem os principais factores que explicam este crescimento da direita?
Este crescimento da direita tem essencialmente a ver com o facto de os partidos tradicionais, e até os partidos conservadores tradicionais, incluindo os democratas-cristãos, não se terem adaptado nem encontrado respostas para problemas novos. E, na Europa, há dois problemas muito fortes – um deles é a desindustrialização, com o fim da Guerra Fria, e a migração praticamente das indústrias todas para fora da Europa, algo que se deu em quase todos os países, com a Alemanha a ser uma das excepções, porque ainda guardou uma certa capacidade industrial, nomeadamente no ramo automóvel. Mas de um modo geral, o aparecimento e o sucesso de novos partidos repousa essencialmente, sobretudo hoje, que não há propriamente grandes influências internacionais… Não há União Soviética, e os Estados Unidos continuam a existir, mas não estão propriamente a fazer partidos onde não faz sentido existirem. Portanto, a força dos novos partidos resulta essencialmente de um vazio criado anteriormente. E aqui em Portugal, lá está, as pessoas também estão um bocado fartas do centrão. Quer dizer, já há 50 anos que o poder tem sido ou dos socialistas, ou do PSD, e a situação também não é brilhante. Se formos ver, há 50 anos, a ordem, até do ponto de vista económico… Nós hoje estamos muito mais para trás. Já fomos ultrapassados por quase todos os países que estavam no âmbito soviético. Portanto, não podemos dizer que toda esta governação tenha sido brilhante. Assim, não é de estranhar que surjam novas forças. Aliás, embora nós não tenhamos em Portugal, pelo menos por enquanto, aqueles problemas que na Europa geraram essa grande força dos novos partidos, como o problema de uma imigração massiva.

Mesmo assim, a imigração não pára de aumentar…
Começa a estar um bocadinho, mas ainda estamos muito longe disso. Não temos os problemas de uma imigração, culturalmente, de difícil integração, como a França tem, ou os suecos têm. Não temos isso, e também não temos um problema, por exemplo, de separatismo como tem a Espanha, que dá origem ao Vox. O Vox é exactamente uma resposta dos espanhóis, digamos, “zangados” com o separatismo catalão e achando que o Partido Popular não está a defender capazmente essa unidade da Espanha.

E em Portugal, o Chega surgiu também como uma forma de a direita se afirmar, depois de décadas de “timidez”?
É curioso, porque o partido Vox em Espanha nasceu essencialmente de políticos e quadros médios do Partido Popular, e que saíram por não estarem contentes. E aqui, o doutor Ventura vem do PSD. Nestas coisas da política, vai-se também buscar exactamente onde há vazios e, de facto, em Portugal havia um vazio à direita muito grande, que vinha já desde há quase 50 anos. Portanto, nesse aspecto o Chega foi pegar numa série de questões… Enfim, também são partidos de protesto. Às vezes, pode até nem ser tanto o que eles significam do ponto de vista do que querem fazer, mas que aparecem como protesto ao que está. E, portanto, à medida que a situação se agrava, normalmente esses partidos também vão crescendo. É natural, é o que está a acontecer na Europa toda.

Mas acha que as propostas que apresentam podem realmente solucionar os problemas?
As propostas são mais ou menos todas iguais. Se for ver o que os partidos dizem que vão fazer, a parte técnica de soluções é mais ou menos igual. O que interessa aqui, acima de tudo, para fazer a distinção da política, são os valores e princípios políticos. Portanto, por exemplo, se é mais partidário da independência nacional ou é mais europeísta, ou se aceita a eutanásia ou se é contra. São essas questões, umas de costumes, outras de política. Porque hoje, há duas coisas que não estão muito em questão, e uma delas é o modelo democrático. Aliás, é muito engraçado, porque os partidos de esquerda, o Bloco e o Partido Comunista, cujas ideias já foram várias vezes postas em prática, não têm essas acusações. Quer dizer, o comunismo teve 70 anos na União Soviética, e não fez grande coisa. Mas aparecem, de certo modo, como se nunca tivessem sido experimentadas. E os partidos que aparecem à direita com alguma radicalidade são imediatamente acusados de fascistas ou de nazis, ou reacionários, extrema-direita. É engraçado, porque não há direita, só extrema-direita, passa-se do centro para a extrema-direita…

Se Portugal seguisse a tendência da Europa, o Chega talvez acabasse por formar governo…
Não sei não, porque na Europa, governos dessa linha da direita só há na Itália, na Hungria… Na Holanda ainda não fizeram Governo, mas é natural que consigam também, têm 37 deputados mais ou menos.

E na Alemanha, a direita também está a crescer…
Sim, na Alemanha o AfD também subiu bastante. 
O que vamos assistir é uma coisa muito interessante, que é: fora da esquerda, não se poderá fazer governos sem esses partidos de direita entrarem ou a apoiarem. Essa é que será a situação. Não quer dizer que eles sejam Governo, mas não se vai governar sem eles, e isso é um ponto interessante. Essa é que é será a novidade

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O lider do WhatsApp

O dr. Mário Soares e uns quantos prosélitos fundaram em 1973 o Partido Socialista. Soares tinha vindo do exílio africano e instalou-se em Paris. Intuitivo e cosmopolita como poucos, começou a frequentar o trabalhismo europeu dos anos 70, no fundo, a social-democracia que ele converteria em socialismo democrático aqui. E, sobretudo, os alemães, que o ajudaram a dar corpo ao partido, algures na Alemanha. Soares sabia que precisava de um instrumento estruturado e financiado para fazer putativamente política num país, mais tarde ou mais cedo, libertado do Estado Novo. Não esperou muito. Nem todos os exilados correram imediatamente atrás do “Sud Express” do PS em Abril de 74. As infelicidades revolucionárias e os transportes radicais, “originais” ou terceiro-mundistas, transformaram o PS praticamente no primeiro grande albergue nacional da direita reciclada e por vir. Sá Carneiro teve de esperar quatro anos para calibrar o PPD, e mais um para inserir a direita no seu espaço, afastando a ideia de temores reverenciais e de tutoria regimental a cargo dos socialistas. Todavia, o PS já tomara o Estado, o propriamente dito e o das coisas. E nunca mais os largou, mesmo nas intermitências governativas da direita. A sua liderança aproximou-se sucessiva e gradualmente das oligarquias da I República. Caciques das mais distintas formas, feitios e inteligências ocuparam a casa. Tornaram-se proeminentes criaturas que nasceram e abeberaram no partido, os “milenais” socialistas, dos quais Sócrates e Costa foram os mais amados santos padroeiros. Os próprios vultos dos idos de 70, 80, 90 e princípio deste século acabaram na estatuária activa do partido. É ver como se dividiram alegremente pelos “milenais” Pedro Nuno e J.L. Carneiro. A palavra “poder” resume-os a todos e a cada um. E resume o que fez chegar a nono secretário-geral do remoto PS fundado na Alemanha uma criatura improvável que, ainda há menos de um ano, fora despedida de ministro por indecente e mau comportamento político-institucional. E tudo em casa, que o santinho padroeiro Costa não perdoa. O que devemos pensar deste “eleitorado” partidário que se entrega assim, e ao país, de mão beijada, a gente sem uma única ideia na cabeça que não seja a da perpetuação do poder socialista pelo poder socialista, do gasto libertino, no maior desprezo pelo país fora do Largo do Rato, afinal um novo “Portugal amordaçado” por eles? Foi tudo feito pelo “WhatsApp”?

Valem o que valem...

...neste caso com o "valer" por Círculo Eleitoral!


domingo, 17 de dezembro de 2023

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Bom, Mau e Vilão

Quando o "Bom" é o Pestana, em 5 minutos, chegámos
[ao Estado a que isto chegou]

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

...começou a descida com a geringonça

sábado, 25 de novembro de 2023

25 de Novembro (notas de quem lá esteve)

 pelo Capitão Paraquedista José Luís da Costa Sousa

O chamado 25 de Novembro de 1975 foi o último evento político militar relevante do processo revolucionário iniciado no 25 de Abril 1974, e veio repor e consolidar a liberdade e a democracia em Portugal, depois de 19 meses de contínua e grave instabilidade política, gerada por forças políticas à esquerda do PS.
O PS, na pessoa do Dr. Mário Soares, no célebre comício da Fonte Luminosa em Lisboa, a 19 de Julho de 1975, e no seu histórico e inolvidável discurso, identificou e exorcizou todos os desvios, males e excessos antidemocráticos da revolução em curso à data, e identificou ainda, aberta e corajosamente, o seu culpado maior de então, o PCP. A partir desse comício, o PS foi, indiscutivelmente, a grande força política que motivou e deu autoridade moral ao desenvolvimento dum processo, que veio a neutralizar e corrigir essas forças anti democráticas, através dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975.

Integrei activamente as forças militares de contenção do 25 de Novembro de 1975 e, logo a seguir, fiz parte da Comissão Nacional de Averiguações a esses mesmos Acontecimentos. Neste seu 45º aniversário, julgo oportuno fazer uma narrativa do 25 de Novembro de 1975, tal como o vivi e o entendi.
25Nov75; Portugal alvoreceu em pé guerra; o País sofria mais uma convulsão de epilepsia revolucionária.
Capitão Pára-quedista, recém-chegado de Angola, fui acordado com um telefonema que me disse: -”Vermelho 9”; tal código, previamente combinado, determinou-me a apresentação imediata na Base Aérea da OTAN de Maceda, algures no norte do País, e assim fiz. Cheguei lá no lusco fusco do dia 25 de Novembro de 1975 (25Nov75) e, pouco depois, já em fato de combate camuflado, armado com uma metralhadora ligeira HK 21, eu mais o meu camarada Capitão Adelino Martins, patrulhávamos ambos a praia, que ladeia a Base Aérea de Maceda, aguardando o desembarque e a ofensiva, a qualquer momento, do inimigo, os nossos fuzileiros, que as informações militares diziam estarem já em rota, para nos atacarem e neutralizarem, nessa noite. Estávamos lá 122 oficiais e 1 sargento paraquedista, não havia nenhum soldado, e mais uns tantos pilotos e aviões de ataque ao solo; em todos nós era notória uma invulgar motivação, e uma firme determinação, definitiva e irreversível, de resistir e eliminar qualquer força militar que nos atacasse, fossem quais fossem os custos e as consequências. Éramos todos experimentados combatentes, com vários anos de guerras feitas por África, conhecíamos bem os fuzileiros, aguardámos calmamente, mas não apareceram, recuaram quando souberam que o PCP, já no dia 25Nov75, tinha deixado de apoiar a facção político militar a que nos opúnhamos e eles apoiavam, a do Major Otelo Saraiva de Carvalho.
Permiti-me contar, em termos breves e simples, este episódio do 25Nov75, por mim vivido, para mostrar a profunda gravidade daquele acontecimento e, o quanto esteve iminente uma guerra civil entre portugueses, de consequências imprevisíveis. Quis o destino que assim não fosse.
Estava, pois, a correr o terceira e último evento do processo revolucionário iniciado com o 25Abr74, acelerado com o 11Mar75 e desacelerado com o 25Nov75, por razões que adiante se compreenderão. Na noite de 24 para 25Nov75, a mando do Major Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON), os sargentos e soldados Pára-quedistas ocuparam todas as bases aéreas nacionais, prenderam os respectivos Comandantes, e exigiram a demissão do Chefe de Estado-Maior da FAP, o General Morais e Silva. Os fuzileiros, a Polícia Militar do Exército, o Ralis e a Escola de Administração Militar etc… solidarizaram-se com os soldados e sargentos paraquedistas; obedeciam todos às ordens do acéfalo herói de Abril, Major Otelo Saraiva de Carvalho. Aparentemente, o PCP e a extrema-esquerda faziam o assalto final ao Poder. Seguiram-se diversos desenvolvimentos militares e políticos para neutralização dos revoltosos em pé de guerra; as forças de contenção, contra esse aparente assalto final ao poder, executado pela facção de Otelo S. de Carvalho, eram lideradas militarmente pelo Tenente Coronel Ramalho Eanes e, politicamente, no meio militar e não só, pelo Major Melo Antunes.
Aquelas acções e outras que se seguiram, provocaram três mortos militares entre os Comandos e a Polícia Militar do Exército, na Ajuda, e terminaram com o sucesso da facção oposta ao Major Otelo S. de Carvalho, a do Tenente Coronel (TenCor) Ramalho Eanes. No fim, o Major Otelo, Comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON) foi derrubado, detido e bem, mais tarde foi solto e mal; a revolução devorava mais um dos seus filhos, o mais dilecto, e paria novos heróis, como todas as outras. O TenCor Ramalho Eanes ascendeu à condição de “herói” circunstancial, é promovido a general e mais tarde eleito Presidente da República; foi o triunfo do seu carisma militar, honestidade pessoal, profissional e confiança política.
No terreno, os mais activos e verdadeiros “heróis” desta “guerra de contenção” do 25Nov75 foram, no entanto, o Coronel Jaime Neves e os seus Comandos, isto, não desconsiderando as acções relevantíssimas dos 122 oficiais paraquedistas e mais dos meios aéreos e Oficiais Pilotos Aviadores da FAP, concentrados na Base da NATO de Maceda (onde me incluía) e de terceiras figuras várias, como foi o General Pires Veloso, Comandante da Região Militar do Porto, dito Vice-Rei do Norte, etc…
O folclórico esquerdista Major Otelo Saraiva de Carvalho e seus seguidores, a irracionalidade surrealista da extrema-esquerda, a falta de informação e manipulação política total dos sargentos e soldados paraquedistas, tudo isso foi usado neste golpe magistral, planeado encobertamente pelo PCP, para este os mobilizar para a execução de acções militares irresponsáveis, que foram utilizadas, depois de contidas, como razão para eliminar da vida política e/ou militar, aquelas forças e entidades anarquistas e de extrema esquerda, seguidoras de Otelo. Forças extremistas e anarquistas essas, civis e militares, que tinham sido criadas e ou alimentadas, intencionalmente, pelo PCP e afins políticos, para servirem propósitos revolucionários, que se esgotaram com a independência da última colónia, Angola a 11Nov75. Depois do 11Nov75, conforme atrás referido, tiveram de ser neutralizadas, porque o PCP as considerava já inúteis, incontroláveis, contraproducentes e também para acalmar a Europa e os EUA, alarmados que estavam com a total e psicopática bandalheira anarco comunista em que Portugal se transformara, em particular, a partir de 11Mar75. Antes do 25Nov75, Henry Kissinger, então Secretário de Estado dos EUA, afirmava que Portugal era já, e seria ainda mais, a vacina anticomunista da Europa.
Em Espanha, estava em perspectiva a legalização do Partido Comunista Espanhol; em França e Itália, estava-se em vésperas de eleições, e a URSS esperava votações significativas nos seus Partidos Comunistas locais, conforme se vieram a concretizar. Atingido o objectivo prioritário da URSS/PCP pós 25Abr74 em Portugal, ou seja, a descolonização em seu favor de todas as nossas ex províncias ultramarinas, (excepto Macau e Timor), a URSS determinou ao PCP que recuasse para a rectaguarda do poder em Portugal, (o Governo eleito era PS), para que os avanços dos Partidos Comunistas na Europa, atrás previstos, se concretizassem, e para que o comunismo português não se transformasse na tal vacina anti comunista de que Henry Kissinger falava, o que não interessava à URSS. E foi isso que a dupla PCP/URSS fez com o 25Nov75, um esquema operacional maquiavelicamente montado, que usou utopistas das extremas esquerdas e outros anarquistas, em acções insensatas e violentas, para justificar a sua eliminação, por serem já inúteis e incómodos, e para o PCP recuar para a sombra do poder em Portugal, para acalmar os sentimentos anti comunistas da Europa, e assim garantir melhores resultados eleitorais de outros PC´s na Europa, e sossegar os sentimentos anticomunistas em Portugal, como foi dito.
A componente ofensiva de extrema esquerda do 25Nov75, a que apareceu no terreno, foi concebida e planeada, em segredo, pela URSS/PCP e por alguns elementos do topo do MFA, Movimento das Forças Armadas, nomeadamente, pelo Major Otelo Saraiva de Carvalho e outros. Raimundo Narciso do PCP, que em 1975 tinha a pasta dos “assuntos militares”, afirmou que de facto o PCP foi a cabeça “encoberta”, que organizou e lançou no terreno a facção militar e política do 25Nov75, liderada por Otelo S. de Carvalho. Afirmou ainda ter sido o PCP que, em segredo também, colaborou, através do Major Melo Antunes, na organização das forças para a contenção da facção do Major Otelo, manipulando à rectaguarda, tanto quanto lhe foi possível, as duas facções em oposição, sem que nenhuma delas tivesse consciência de tal facto.
Desde o 25Abr75 e até ao 25Nov75, a URSS teve sempre um ascendente muito decisivo sobre o poder político militar em Portugal, através do Movimento das Forças Armadas e do PCP e seus sucedâneos, daí a facilidade com que manipulou politicamente todo o processo revolucionário em Portugal, nesse período. A última província a ser descolonizada foi Angola, cuja independência foi entregue a um único movimento pró URSS, o MPLA, em 11Nov75, contrariando frontalmente os Acordos de Alvor, que estipulavam a sua entrega conjunta ao MPLA, UNITA e FNLA; nessa data e com a independência de Angola, a URSS atingiu todos os seus objectivos prioritários em Portugal; não foi, pois, por acaso, que o 25Nov75 ocorreu logo 14 dias depois; tinha chegado o tempo do PCP sair da ribalta política e passar aos bastidores. Importa relevar que, o 25Nov75, no seio da instituição militar, e na sua componente democrática e de contenção das acções levadas a efeito pelo mesmo 25Nov75, estava a ser preparado desde Julho de 75, pelo Major Melo Antunes, através do seu célebre “Documento dos Nove”.
No Verão de 75, andei, pessoal e oficialmente, a fazer sessões de esclarecimento sobre o Documento dos 9, em unidades militares em Angola, na qualidade de eleito na Comissão do Movimento das Forças Armadas do Batalhão de Paraquedistas, BCP21, convencido que era para conter o PCP e afins políticos em Portugal; foi e não foi, tempos de enganos e desenganos. Este então célebre documento, pelo seu propositado conteúdo anti excessos políticos em curso desde o 11Mar75, em particular no Verão de 75, serviu para captar todas as forças democráticas à direita do PCP e para as preparar, mental e operacionalmente, para uma acção normalizadora desses excessos, e que vieram a constituir as forças que contiveram o 25Nov75. Por outro lado, no que concerne à facção extremista, revolucionária e anti democrática do 25Nov75, e para ultimação dos seus planos, o Coronel Mankeiev da KGB/ URSS chegou a Portugal em 18Nov75 e partiu em 23Nov75, tendo estado em reuniões contínuas, nesses dias, no quartel general do COPCON, Forte do Alto Duque, Lisboa, com o Major Otelo Saraiva de Carvalho e com uma célebre figura do PCP, Jaime Serra, responsável das acções clandestinas daquele partido. Eu confirmei, pessoalmente, a vinda e a estadia do Coronel Mankeiev no COPCON, a qual estava bem documentada no processo de averiguações contra Otelo Saraiva de Carvalho/COPCON, organizado e por mim trabalhado, quando mais tarde integrei, oficialmente, a Comissão Nacional de Averiguações aos Acontecimentos do 25Nov75.
O Expresso noticiou também, na altura, esta presença do Coronel Mankeiev em Portugal, assim como a sua chegada e partida do aeroporto de Lisboa.
Ambas as facções em confronto no terreno, os extremistas civis e militares fiéis seguidores do Major Otelo, aos quais o PCP e o MDP/CDE estiveram inicial associados até às 05:00 AM de 25Nov, (a partir desta hora saíram do processo, abandonando Otelo S. de Carvalho e seus seguidores à sua sorte) e os seus democráticos opositores, liderados pelo Tenente Coronel Ramalho Eanes, todos foram “influenciados” pelo PCP, uns mais e outros menos, e estes últimos sem o terem minimamente imaginado, percebido ou intuído, até hoje. Estas duplicidades, ambiguidades e/ou polivalências das políticas, aparentemente ilógicas, em que os grandes soberanos políticos do mundo (neste caso a URSS), criam e manipulam duas ou mais facções político e/ou militares, que se contradizem, opõem e confrontam no terreno, e/ou nos palcos políticos e mediáticos, eram e são hoje estratégias rotineiras, comuns na luta político e/ou militar, etc… para melhor atingirem os seus objectivos, sejam eles quais forem e onde forem; obviamente que não são de fácil entendimento ou mesmo crença, pelo comum das pessoas, mesmo que envolvidas directamente numa das facções. Por exemplo, as forças políticas mais moderadas e democráticas do 25Nov75, ainda hoje acham, que foram elas, exclusivamente, que tiveram a iniciativa e a capacidade de se organizarem, planearem e levarem à execução o 25Nov75 com sucesso, mas não foi tanto assim; quem de facto pôs todo o processo a rolar, dos dois lados, foi mais o PCP, encobertamente claro, do que quaisquer outros, sem retirar os muitos e merecidos méritos à facção comandada pelo Tenente Coronel Eanes, que eu integrei no decurso de todo o evento do 25Nov75.
Da facção do Tenente Coronel Ramalho Eanes, cujo núcleo militar principal era a Força Aérea Portuguesa, o Regimento de Comandos do Coronel Jaime Neves, a região Militar Norte, Comandada pelo General Pires Veloso e ainda 122 oficiais paraquedistas instalados na Base Aérea da NATO, de Maceda, etc… só o Major Melo Antunes, como agente politico militar, ambiguamente bivalente, teve conhecimento profundo de tudo, pois foi ele o principal planeador e mentor da organização e acções desta facção, em colaboração confidencial com o PCP, o qual, paralelamente, organizava e planeava as acções a realizar pela outra facção, a do Major Otelo S. Carvalho. As forças do Major Otelo S. Carvalho, eram constituídas pelas suas FP´s 25, Forças Populares 25, pelas Brigadas Revolucionárias de Isabel do Carmo, outros partidos de extrema esquerda como a LUAR, etc… e tinha ainda a fidelidade militar da quase totalidade dos Sargentos e Praças Paraquedistas aquartelados no Regimento de Paraquedistas em Tancos, dos Fuzileiros da Marinha no Alfeite, da Polícia Militar na Ajuda, etc…
Havia pois duas forças político militares em oposição, determinadas a confrontarem-se, mas era necessária uma incidente detonador, que pusesse as duas forças em marcha uma conta a outra, e que veio a ser a ordem do Major Otelo Saraiva de Carvalho dada aos paraquedistas em 23Nov75, para estes ocuparem todas as Bases Aéreas na noite de 24 para 25Nov75.
O que é que levou o Major Otelo S. de Carvalho a chamar os Sargentos paraquedistas ao COPCON, e ordenar-lhes o assalto e ocupação de todas as Bases Aéreas da FAP, com prisão dos respectivos Comandantes, exigindo a demissão do Chefe do Estado Maior da FAP (CEMFA, General Morais e Silva?
Alegadamente, foi um incidente menor, ocorrido em Tancos, dias antes, entre soldados e sargentos paraquedistas contra o Chefe de Estado Maior (CEMFA) da FAP, numa sua visita àquela unidade, e que levou aqueles militares a exigirem a demissão do CEMFA. Mas, essa ordem de Otelo S. Carvalho, dado o seu despropósito e desproporcionalidade, face ao incidente que a justificou, só pode ter vindo de Moscovo, via PCP e Coronel Mankeiev, KGB, com o objectivo de lançar e iniciar o 25Nov75, tal como decorreu na realidade, e com os objectivos expostos. Só assim se compreende, que tudo isto, ocorra dois dias depois de planeamentos intensivos de Otelo Saraiva de Carvalho com o Coronel/KGB Mankeiev, no COPCON e, dois dias depois daquele Coronel regressar a Moscovo, no dia 23Nov75.
É óbvio que Otelo Saraiva de Carvalho foi ludibriado pelo PCP e por Moscovo, que lhe terão garantido objectivos mais vastos e significativos, de conquista do poder.
O major Otelo S. de Carvalho e os seus afins e serafins políticos e militares foram usados apenas como carneiros expiatórios, por já inúteis e incómodos, para saírem definitivamente do palco principal da revolução e dar lugar às cenas dos próximos capítulos da mesma, com novos protagonistas.
O Major Otelo ignorava de facto que, para ele e toda a extrema-esquerda que o orbitava, estava reservado, desta vez, o papel de carneirada a sacrificar no altar da revolução e dos interesses da URSS/PCP, e foram assim eliminados nas suas próprias inocências úteis. A arte e a eficiência da dupla URSS/PCP na concepção, planeamento e execução de tais acções, obras-primas do golpismo político militar, de engenharia da opinião pública, de manipulação dos militares, do povo e da política, foram absolutamente notáveis, de tal modo que esta verdade ainda hoje não é entendida e nunca o será pela História e pelo povo ou políticos em geral, excepto muito poucos ou quase nenhuns, mesmo que tenham sido actores dos acontecimento.
Ficou a ideia na opinião pública que o 25Nov75 tinha sido planeado, principalmente, para neutralizar o PCP e suas extremas esquerdas, e como tal, na altura, houve forte pressão dessa opinião pública, para que as figuras principais do PCP fossem politicamente responsabilizadas, conforme foram as das extremas esquerdas, que foram detidas e presas em Caxias e Custóias, nos dias seguintes ao 25Nov75. Mas o Major Melo Antunes, dada a sua ambivalência política, salvou o PCP de ser perseguido e afectado pelo 25Nov75, ao fazer uma intervenção urgente e convincente na RTP, garantindo aos portugueses ser o PCP indispensável à democracia e à construção do socialismo, iniciado com o 25Abr74; de facto, de tal data até hoje, o PCP tem sido um partido de comportamentos adequados, no contexto do exercício normal da democracia. Independentemente dos meandros e detalhes políticos, mais ou menos complexos ou transparentes, deste episódio do processo do 25Abril, o facto é que o 25Nov75 permitiu ao povo português ultrapassar um período da revolução extremamente conturbado e doentio, em que a democracia e a liberdade estiveram sequestradas por esquerdismos utópicos e malfeitores, e possibilitou o regresso ao exercício da democracia e liberdades plenas, até ao presente.

um dia poderemos dizer Hoje, em 1975, começou a Liberdade

História para os mais novos!

a importância do 25 de Novembro de 1975 para corrigir o 25 de Abril de 1974

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

25 de Novembro

resumo:
Na noite de 24 para 25Nov75, sargentos e soldados para-quedistas ocuparam as bases aéreas, prenderam os respectivos Comandantes, e exigiram a demissão do Chefe de Estado-Maior da FAP, o General Morais e Silva.
Os fuzileiros, a PM do Exército, o Ralis e a Escola de Administração Militar etc. solidarizaram-se com os paraquedistas; obedeciam todos às ordens do acéfalo herói de Abril, Major Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante do COPCON, Comando Operacional do Continente.
Aparentemente, o PCP e a extrema-esquerda faziam o assalto final ao Poder.
O 25Nov75 foi concebido, planeado e dirigido encobertamente pela URSS/PCP e alguns elementos do MFA, Movimento das Forças Armadas.
Raimundo Narciso do PCP, que em 75 tratava dos “assuntos militares”, afirmou que de facto o PCP foi a cabeça da organização e da contenção do 25Nov75, e também quem orientou a esquerda militar, liderada por Otelo S. de Carvalho, na organização e lançamento do mesmo, seja, criou o incidente e controlou, sempre à rectaguarda, as duas facções em oposição.
Para ultimação do 25Nov75, o Coronel Mankeiev da KGB/ URSS chegou a Portugal em 18Nov75 e partiu em 23Nov75, tendo estado no quartel general do COPCON,
(O Expresso noticiou também na altura esta presença, assim como a sua chegada e partida ao aeroporto de Lisboa.)
A arte e a eficiência da dupla URSS/PCP na concepção, planeamento e execução de tais acções, autênticas obras-primas do golpismo político militar, de engenharia da opinião pública, de manipulação dos militares, do povo e da política, foram absolutamente notáveis, de tal modo que esta verdade ainda hoje não é compreendida.
(José Luiz da Costa Sousa, Participante no 25Nov75 como Capitão Paraquedista)

Onde é que estavas no 25 de Novembro?

 

Semanas antes do 25 de Novembro Álvaro Cunhal ainda garantia que não existe em Portugal a menor possibilidade de uma democracia como as da Europa Ocidental e hoje sabemos quem e a que horas deu ordens para os militares comunistas avançarem.
Vale a pena recordar isso e muito mais quando tantos recusam comemorar o dia em que se resgatou o 25 de Abril.



Houve um tempo em que a pergunta “Onde é que estavas no 25 de Abril?” chegou a ser tema de rábulas humorísticas, mas hoje interessa-me fazer outra pergunta, a pergunta que quase nunca ouvi a alguém: “Onde é que estavas no 25 de Novembro?” E interessa-me fazê-lo porque, havendo respostas sinceras, percebem-se melhor algumas incoerências dos nossos dias. E uma delas é tratarmos o 25 de Abril como sendo património da esquerda e o 25 de Novembro como património da direita. Ora isso não faz sentido historicamente e, do ponto de vista político, tem consequências muito negativas.

A questão chave para entendermos a relevância dessa data é perceber o que estava em causa naqueles dias – e o que esteve em causa no período que antecedeu o golpe e contra-golpe de 25 de Novembro de 1975 foi saber se Portugal seria ou não uma democracia como hoje a conhecemos e vivemos. Naquele Verão o que aconteceu em Portugal não foram apenas alguns “excessos” mais ou menos juvenis, o que aconteceu em Portugal reflectiu o desejo da facção radical do MFA, do Partido Comunista e de uma galáxia de grupos de extrema-esquerda transformarem a revolução portuguesa numa versão ibérica da revolução cubana, ou algo de semelhante. Antigamente o PS, o PS de Mário Soares e da Fonte Luminosa, sabia bem o que estivera em jogo. Hoje parece que nem alguns dos principais protagonistas querem recordar quem foi que derrotaram naquelas horas tensas e incertas.

Não digo isto por acaso – digo porque ao ler o que o Expresso publicou esta semana sobre o 25 de Novembro encontro quem simultaneamente revele o grau de envolvimento do PCP no golpe e, ao mesmo tempo, acrescente que quem foi derrotado naquele dia foi a extrema-direita. Na verdade o artigo abre com o que julgo ser uma revelação feita por Vasco Lourenço: “o nome do militante comunista que ao telefone deu a ordem de avanço e, depois, recuo para as forças comunistas”. Os dois protagonistas destes momentos são Jaime Serra, um dirigente histórico do PCP e nessa época responsável por fazer a ligação com os militares comunistas, e um desses militares, o tenente miliciano Luís Pessoa. Infelizmente já morreram os dois, mas o presidente da Associação 25 de Abril garante que a história do que então se passou lhe foi contada pessoalmente pelo próprio Luís Pessoa. Mesmo assim, já no final do artigo, onde há testemunhos de outros protagonistas desses dias, Vasco Lourenço consegue concluir que “a maior vitória no 25 de Novembro nem é sobre a hipótese de um regime comunista ou popular. Antes sobre a extrema-direita, perigosa, que estava no terreno com a cobertura dos Nove e que tentou um novo 28 de Maio.”

Há cambalhotas de raciocínio que são difíceis de seguir, mas neste caso há uma explicação para este malabarismo lógico e essa explicação passa pela forma sectária como em Portugal se procurou sempre associar o 25 de Abril e um projecto político e não àquilo que ele foi: um golpe de Estado destinado a derrubar um regime caduco e a devolver aos portugueses o direito de escolherem livremente o seu destino. No entanto, em Portugal, como recentemente notou o Rui Ramos, a esquerda declara-se “autora e portanto dona da democracia em Portugal, numa tentativa patética de menorizar e de excluir quem pensa de outra maneira”. É por isso que o 25 de Novembro tende a ser menorizado, ou mesmo vilipendiado, é por isso que se consegue chegar a leituras históricas tão bizarras como essa da “vitória sobre a extrema-direita”.

Muito para ajudar a perceber o que estava em causa nesse período dediquei nesta sexta-feira o meu Contra-corrente precisamente à ideia de que “Há que recuperar o 25 de Novembro para a História”. Para o fazer realizei um exercício de “onde é que estavas nesse dia” e comecei por contar a minha própria experiência de imberbe revolucionário — tinha 18 anos — que passou esses dias na sede da organização, um local por onde passavam armas e se procurava, da forma o mais improvisada possível, ensinar aos mais novos como eu alguns rudimentos de como usar uma espingarda automática G3 ou uma metralhadora FPB. Também recordei como, enquanto as coisas não se definiram, esteve sempre parado em frente dessa sede um automóvel que, olhando para ele e vendo como tinha a traseira a roçar o chão, percebia-se estar carregado de armas.

Mais importante e mais significativa foi no entanto a experiência de Zita Seabra, que na altura era dirigente do PCP e controlava os estudantes comunistas. Nessa noite os militantes estavam distribuídos por células e por casas onde aguardavam que os chamassem para “defender a revolução” e, naturalmente, lhes entregassem as armas por que ansiavam. Acontece porém que o PCP, tal como mobilizou, desmobilizou, um decisão vinda do próprio Álvaro Cunhal que logo reuniria com principais funcionários do partido, dando nessa altura uma explicação que Zita Seabra nunca esqueceu e por isso contou no seu livro de memórias “Foi assim”: Cunhal disse “que teve garantias de Melo Antunes de que não ia ser preso e que o PCP não ia ser ilegalizado. E recordou a obra de Lenine, Um passo atrás, dois passos à frente, escrita nas vésperas da revolução de 1905. Íamos dar um passo atrás para no futuro podermos dar dois passos à frente”.

É bom não ter ilusões sobre o que é que Cunhal realmente pretendia, e sobre o que o PCP continua a pretender hoje. Os comunistas sempre foram mestres na arte do disfarce, mas nesse Verão de 1975 o líder histórico do PCP teve, digamos assim, liberalidades de linguagem pouco comuns numa entrevista que deu à jornalista italiana Oriana Fallaci. Foi aí que ele disse que “não existe hoje em Portugal a menor possibilidade de uma democracia como as da Europa Ocidental”, isto porque considerou que “o processo democrático burguês quer confinar a revolução aos velhos conceitos do eleitoralismo”. Disse até mais: “Nós, os comunistas, não aceitamos o jogo das eleições (…) Se pensa que o Partido Socialista com os seus 40 por cento de votos, o PPD, com os seus 27 por cento, constituem a maioria, comete um erro. Eles não têm a maioria” (um apanhado das principais frases dessa entrevista pode ser lido aqui, a reprodução na íntegra das páginas do jornal que a editou em Portugal, como o título “Cunhal a nu”, estão disponíveis aqui).

Não deve pois haver dúvidas: o programa do PCP e da esquerda radical de que o hoje o Bloco é herdeiro não era o da Constituição de 1976, era o de instalar em Portugal aquilo a que chamavam ora “democracia avançada”, ora “democracia popular”, e que seria sempre uma ditadura como tantas que conhecemos. De resto o PCP ainda hoje não esconde a sua repulsa pelo 25 de Novembro, uma data sobre a qual ainda recentemente se escrevia no Avante que é “uma irrelevância que se exibe coxa e a cheirar a naftalina, com as mãos sujas de sangue, atrelada à ignomínia dos dias do terror; vive de mentiras urdidas sem honra nem pudor.”

É por isto tudo que faz sentido a minha pergunta retórica, como faz sentido comemorar o 25 de Novembro, como sobretudo é necessário que tornemos esta data património comum da nossa democracia, começando por a ensinar nas escolas (depois desse meu programa na Rádio Observador recebi um mail de ouvinte que dizia apenas isto: “Tenho 35 anos. Era aluno de 5 a História. Não me recordo de ter ouvido falar do 25 de novembro nas aulas. E tanto pormenor e detalhes só hoje mesmo! Algo está errado…”)

Politicamente os danos causados pela visão sectária da história que reivindica o 25 de Abril para a esquerda e associa o 25 de Novembro à direita traduzem-se numa bipolarização que, se extremada, e já esteve mais longe disso, pode sempre causar danos à nossa democracia pluralista, tão corajosamente defendida nesses dias de exaltação e inquietude. O partido que melhor devia entender isto era o Partido Socialista, mas não procura sequer fazê-lo pois convém-lhe a narrativa da “ameaça da extrema-direita” em contraposição à “queda do muro” que teria representado a experiência da geringonça. Para além disso há cada vez menos gente que possa contar o que realmente fez a 25 de Novembro de 1975.
(José Manuel Fernandes in Onde é que estavas no 25 de Novembro?)

o dia antes do da liberdade!

Os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975 surgem na sequência de um intenso “verão quente”, da queda do V Governo Provisório e do afastamento do General Vasco Gonçalves dos cargos e estruturas superiores das Forças Armadas e do Movimento das Forças Armadas, objectivo há muito perseguido pela social-democracia, sob a batuta da direcção do PS, pelas forças de direita e por outros reaccionários radicais e fascistas, pelo Grupo dos Nove e por sectores esquerdistas agrupados em torno de Otelo Saraiva de Carvalho. Trata-se, sem dúvida, de um golpe militar contra-revolucionário, fruto de uma cuidada e longa preparação no quadro de um tumultuoso processo de rearrumação de forças no plano político e militar, com o apoio e o envolvimento activo de potências europeias, dos EUA e da NATO

o Dia de Antes!

Resumo dos tempos conturbados em Portugal, entre 1974 e 1976:
- A 25 de Abril de 1974, o MFA (Movimento das Forças Armadas) coordenado pelo Otelo
Saraiva de Carvalho, apoiado pelo CCP (Movimento dos Capitães), derrubaram o antigo regime, forçando o exílio no Brasil de Marcelo Caetano e Américo Tomaz.
- António Sebastião Ribeiro de Spínola é nomeado Presidente da Junta Militar.
- Abolição da Direcção Geral de Segurança (DGS) antes Policia Internaciona de Defesa do Estado (PIDE).
- A 16 de Maio de 1974, Adelino da Palma Carlos é nomeado Primeiro Ministro de 1º Governo Provisório.
- Otelo Saraiva de Carvalho, lidera a COPCON (Força militar de elite com 5.000 homens) que funciona como polícia política.
- 18 de Julho de 1974, Vasco dos Santos Gonçalves é nomeado Primeiro Ministro do 2º Governo Provisório. Vasco Gonçalves é renomeado Primeiro Ministro para os 3º e 4º Governos Provisórios em que a Extrema Esquerda vai tendo cada vez mais força.
- Em Setembro de 1974 António Sebastião Ribeiro de Spínola demite-se de Presidente da República e é substituido por Francisco da Costa Gomes.
- Em Outubro de 1974, o Partido Comunista consolida a sua força no MFA, controlando as repartições administrativas, os sindicatos e os comités de trabalhadores.
- Em Janeiro de 1975, começam as ocupações de terras pelos trabalhadores rurais no Alentejo.
- A 11 de Março de 1975, dá-se uma alegada tentativa falhada de golpe de estado para dar um fim aos excessos revolucionários, liderada pelo General António de Spínola que se refugia para o Brasil.
- As prisões voltam-se a encher com presos políticos.
- No dia que se seguiu ao 11 de Março, o Sindicato dos Bancários de Lisboa encerra todas as dependências para forçar a decisão das nacionalizações que começaram pelo sector bancário e segurador. Com o correr dos meses foram sendo tomados pelo Estado a grande indústria, os transportes públicos, a comunicação social, o sector agrário e, quase sempre por via indirecta, o imobiliário, o turismo e alguns serviços.
- A 3 de unho de 1975, todos os serviços de informação passam para o controlo do Concelho da Revolução.
- A 8 de Agosto de 1975, José Pinheiro de Azevedo é nomeado Primeiro Ministro do 5º Governo Provisório.
- Começam as nacionalizações das principais indústrias e serviços.
- Em Agosto de 1975, dá-se o processo a que chamaram dos retornados – refugiados vindos das colónias portuguesas principalmente de Angola.
- Aumenta o desemprego e aparece a primeira crise económica.
- A 19 de Setembro de 1975, José Pinheiro de Azevedo é nomeado Primeiro Ministro do 6º Governo Provisório.
- Os confrontos entre populares e as ocupações agonizam-se, estando Portugal perto da guerra civil.
- A 25 de Novembro de 1975 dá-se uma nova tentativa de golpe militar que foi contrariadapela força militar liderada pelo Coronel António dos Santos Ramalho Eanes que declarou de imediato o Estado de Emergência, tomando o controlo do MFA, COPCON e Comandos.
- A 26 de Novembro de 1975, o COPCON é extinto e Otelo Saraiva de Carvalho é despromovido e preso.
- Em Abril de 1976 é proclamada a nova Constituição
- Em Julho de 1976 são realizadas as primeiras eleições livres para o parlamento em 50 anos.
- A 23 de Julho de 1976 Mário Soares é eleito Primeiro Ministro numa coligação entre o Partido Socialista e o PPD/PSD (1976-1978).
- Ramalho Eanes é eleito Presidente da República (1976-1980).

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

e de repente passaram 60 anos ...

a meio dos anos 60 era a equipa campeã do Pedro Nunes 
por onde andarão estes miúdos?



domingo, 19 de novembro de 2023

Só para lembrar os "menos atentos": Costa, O Branqueador!

porque muitos já o esqueceram (e neles incluo o Venerando Chefe de Estado!) repito:
Costa que chamou para o círculo mais íntimo de governação gente questionável com a justificação de que eram amigos de há 20 anos, lamenta agora que os amigos de há 20 anos que chamou para o círculo mais íntimo de governo tenham transgredido sem que ele, diz ele, imaginasse ou soubesse de nada. E pede desculpa por os amigos de há 20 anos a quem confiou e em quem delegou parte do cerne da governação afinal, diz ele, não prestarem.

sábado, 18 de novembro de 2023

Costa, de missionário a demissionário

Costa nunca fez outra coisa na vida senão servir a causa pública, o que torna a saída de cena mais patética. Foi de missionário a demissionário

Dignidade e elevação, portanto. Mas, porém, todavia, contudo.

Recapitulemos. O Presidente reuniu o Conselho de Estado antes de tomar uma decisão que acabou por ser só dele. Uns dias depois da reunião, secreta, sigilosa, como compete a um altíssimo e respeitabilíssimo órgão de consulta, apareceu no jornal “Público” o relato de tudo o que tinha acontecido na reunião. Quem tinha dito o quê, quem tinha votado a favor e contra a manutenção do Governo do PS com um primeiro-ministro nomeado pelo primeiro-ministro demissionário. Apareceram as fotografias, as cabecinhas de quem tinha votado o quê, para não restarem dúvidas sobre a denúncia. E assim o sigilo se foi, na maior indignidade do denunciante que, percebe-se, desejou com isto beneficiar o PS e dizer que gente respeitável como o general Ramalho Eanes queria que o Governo continuasse. Quebra de sigilo neste órgão deveria constituir motivo necessário e suficiente para a sua dissolução. Deixou de ser o que pretendia ser.

A seguir, o Presidente tomou a responsabilidade da decisão de dissolver, deixando o Governo em funções mais uns meses. Decisão salomónica, que ninguém parece ter apreciado. Agradeceu ao primeiro-ministro demissionário a dignidade e elevação e os anos de serviço público. Faltavam mais anos do que os que o Presidente referiu, porque António Costa está na causa pública desde sempre. Nunca fez outra coisa na vida senão servir a causa pública, o que torna a saída de cena mais patética. Foi de missionário a demissionário.

Uma hora mais tarde, mais ou menos, o primeiro-ministro demissionário falou aos jornalistas em frente à sede do PS, antes de uma reunião. Num pequeno comício, criticou com aspereza e deselegância a decisão do Presidente e apresentou a solução, um Governo liderado por Mário Centeno, governador do Banco de Portugal. Elogiou Centeno, um tecnocrata com boa reputação, disse, conhecedor dos assuntos europeus, tendo desempenhado um cargo internacional. As mesmas razões por que, in illo tempore, consta, Costa decidiu arrumar Centeno no Banco de Portugal e afastá-lo de uma carreira internacional que cobiçava. Centeno tinha uma sombra pesada, era agora o salvador da pátria. Centeno estava em silêncio.

Entretanto, soubemos pelos jornais duas coisas. Que Pedro Nuno Santos ia avançar e que José Luís Carneiro também. Soubemos a seguir que Pedro Nuno Santos tinha almoçado com a personagem Ascenso Simões, o que logo indicia que os almoços continuam a ser uma tradição inquebrável em Portugal, com gastos despiciendos ou sem. A personagem Ascenso confessou ao “Observador” que Vítor Escária precisava de duas lambadas na cara. Não se sabe se terá dito focinho, a fórmula química exata de frase tão portuguesa.

Entretanto, o advogado do dito Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro, esclarecia que o dinheiro escondido nos livros e nos vinhos era legal, e resultava de uma coisa antiga, “em Angola”. E o advogado do “amigo” Diogo Lacerda Machado esclarecia que não havia nada na indiciação e que o Ministério Público iria abaixo, uma frase dotada de grande peso jurídico.

Havia ainda a história do ministro caído em desgraça Galamba, que apesar de estar nas histórias do lítio e do hidrogénio verde, era denunciado como consumidor de haxixe, “em casa”, e como tendo usado o carro e o motorista da função para levar as filhas e para ir “buscar vinho”. A preponderância dos vinhos nesta história está por investigar, pode haver uma correlação. Talvez a operação se devesse chamar “Under the Influence”, o termo inglês para condução sob o efeito do álcool, em vez de Influencer. Galamba, do alto da dignidade, disse que não se demitia. E que tinha condições para continuar.

Entretanto, Mário Centeno quebrou o silêncio para dizer que tinha sido convidado, ou sondado, para primeiro-ministro por Marcelo Rebelo de Sousa, uma entidade diferente do Presidente. O Presidente nunca faria as coisas que o Marcelo faz. E foi o Presidente que lhe respondeu, dizendo que não era verdade e que jamais o tinha convidado ou sondado. Mário Centeno, prudentemente, retratou-se, e disse que afinal não tinha sido convidado pelo Presidente. Era mentira. A bem da dignidade.

Entretanto, o primeiro-ministro falou à Nação, apesar de estar demissionário, em breve demitido quando os pró-formas se efetivarem. Fez um novo comício de autodesculpabilização usando a sede do Governo e, em tom magoado, disse que nunca tivera amigos, porque um político da craveira dele não tem amigos, e que o dinheiro vivo que matou Escária, e o matou a ele, era uma vergonha e não sabia de nada.

O povo acredita, e acredita que António Costa nunca desviou um cêntimo para si mesmo. Não acredita que não tivesse lido o currículo de Escária quando o contratou como chefe de gabinete e que não soubesse que tipo de amizade entretivera com Lacerda durante tantos anos, em que Lacerda se inseria em tudo o que era grande negócio do Estado com o aval e complacência de Costa. Costa, inchado de húbris, cai sobre a própria espada.

Em seguida, soubemos que Pedro Nuno Santos ia “conversar” com Ana Catarina Mendes, em vez de “almoçar”. A grande vantagem das mulheres é não apreciarem almoçaradas. Nem gastos não despiciendos. Pelo menos, em comida. Por causa da linha, as mulheres são muito disciplinadas.

Entretanto, o dito Galamba, que nunca se demitiria e tinha condições para continuar, demitiu-se. Antes, tinha avisado, se certas coisas não fossem feitas, por ele, entenda-se, perdíamos os milhões do PRR. Depois de mim, o dilúvio.

Fiquemos por aqui. Qualquer outro partido que fizesse metade, um terço destas patifarias e trapalhices, já teria sido engolido vivo. O Partido Socialista, o seu corpus e a sua ideologia esparsa e difusa, tanto é de esquerda como de centro como não é nada a não ser a favor da sobrevivência política e pessoal, possui uma resistência aos escândalos e desaires que os outros partidos não têm. António Costa é o perfeito exemplar deste estado de coisas. Passos Coelho foi crucificado por muito menos. O PS sobreviveu ao escândalo da Casa Pia, a única vez que correu perigo sério e em que atiraram a matar para destruir o partido e seus dirigentes, sobreviveu à demissão de Guterres, e fuga, sobreviveu ao escândalo de Sócrates, único na história de democracia portuguesa, sobreviveu aos erros e horrores da pandemia (que não foi o sucesso imputado a Costa, que a certa altura estava mais interessado em trazer para Portugal um campeonato de futebol do que no confinamento, chamando a isto um “prémio” aos médicos e trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde — a mais asinina frase da democracia portuguesa) e sobreviveu aos escândalos deste Governo. Pedrógão, Tancos, negócios corruptos da Defesa, o transfronteiriço de outro nomeado de Costa com cadáveres no armário, e as guerras com os professores e os médicos. Fora o resto. A pouco e pouco, por inércia, incompetência e arrogância do Governo, vimos esboroarem-se o SNS e a educação pública.

Ora nada disto faz parar o PS para pensar. O PS julga-se o único partido competente e inteligente para governar a pátria, e acha-se o destinatário de um direito divino. O PS comporta-se como uma monarquia, com famílias reais, uma aristocracia que não renuncia aos privilégios, uma corte de serventes e serviçais, e direitos dinásticos. O mote real é “Habituem-se!”. A insígnia é “contra tudo e contra todos”.

São socialistas e basta, o título sugere uma supremacia moral. Este PS não aceita pactos de regime, usa a direita ou a esquerda conforme lhe convém para se manter à tona. E acha-se a única garantia contra o Chega e a ameaça corporizada em André Ventura. Na verdade, usa Ventura como o papão da democracia, tal como usara Passos Coelho como o papão da austeridade e da justiça social.

Com o mestre da sobrevivência António Costa, todas estas características se acentuaram, agravadas pelo facto de o pessoal político se ter desqualificado. A aristocracia dos tempos da fundação era agora um corpo de videirinhos e trepadores sociais, com raras exceções. A prova disto é que em Portugal a única coisa que se discute é dinheiro, ou a falta dele.

O mundo está a arder, as causas ditas humanistas ou ideológicas regressaram, há um veio de idealismo que reaparece quando há guerra e crise aguda das nações e das potências. Aqui, no cantinho, discute-se a conta da mercearia e quem roubou no peso. Este PS não vai sair de cena com facilidade, não admite a derrota, não tem escrúpulos morais. Não tem emprego.

Um fraco rei faz fraca a forte gente”, disse Luís de Camões.

(Clara Ferreira Alves no Espesso em 16 novembro 2023 08:23)