terça-feira, 6 de junho de 2023

barragem hidroelétrica de Kakhovka

A água da barragem da central hidroelétrica de Kakhovka, que explodiu esta terça-feira, 06 Junho 2023, já está a atingir povoações nas margens do rio Dnipro, na Ucrânia.
.
A central nuclear de Zaporijia não enfrenta "perigo imediato" na sequência das cheias provocadas pela destruição parcial da barragem hidroelétrica de Kakhovka no rio Dnipro, disse a Agência Especial de Energia Atómica.

por eles!

"It was the biggest seaborne operation in history, and whilst the Allies claimed victory on the Western Front, more than 10,000 people lost their lives.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

...e há seis meses acabou-se a massa!

  Os funcionários públicos fazem greve porque estão cada vez mais longe no comboio das carreiras e dos salários dignos.
  Os polícias manifestam-se contra a degradação das condições em que trabalham e do desrespeito de que são alvo há anos. […]
  O optimista PM que manda na maioria absoluta, imune a crises, vai sorrindo e acenando. Mesmo que substitua em média um governante por mês, […]
  O mesmo PM que, depois de trazer ao seu executivo 50 pessoas com relações familiares, criou a "Lei dos Primos" apenas para a quebrar no governo absoluto, com a nomeação de Dois Irmãos.
  O mesmo PM que descarta a chegada do diabo, apesar de os alarmes se terem tornado ensurdecedores
- Inflação sem dar sinais de abrandamento,
. débil crescimento do país,
- Juros a subir à alta velocidade com que se esboroam as poupanças,
- Famílias já a cortar na comida...
Se ainda assim o PM Costa não vê o diabo, talvez seja bom pedir ao selecionador nacional que interceda por nós.

a Pitonisa Tania !

Só para confirmar se a Tania Pereirinha acertou na previsão:
Nesta noite de domingo, 30 de outubro de 2022, Jair Bolsonaro perdeu muito mais do que a reeleição à presidência do Brasil. Ou melhor, vai perder: assim que o próximo ano começar e o ainda Presidente abandonar o cargo, a prerrogativa especial que lhe concede imunidade e o impede de ser julgado pela Justiça Comum também vai chegar ao fim.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

os mais velhos, as mulheres, os menos instruídos...

A análise feita aos "dados micro" (instrução, idade e género) da sondagem à boca de urna feita pela Pitagórica no dia das eleições legislativas demonstra que o Parlamento teria seguramente outra composição - sem maioria absoluta do PS - se o eleitorado fosse mais jovem, mais masculino e mais instruído. Essa sondagem fez-se com recolha de dados em urna de 33157 eleitores, espalhados por 55 freguesias dos 18 distritos do continente.
Magalhães e Cancela sublinham é que desta vez, nestas eleições, "tudo aponta" para que tenha ocorrido, pela primeira vez, um gender gap : "o voto feminino mais à esquerda que o voto masculino".
O partido mais claramente feminino no seu eleitorado é o PAN (71% de mulheres e 29% de homens). A seguir, o PS (57% de mulheres e 43% de homens). E depois, por esta ordem, do mais feminino para o menos: Bloco de Esquerda, CDS, PSD (o único partido rigorosamente paritário), Livre, CDU, Iniciativa Liberal (IL) e Chega (o partido mais masculino de todos, onde quase dois em cada três eleitores são homens)."O modern gender gap português é criado por novos partidos, com capacidades de atração muito diferentes para homens e mulheres", mas "a feminização dos votantes" do PS "também contribuiu para esse fenómeno."
Outra variante analisada foi a idade dos eleitores. Desmentindo a ideia de que a CDU tem um grave problema de envelhecimento eleitoral, verifica-se que na verdade isso é muito mais notório no PS. O PS é notoriamente o partido com o eleitorado mais envelhecido - e, portanto, ganha com o facto de Portugal ser um dos países mais envelhecidos do mundo (o quarto na UE e o quinto do mundo, atrás do Japão, Itália, Grécia e Finlândia). No PS, só 15% dos eleitores são da faixa etária dos 18-34 anos. A partir daí, 37% têm entre 35 e 54 e quase metade (48%) têm 54 ou mais.

Quem foi então beneficiado com o voto jovem? Os autores do estudo concluíram que "os partidos mais novos - Chega, PAN, Livre e (especialmente) IL - foram desproporcionalmente mais apoiados pelos votantes mais jovens".
Ou, dito de outra forma: "Há um contraste claro entre os partidos "estabelecidos" e os novos a este respeito, com o BE e o Chega a ocuparem uma posição intermédia." No campeonato da juventude, o IL distingue-se claramente: quase metade dos seus eleitores tem 34 anos ou menos. Se só votassem os eleitores com menos de 25 anos, o IL ficaria em terceiro lugar - e o PSD venceria, deixando o PS em segundo.
Quanto a graus de instrução, o estudo revela que o PS é o partido com maior percentagem de eleitorado com menos que o ensino secundário completo (43%). Já o partido com menos eleitores com formação universitária (21%) é o Chega. Os "fenómenos" são o IL e o Livre: em ambos, "três em cada cinco votantes têm um diploma universitário".
Em síntese: 
"Esta eleição reforçou alguns elementos que já estavam presentes em atos anteriores, como a capacidade de o PS atrair o voto do eleitorado mais velho e a preferência dos eleitores mais instruídos por partidos à direita do espetro político."
A resposta à pergunta em título é então a seguinte: os mais velhos, as mulheres, os menos instruídos.
Há, porém, "novas pautas": a "emergência de uma assimetria de género no comportamento eleitoral" e a "assinalável capacidade do Iniciativa Liberal e do Chega em atrair o voto de segmentos muito específicos do eleitorado". joao.p.henriques@dn.pt


sexta-feira, 26 de maio de 2023

operação "tutti frutti" e não só...

"Com António Costa e pelo menos cinco ministros a serem investigados, o líder do XXIII
governo constitucional tem de se preocupar mais com o Ministério Público e a Polícia Judiciária do que com os deputados da Assembleia da República e a ameaça presidencial de dissolução. 
Está o pânico instalado entre os governantes. Só assim se justifica que o PS tenha chumbado várias iniciativas da oposição parlamentar, tais como os pedidos dos telefonemas e comunicações entre António Costa, Mendonça Mendes e João Galamba, de audições de diversos governantes e responsáveis dos serviços de informações, bem como de outra diversa documentação, designadamente as notas de Frederico Pinheiro relativas da reunião entre o (ainda) ministro das Infraestruturas e Christine Ourmières-Widener, a 16 de Janeiro de 2023." ()

"Ao primeiro sinal, as placas tectónicas do PSD colidiram. A Operação Tutti-Frutti atingiu em cheio o universo social-democrata e precipitou uma troca de acusações entre a atual equipa de Luís Montenegro e o que resta da resistência rioísta, célula que opera, sobretudo, no Parlamento. A forma como a direção do partido geriu as primeiras reações ao caso fez com que os antigos apoiantes de Rui Rio antecipassem uma eventual limpeza de balneário e tentassem condicionar de imediato a presidência social-democrata. Tudo somado, antecipam-se novas guerras internas no futuro." (Miguel Santos Carrapatoso no Observador )

"Em França, o Partido Socialista quase desapareceu: elegeu um péssimo presidente da República, que governou indecentemente o país, e, em compensação, os eleitores remeteram-no para o caixote do lixo da política. Hoje, o partido nem sede tem em Paris. Em Portugal, o PS levou o país à falência, chamou a troika, teve um primeiro-ministro detido e hoje governa o país com maioria absoluta no meio das mais absurdas trapalhadas. Perante este cenário, paradoxalmente, o mais provável será o desaparecimento ou a irrelevância política do PSD, que diariamente sangra para o Chega nas sondagens. A culpa é dos eleitores? Não, a culpa é de Pedro Passos Coelho que nunca mais toma conta daquilo." 
(Rui Albuquerque no FeiceBuque)

“Tenho dúvidas, o PSD será alternativa. Se será ou não fugaz, como o foi nas duas ocasiões
em que esteve no poder nos últimos 30 anos, é outra questão.
O eleitorado português é profundamente conservador. Um movimento populista como o Chega veio para ficar, mas tenho sérias dúvidas de que conduza o PSD a essa irrelevância.
Tal como o PS - é esse o ponto relevante - não o será, apesar de ter sido um desastre na governação, num patamar que na maioria dos restantes países europeus resultaria no seu desaparecimento.” (Ricardo Prata no FeiceBuque)


sábado, 20 de maio de 2023

TAP. Comissão de Inquérito Contradições.

Já nada surpreende!
É só querer seguir o padrão, sempre o mesmo, sem cair na esparrela das muitas "distrações" plantadas, para poder descobrir a verdade entre tantas e sucessivas omissões e mentiras.

sábado, 13 de maio de 2023

Eutanásia!

A declaração feita num encontro com centenas de representantes da União Mundial das Organizações Femininas Católicas (WUCWO), no Auditório Paulo VI, quando se referia às celebrações do 13 de maio, “dia em que se celebram as Aparições da Virgem Mãe aos Pastorinhos de Fátima”: "Hoje estou muito triste, porque no país onde apareceu Nossa Senhora foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista dos países que aprovaram a eutanásia”

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Novo chefe do Tribunal Constitucional

em tempo de proibições. Uma a uma. Primeiro as mais fáceis…

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
e o vento nada me diz.
[mas]
…em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.


quinta-feira, 4 de maio de 2023

o SIS é uma policia?

A atuação do SIS, liderado por Neiva da Cruz, está na mira após a intervenção das secretas para recuperar o computador governamental atribuído a Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro das Infraestruturas João Galamba, que terá informação classificada da TAP.
Mas dois deputados do PS e um do PSD (Joaquim Ponte, Constança Urbano de Sousa, Mário Belo Morgadodo
Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República Portuguesa (SIRP) concluíram esta quarta-feira que não houve uma “atuação ilegal por parte do SIS — Serviço de Informações de Segurança” na recuperação do computador de Frederico Pinheiro, ex-adjunto que foi exonerado por João Galamba. 
Para chegar a essa conclusão, o órgão que escrutina o funcionamento do SIS e do SIED não ouviu Frederico Pinheiro...

os conselheiros "quarentões..." do sexagenário

tomei nota:
António Costa (62) rejeitou a demissão do João Galamba (47), em quem mantém confiança pessoal e política, após a reunião com Fernando Medina (50), Pedro Adão Silva (49), Duarte Cordeiro (49), Mariana Vieira Silva (45) e António Mendonça Mendes (47) da de coordenação política do governo.

os reiventores da constituição

Até 2015 o regime funcionou como queriam os pais da Constituição.
1 - qualquer dos Presidentes (Eanes, Soares, Sampaio, Cavaco…) manteve sempre uma prudente e saudável distância dos Governos;
2 - todos os partidos respeitaram a ideia de que quem ganha eleições, mesmo em minoria, tem direito a governar.

Em 47 anos de constitucionalismo nunca se viu nada como nos últimos 7. Quando o legislador pensou a Constituição, limitou o parlamentarismo entregando poderes efetivos ao Presidente, para evitar a repetição da 1.ª e da 2.ª Repúblicas. Daí a eleição por sufrágio universal e direto e a entrega do poder de dissolução do Parlamento.
Com Costa e Marcelo as coisas mudaram. Costa perdeu eleições, orquestrou uma maioria de esquerda, chumbou o governo minoritário de Passos Coelho e assumiu o poder. Marcelo passou mandato e meio aos beijinhos com o governo. E deixou cair o bastão da “détente” que deve estar sempre na mão do Presidente. Em alguns momentos foi exasperante ver o Presidente aparecer quase como porta-voz do pior governo da 3.ª República…
Esta semana António Costa deu mais um passo na “reinvenção” (leia-se defenestração) do tal regime nascido em 1976: do regime: afrontou o Presidente, recusando a demissão de um ministro que arrastou a dignidade do Estado pela lama. Isto, a prazo, só pode correr mal. Aguardemos…

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Pinto de Sousa anuncia o Acordo com o FMI/FEEF

«O rating da República baixou abruptamente,
  as taxas de juro dispararam em todos os prazos;
  as empresas portuguesas viram os seus ratings em níveis nunca antes atingidos.
Toda esta situação tornou-se perigosa para a nossa economia e sistema financeiro».

cronica de uma crise politica

os desenvolvimentos políticos de Terça-Feira, 3 de Maio.
a linha do tempo desta tarde:

· O ministro das Infraestruturas, João Galamba, começou por reunir com o primeiro-ministro esta manhã;
· António Costa convocou depois o seu núcleo político. A reunião de coordenação política do Governo contou com a presença de Fernando Medina, Pedro Adão e Silva, Duarte Cordeiro, Mariana Vieira da Silva e António Mendonça Mendes;
· Costa reuniu com Marcelo em Belém e seguiu-se uma coreografia de movimentações: o primeiro-ministro sai da residência oficial do Presidente e só chega a São Bento quase uma hora depois (o trajeto levaria cerca de 15 minutos). Nos entretantos, Marcelo deixa Belém e Galamba sai das instalações do Ministério ‘descaracterizado’ – sem gravata e noutra viatura;
· O ministro das Infraestruturas apresentou a sua demissão ao primeiro-ministro alegando a necessidade de “tranquilidade institucional”;
· Costa rejeitou o pedido e disse em conferência de imprensa que mantém confiança pessoal e política no ministro, invocando a sua crença nos factos apresentados por Galamba que, diz, foi vítima de um “incidente deplorável” no Ministério;
· Marcelo Rebelo de Sousa discorda com a atuação do primeiro-ministro, mas não concretiza se utilizará algum dos seus poderes – desde o pedido de formação de um novo Governo à chamada “bomba atómica”, a dissolução da Assembleia da República;
· Partidos da oposição divergem nas reações. Partidos da esquerda afastam cenário de dissolução e pedem uma “remodelação” no Governo, tal como já sugeriu o presidente do PS, Carlos César. Partidos da direita são mais duros nas críticas e nas exigências ao Presidente da República;

22h11 Rui Tavares não quer dissolução da Assembleia da República

O representante do Livre, Rui Tavares, reage também à decisão do primeiro-ministro alertando para os riscos associados a uma dissolução parlamentar por parte do Presidente da República.
“Era bom saltar da frigideira para o fogo?”, questiona o deputado, que acha que esse cenário “não seria bom para o país”.
Tavares diz que tanto o primeiro-ministro como o Presidente falaram “a partir da sua consciência” e acrescenta que a sua própria consciência lhe diz “que isto não é bom para o país”.
“O primeiro-ministro apresenta como uma espécie de bravata contra o populismo este último ano. Não é com bravatas”, acrescenta.

22h04 Catarina Martins diz que Governo está “absolutamente descredibilizado”

A coordenadora do Bloco de Esquerda soma-se às críticas da oposição à atuação do primeiro-ministro. Os sucessivos casos envolvendo membros do Governo e do PS têm descredibilizado o Executivo, diz.
Catarina Martins mostrou-se também “surpresa” pela declaração de António Costa sobre aquilo que classifica como uma “coboiada do Ministério das Infraestruturas”.
O Governo, diz, está assombrado por ministros que “mentem sobre a relação com uma importante empresa pública portuguesa”.
“A maioria absoluta [do PS] foi uma espécie de ‘carta branca’ para que os ministros pudessem fazer o que lhes apetecia”.
Sobre uma eventual dissolução da Assembleia, a líder bloquista também não crê que a solução seja a mais imediatamente exigível ao Presidente da República. “O país não tem muito tempo”, refere, defendendo uma remodelação do Governo, tanto ao nível dos membros do Executivo, como das políticas centrais.

21h55 Ventura questiona se Costa “está bem mentalmente?”

Em conferência de imprensa e a reforçar o comentário deixado no Twitter poucos minutos antes, André Ventura questiona “a posse de toda a sua capacidade [mental]” do primeiro-ministro.
O líder do Chega mantém a crença numa mentira por parte de João Galamba no que diz respeito às reuniões com a ex-CEO da TAP. Diz ainda que António Costa deveria ter respeitado a opinião da Presidência e, em última análise, a decisão do ministro das Infraestruturas.
O representante do partido acredita que o primeiro-ministro está a tentar provocar a dissolução da Assembleia da República — um cenário que não só deitaria abaixo o Governo, como todas as comissões parlamentares, entre elas a de inquérito à TAP.
“António Costa veio fazer um exercício de vitimização”, sublinha.

21h49 “A questão essencial não é a entrada ou saída de ministros”, diz PCP

Em reação à decisão do primeiro-ministro, Paula Santos do PCP refere que a preocupação dos comunistas não se prende com o carrocel de nomes a entrar ou a sair do governo, mas sim “dar resposta aos problemas que afetam os trabalhadores e o país”.
“O que tem prejudicado o país são as políticas do Governo”, acrescenta.
“As opções políticas por parte do Governo e do PS não se distancia de outros partidos como o PSD, a IL ou o Chega”, diz a lídar parlamentar do PCP.

21h42 Inês Sousa Real: Portugal não pode continuar “refém do braço de ferro entre Costa e Marcelo”

Inês Sousa Real, do PAN, diz-se “surpresa” pela decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba na pasta das Infraestruturas, mesmo depois deste ter apresentado um pedido de demissão.
“Não podemos continuar a ter o país refém do braço de ferro entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa”, diz a deputada única do partido.
À semelhança do presidente do PS, Carlos César, Sousa Real diz que Marcelo tem opções além da dissolução da Assembleia da República, nomeadamente a possibilidade do Presidente de exigir a formação de um novo Governo a António Costa.
“O PAN cá estará pronto para apresentar as soluções”, reforça.

21h40 “É a humilhação pública do Presidente”, diz Rui Rocha

O líder da Iniciativa Liberal diz que a decisão de Costa representa uma “humilhação pública do Presidente”. Acrescenta que “a única maneira de repor a normalidade democrática é a dissolução”.
“O que aconteceu hoje é incidente gravíssimo. É um desafio claro à autoridade do senhor Presidente da República. Estamos perante um cenário de conflito institucional aberto”, salienta o liberal.
“Aquilo que o primeiro-ministro quis fazer esta noite é uma humilhação pública do Presidente da República (…) Não vejo outra solução que não usar os seus poderes”, diz ainda.

21h35 CDS exige dissolução da Assembleia da República

Numa nota enviada às redações, o líder do CDS Nuno Melo diz que “o regime caiu no fundo. Se a demissão de João Galamba era insuficiente – a manutenção no cargo pelo primeiro-ministro significa a desconsideração de mínimos de ética na política”
“A conjuntura da governação está pior do que antes, num pântano que se adensa. A repetição permanente de casos e a total ausência de estatura e sentido de Estado de governantes degrada e mina perigosamente a credibilidade das instituições democráticas. Afrontando o Presidente da República, desvalorizando as preocupações de Belém e a percepção geral do país, o primeiro-ministro coloca o governo num plano insustentável”, acrescenta.
“O CDS encontra hoje razões acrescidas para reafirmar o pedido de dissolução da Assembleia da República e a realização de eleições antecipadas”, remata Nuno Melo.

21h29 Marcelo não concorda com decisão

O Presidente da República já emitiu uma nota oficial de comentário à decisão de António Costa. Diz Marcelo Rebelo de Sousa que “discorda da posição desde quanto à leitura política dos factos e quanto à perceção deles” por parte dos portugueses.
Leia a nota na íntegra:

“O Ministro das Infraestruturas apresentou hoje o seu pedido de demissão, invocando razões de peso relacionadas com a percepção dos cidadãos quanto às instituições políticas.
O Primeiro-Ministro, a quem compete submeter esse pedido ao Presidente da República, entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável.
O Presidente da República, que não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do Primeiro-Ministro, discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à percepção deles resultante por parte dos Portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem”.

21h25 Discrição das conversas com Marcelo “é base essencial da confiança”

Costa diz que não comenta nem nunca comentou ou comentará as conversas que mantém com o Presidente da República e sublinha que essa “discrição” dos assuntos de Estado é imperativa para o equilíbrio institucional que o chefe do Governo mantém com a Presidência. “É uma base essencial de confiança”, diz.
“Oiço com muita atenção o que diz o Presidente da República, e considero muito a opinião do Presidente da República, como é meu dever e sentimento geral do país. Muitas vezes concordamos, outras vezes não”, acrescenta.

21h18 “O PS é um partido de gente livre”

Sobre as recentes críticas por parte do presidente do Partido Socialista, Carlos César, António Costa diz que tomou conhecimento da entrevista e refere que “o PS, felizmente, é um partido de gente livre”. “É bom que o presidente do PS presida a essa liberdade dos socialistas”, salienta.
“Tomei boa nota da opinião de Carlos César”, acrescenta com um sorriso.

21h14 Governo respeitará “qualquer decisão do Presidente da República”

Ainda sobre a eventual atuação de Marcelo Rebelo de Sousa, com quem o primeiro-ministro esteve hoje reunido durante mais de uma hora e meia, Costa diz que não fará “especulações”, mas recorda que os portugueses “foram muito claros” nas eleições que deram maioria absoluta ao PS.
“O Governo está cá para respeitar qualquer decisão do Presidente da República”, reforça.

21h11 Dissolução? “Há um domínio amplo de incerteza”

Ao dizer que assume todas as responsabilidades, António Costa não concretiza se se coloca em causa uma dissolução da Assembleia da República por parte do Presidente:
“O exercício de PM exige muitas vezes a disponibilidade para a solidão e tomarmos as decisões que temos que tomar e arcar com as responsabilidades. Já disse há pouco: era muito mais fácil ter aceite o pedido de demissão. Em boa consciência, não o podia aceitar. E prefiro ficar de bem com a minha consciência.
Tenho esperança que o futuro demonstre que a minha decisão foi acertada. Há um domínio amplo de incerteza. Agora há uma coisa que tenho por certo: o que me diz a minha consciência. Não posso imputar ao Dr. João Galamba nenhum ato ou nenhuma omissão que determinem a sua demissão”, diz.

21h04 “Escolho a minha consciência”, diz Costa

Num pedido de desculpas reforçado, o primeiro-ministro reafirma a confiança em João Galamba que, diz, muitos surpreendeu ao revelar-se “um excelente secretário de Estado” e que dará “um excelente ministro”.
Caso essa excelência não se comprove, diz, a responsabilidade é do próprio primeiro-ministro.
“Nem sempre é fácil tomar decisões. Seria muito mais fácil seguir a opinião dos comentadores e aceitar a demissão, e ouvir a generalidade dos agentes políticos. Mas, entre a facilidade e a consciência, lamento desiludir os que vou desiludir, mas escolho a minha consciência”, termina.
Já em conferência de imprensa, diz que não pode “prescindir de um membro do Governo que deu provas ao longo dos anos da sua competência”.

20h59 Costa não aceita demissão de João Galamba

“O cenário político do país tem sido marcado nos últimos dias por um deplorável incidente, ocorrido no Ministério das Infraestruturas, que a todos os títulos é deplorável”, começa por dizer.
“A nome do Governo, quero apresentar desculpas aos portugueses”, continua. “Trata-de se um incidente de natureza excecional, mas que fere o dever do Governo de contribuir para o prestígio e credibilidade das instituições”
“O senhor ministro das Infraestruturas dirigiu-me uma carta, apresentando o seu pedido de demissão. Tenho consciência que a demissão do ministro das Infraestruturas tem sido insistentemente reclamada […] pela generalidade dos agentes políticos. Trata-se de um gesto nobre que eu respeito, mas que em consciência não posso aceitar”, acrescenta o primeiro-ministro.
“Procurei informar-me detalhadamente sobre o ocorrido, e em minha consciência tenho o entendimento que o ministro das Infraestruturas não procurou de forma alguma ocultar qualquer informação à comissão parlamentar de inquérito”, diz ainda.
“Pelo contrário, o facto que determinou a sua decisão de demitir um colaborador foi precisamente a suspeita de que esse colaborador estava a ocultar informação solicitada pela comissão parlamentar de inquérito. Foi o próprio ministro das Infraestruturas que entregou à CPI a documentação solicitada”.

20h43 Montenegro reage

O presidente do PSD diz que a saída de Galamba “diz muito sobre a liderança – ou falta dela – do primeiro-ministro”.
Num tweet publicado pouco depois da demissão do ministro, o líder da oposição classifica a mais recente baixa no Executivo como uma falha imputável ao chefe do Governo.

20h28 Costa fala ao país esta noite

O primeiro-ministro fala ao país às 20h45. A confirmação surge numa nota do gabinete de António Costa, enviada pouco depois da demissão do ministro das Infraestruturas.

20h19 João Galamba demite-se

Nota do ministro demissionário, que apresentou há momentos a sua demissão.
“Comunico que apresentei, agora mesmo, o meu pedido de demissão ao Senhor Primeiro-Ministro.
No atual quadro de perceção criado na opinião pública, apresento o meu pedido de demissão em prol da necessária tranquilidade institucional, valores pelos quais sempre pautei o meu comportamento e ação pública enquanto membro do Governo.
Numa altura em que o ruído se sobrepõe aos factos, à verdade e à essência da governação, é fulcral reafirmar que esta Área Governativa, que me orgulho de ter liderado, nunca procurou ocultar qualquer facto ou documento.
Demito-me apesar de em momento algum ter agido em desconformidade com a lei ou contra o interesse público que sempre promovi e defendi na minha atuação enquanto governante, tal como foi, detalhada e publicamente, reconhecido pelo Senhor Primeiro-Ministro.
Reitero todos os factos que apresentei em conferência de imprensa sobre os acontecimentos ocorridos e reafirmo que sempre entreguei à Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP toda a documentação de que dispunha.
Considero que a preservação da dignidade e a imagem das instituições é um bem essencial que importa salvaguardar, tal como a minha dignidade, a da minha família e a das pessoas que comigo trabalharam no Gabinete e que foram nestes últimos dias gravemente afetadas.
Agradeço ao Senhor Primeiro-Ministro a honra de me ter permitido participar no seu Governo e agradeço ao Senhor Secretário de Estado das Infraestruturas e ao meu Gabinete todo o trabalho e dedicação que colocaram ao serviço do interesse público.
Por fim, apresento as minhas desculpas à minha Chefe do Gabinete e às minhas assessoras de imprensa que mesmo sob agressão tudo fizeram para proteger os interesses do Estado e que viram, nestes últimos dias e de modo insustentável num Estado de Direito, a sua dignidade afetada.”

19h44 Costa chega a São Bento

O primeiro-ministro já chegou à residência oficial do primeiro-ministro, cerca de uma depois de sair da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa. O percurso normal demoraria cerca de 15 minutos.
Não se confirma ainda que haja uma comunicação por parte de António Costa esta noite.

19h32 João Galamba saiu agora do edifício do Ministério

O ministro das Infraestruturas deixou as instalações do ministério que tutela.
António Costa já saiu de Belém há cerca de 40 minutos – é incerto se se desloca para a residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento.
O primeiro-ministro reuniu com o ainda ministro das Infraestruturas esta tarde, mas nenhum dos dois fez qualquer comentário sobre a conversa.

19h28 Marcelo Rebelo de Sousa de saída de Belém

Marcelo Rebelo de Sousa também já saiu da residência oficial do Presidente da República, após reunir com o primeiro-ministro.
A agenda pública do Presidente não tem nada previsto para o dia de hoje.
“Parece-me um pouco estranho que vá agora para casa”, diz a comentadora da CNN Portugal Anabela Neves. “Hoje, num fim de tarde como este… Todos os sinais merecem alguma leitura. Não achei normal esta saída do Presidente no seu carro oficial, não se sabe bem para onde”.

19h17 Reunião terminada. Remodelação alargada fora de questão

Dá-se por terminada a reunião entre o primeiro-ministro e o Presidente da República. O encontro, pedido por António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa, demorou mais de uma hora e meia. O chefe do Governo deverá seguir agora para São Bento, não estando ainda confirmado se falará ao país esta noite.
Contudo, e apesar de pouco se saber do teor da reunião, o Expresso avança que o primeiro-ministro não apresentou uma proposta de remodelação alargada do Governo, como muito se tinha especulado.
Ao Jornal Económico, esta tarde, o politólogo José Adelino Maltez destacou que Costa “costuma escolher entre a corrente e não ceder a pressões”. Sobre João Galamba, o mesmo especialista diz o comportamento do ministro não são compatíveis com o que se exige de uma figura do Governo.
A esta reunião antecedeu-se uma outra. Vários membros do núcleo político do Governo estiveram à mesa com o primeiro-ministro esta tarde. Deste grupo de coordenação política estiveram presentes Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina, Duarte Cordeiro, Pedro Adão e Silva, e o secretário de Estado adjunto António Mendonça Mendes.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Santos Silva justificou o pós-ralhete nos bastidores...

Para que os leitores tenham todas as informações, o Observador, além de ter retirado do vídeo a palavra contestada por Santos Silva, publica aqui na íntegra a nota do gabinete do Presidente da Assembleia da República:(PAR):
.
“O Gabinete do PAR vê-se lamentavelmente obrigado a corrigir uma peça divulgada pelo Observador, já que o PAR nunca se referiu à IL nos termos divulgados.
Quando é mencionada uma candidatura a uma vice-presidência da AR, o PAR não se estava a referir à IL. Basta ter em conta as exortações públicas que o PAR já fez para a apresentação de uma nova candidatura da IL a uma vice-presidência.
Em segundo lugar, apesar das deficientes condições sonoras da gravação, o PAR nunca se referiu ao protesto da IL como representando falta de integridade política, mas sim (som não totalmente perceptível), o que afirmou foi que o protesto não revelou falta de educação, mas falta de maturidade política.
Lamenta-se que uma conversa informal e privada (cuja gravação sonora não foi autorizada) tenha sido tornada pública nestas condições, em que a legendagem surge distorcida exatamente nos pontos, que o jornal decide valorizar no título, que vieram a provocar uma polémica totalmente injustificada.”

 

quarta-feira, 26 de abril de 2023

outras maneiras de ver!

«A realpolitik tem dias 
para a nossa esquerda. 
Quando é invocada e praticada pelos “fascistas” da direita (...), 
isso só mostra a rendição abjecta aos interesses económicos. 
Quando é a esquerda a praticá-la, 
não há crime; 
é até uma virtude, em nome da igualdade 
e do bem-estar dos povos.
João Pereira Coutinho
22/04/23

 

terça-feira, 25 de abril de 2023

André Ventura, fora do contexto!

completamente fora do contexto da Cerimónia comemorativa do Golpe de Estado de Abril de 1974, mas, lamentavelmente verdadeiro!

por trás de um Grande-Colar, há sempre uma Grã-Cruz...

“Como se não bastasse ter enfiado Lula da Silva a martelo nas comemorações do 25 de Abril, criando a polémica que se conhece, Marcelo Rebelo de Sousa resolveu aproveitar a visita do Presidente do Brasil para agraciar o casal Lula com duas condecorações. Lula da Silva recebeu o Grande-Colar da Ordem de Camões, por promover as relações "entre os povos e as comunidades que se exprimem em português" - o que me parece apropriado. Rosângela Lula da Silva recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída a quem promove a "expansão da cultura portuguesa e dos seus valores" - o que me parece ridículo.
Rosângela Lula da Silva - uma socióloga de 56 anos que começou a namorar com Lula em 2018, tinha ele enviuvado há alguns meses da segunda mulher e quando ainda se encontrava na prisão - casou-se com o Presidente do Brasil em Maio de 2022. Foi há menos de um ano, e ainda se sente um certo entusiasmo de lua-de-mel. Todos conhecem Rosângela por Janja, o que dá um toque de familiaridade popular, e a sua ascensão mediática foi fulminante. Janja não desgruda de Lula; adora ser primeira-dama; é uma das suas principais conselheiras; e foi uma das grandes estrelas da campanha eleitoral. E pergunta o caro leitor: mas o que é que isso tem que ver com o facto de ela ter sido condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique? O ponto é mesmo esse: não tem nada que ver. A condecoração de Janja por serviços relevantes prestados à cultura portuguesa é aquilo a que tecnicamente se chama uma “marcelice". "Marcelices" são gestos gratuitos ou insensatos, em que o sentido de Estado nem sempre abunda, e que só mesmo Marcelo se lembraria de fazer. Por que raio é que a mulher de Lula da Silva foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D.Henrique? Que "serviços relevantes prestados a Portugal e à "expansão da cultura portuguesa" é que ela praticou nos últimos 11 meses? Ninguém sabe e, até agora, nada foi explicado - talvez porque a única explicação seja esta: as "marcelices" expandiram-se imprudentemente até as ordens honoríficas.
Graças à condecorada Janja, a pátria descobriu que o gesto não só não é inédito, como está à beira de se tornar tradição: Marcelo passou a atribuir condecorações por osmose e partilha de leito. Em 2017, condecorou o Presidente de Cabo Verde e a primeira-dama de Cabo Verde. Em 2018, condecorou o Presidente de Angola e a primeira-dama de Angola. As condecorações masculinas vão variando; a das mulheres é sempre a mesma: Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Atribui-se uma comenda como quem oferece um conjunto de pratos Vista Alegre.
Saloio, não? Desde a sua eleição, Lula da Silva já foi a muito lado, e Janja foi atrás dele. Os dois foram à Argentina - e Janja não foi condecorada. Foram ao Uruguai - e Janja não foi condecorada. Foram aos Estados Unidos - e Janja não foi condecorada. Foram à China - e Janja não foi condecorada. Vieram a Portugal - e pimba, uma banda a tiracolo e uma placa dourada para Janja, que, segundo a sua página de Wikipédia, é a primeira que recebeu até hoje. Grande Marcelo.
Parece um episódio irrelevante? Sim, se não levarmos nada a sério No seu convite para o 25 de Abril, Marcelo desvalorizou a questão da corrupção, ignorou a guerra na Ucrânia e ainda resolveu brincar à endogamia honorífica. Lula é um grande amigo de Portugal, donde, Janja também deve ser. É o novo provérbio de Belém: por trás de um Grande-Colar, há sempre uma Grã-Cruz.

o preocupante futuro do regime saído da Revolução de 74

A contratação da Inês Franco Alexandre para o gabinete da Ana Mendes Godinho, que defendeu o fecho da ponte 25 de abril com uma manif, não teria grande significado se fosse caso isolado. Mas não é.
Há poucos meses outro jovem, do mesmo quilate intelectual, Tiago Ramos Cunha, foi contrato pela ministra da Presidência. E se levarmos a análise mais longe, incluindo outras figuras gradas da Juventude Socialista (vg Miguel Matos, atual presidente, e o antecessor, João Torres), dá para perceber que quem escolhe estas pessoas dificilmente consegue explicar a sua utilidade para os gabinetes ministeriais. O que leva a pensar que são fretes feitos a alguém.
A perspetiva de ter esta geração de candidatos a políticos (Miguel Matos e João Torres incluídos) um dia no poder… é aterradora.
O que leva a concluir que nunca o futuro do regime saído da Revolução de 74 foi tão preocupante.

25 de Abril: Os meses do fim

Ao contrário do que estava previsto, o golpe de Estado de 25 de Abril não trouxe uma solução política para o problema do ultramar. Uma solução política pressupunha o envolvimento das populações num processo de participação e decisão. Não foi isso que aconteceu. O golpe de Estado determinou, ao contrário, uma solução militar, isto é, a resolução do problema ultramarino através de um simples entendimento entre as chefias militares portuguesas e as chefias dos partidos armados – nas quais, significativamente, também pesavam cada vez mais os líderes operacionais, em prejuízo dos políticos. A razão para tal desfecho esteve no modo como o golpe de Estado provocou a desagregação do dispositivo militar português no ultramar.
Ao contrário do que diz a lenda, a perspectiva de um “colapso militar” no ultramar não foi a causa do 25 de Abril, mas a sua consequência. Há muitas explicações para isso. Spínola ainda tomou a sério a “solução política”. Costa Gomes, em Maio, em Angola, explicou que a guerra continuaria, caso os partidos independentistas não desarmassem. O MFA não deve ter gostado. Os capitães não podiam permitir que se regressasse à guerra, porque isso poderia restabelecer a hierarquia militar e pôr em causa a ascendência do MFA nas forças armadas. Tentaram assim confrontar Spínola com factos consumados no ultramar.

Na Guiné, logo a 26 de Abril, houve um golpe de quartel, com a prisão do comandante-chefe. Poucas semanas depois, a única força de combate disciplinada que havia na Guiné era o PAIGC. Nada mais se pôde fazer senão a sua vontade. No terreno, tanto como as manobras dos capitães, pesou a falta de objectivos de uma força que tinha sido mobilizada para uma missão, a de defender a integridade da pátria, a qual viu subitamente terminada, sem que lhe tivesse sido atribuída outra missão.
A partir de Julho de 1974 era claro que o caminho seria a independência, de uma maneira ou outra. Quem é que, a partir de então, quis ser o último soldado a morrer no ultramar? Na metrópole, entretanto, a agitação contra a guerra crescera. Para continuar as operações, teria sido necessário restabelecer um constrangimento da actividade política que já ninguém, por essas razões, estaria disposto a aceitar. E depois, como seria possível continuar a guerra com os líderes dos partidos da esquerda no governo? A guerra tinha de acabar.
No Verão de 1974, quando se aperceberam de que já não havia vontade de combater no exército português, alguns dos partidos armados resolveram jogar duro. Unidades militares mais ou menos subvertidas e desmotivadas eram uma presa fácil. Em Moçambique, o exército português teve, nos quatro meses que se seguiram ao 25 de Abril, o dobro dos mortos registados nos primeiros quatro meses de 1974. Em Angola, entre Maio e Agosto de 1974, morreram mais soldados portugueses do que durante todo o ano de 1973. Foi só então que verdadeiramente se levantou a perspectiva de uma espécie de “colapso militar”. A partir daí, a preocupação dos comandos militares portugueses foi retirar rapidamente, para evitar uma “desonra”. Era preciso parar a guerra – e só se poderia parar a guerra através de um entendimento com aqueles que a faziam. Por pouco que os partidos armados representassem, representavam as armas que os militares portugueses precisavam de sossegar. Para quê falar com mais alguém?
O grande terror dos comandos militares, em 1974, era alguma independência “rodesiana”, que criasse uma situação de confronto em que, até por mero instinto de solidariedade étnica, as tropas metropolitanas se vissem obrigadas a pôr-se ao lado da população branca contra os partidos armados. Com dureza, impediram os colonos brancos de se manifestarem. O ressentimento entre as forças armadas e as populações europeias do ultramar era antigo.
Ao contrário do que acontecera na Argélia, os civis portugueses do ultramar, depois do assalto da UPA em 1961, mantiveram-se longe da guerra. Viram-na como uma tarefa das forças armadas, e quando foram atingidos outra vez – como esporadicamente aconteceu em Moçambique, em Janeiro de 1974 – culparam os militares. A verdade é que no exército português poucos tentaram imitar os militares franceses que se revoltaram ao lado dos colonos na Argélia. O sentimento dominante parecia ser a pressa em partir, que logo contagiou os colonos. Aqui jogou também o facto de os colonos portugueses serem, na sua maioria, de primeira geração. Quase todos os colonos tinham um país para onde regressar, ao contrário do que acontecia aos Boéres na África do Sul.
Pelo seu lado, os militares desinteressaram-se de processos de transição que só poderiam ser garantidos pela força, como as eleições multipartidárias, e apostaram tudo num simples trespasse do poder para os partidos armados. Suspeitou-se depois que o tivessem feito por opção ideológica. Provavelmente, a ideologia veio depois, para justificar o expediente. Tal como o esforço de guerra precisara da cobertura do integracionismo, a retirada precisou da justificação do internacionalismo revolucionário.
Os capitães do MFA não eram simplesmente “cobardes” ou “traidores” ao serviço da União Soviética, como depois insistiram os últimos ultramarinistas. Entre eles, havia vários heróis da guerra. Ora, o acto da entrega negou tudo aquilo que os tinha motivado em doze anos de esforço militar. Mais ainda: desmentiu a promessa do 25 de Abril de que o golpe desse dia representava uma libertação para todos os que viviam debaixo da administração portuguesa, não só na Europa, como em África. Pior: como se viu depois, entregou os soldados africanos do exército português às mais horrorosas perseguições.
Para tudo isto, os homens do MFA precisaram de razões, de razões que não apenas explicassem, mas justificassem e legitimassem. O major Melo Antunes, o homem do MFA mais comprometido nas negociações da “descolonização” em 1974, quando teve de se defender, invocou a necessidade: uma vez que não se podia continuar a guerra, não havia alternativa. Mas desde quando é que a simples consciência da fatalidade gerou, naqueles que foram agentes dessa fatalidade, uma boa consciência? Só a mitologia da esquerda podia dar uma boa consciência aos homens do MFA. Só à esquerda seria possível imaginar as ditaduras sanguinárias e corruptas do PAIGC, do MPLA ou da FRELIMO como uma “libertação”, ou chamar “descolonização” à ocupação de Angola por um exército expedicionário cubano.
Para serem capazes de ver liberdade no despotismo, os capitães e os majores fizeram-se de esquerda: e nessa conversão, deram à esquerda em Portugal, durante dois anos, uma força e uma influência a que a esquerda nunca se atrevera a aspirar.
Só ultimamente se começou a perceber o verdadeiro sentido da retirada portuguesa. Havia mais africanos a combater do lado português do que do lado dos partidos armados: 42% dos efectivos do exército português em 1973, ou cerca de 61 mil militares, eram de recrutamento local. Este número não incluía as unidades de segunda linha, como as milícias locais.
Na Guiné, metade dos confrontos com o PAIGC eram da responsabilidade dessas milícias. Spínola prometera-lhes a construção de uma sociedade civil africana, pluralista e livre, contra o Estado revolucionário de tipo soviético previsto pelo PAIGC. É provável que uma ditadura como a portuguesa não fosse o sistema mais credível para patrocinar tal projecto. Também é provável que tudo tenha começado tarde demais. De qualquer modo, em 1974, a guerra em África já não era simplesmente uma guerra colonial, entre portugueses e independentistas, mas uma guerra civil entre africanos, com participação portuguesa – o que o eurocentrismo (e, em certos casos, os preconceitos raciais) dos “anticolonialistas” impediu de perceber. Só os portugueses podiam escolher entre ficar e partir. Escolheram partir. Os outros tiveram de ficar. A guerra, para eles, continuou. (Rui Ramos in “Perceber a História”)

lula não discursa!

A decisão chegou: Lula da Silva
não discursará nas comemorações oficiais do 25 de Abril, no parlamento. A decisão era tão inevitável, tão óbvia, tão incontornável que só surpreendia que, no governo, se tenha achado boa ideia lançar tal convite a Lula da Silva — por cinco razões.
Primeira razão: 
Lula da Silva é uma personalidade política controversa e polarizadora. Convidar para as comemorações oficiais do 25 de Abril alguém que fragmentaria o parlamento português, em vez de representar a união nos valores democráticos, evidenciaria uma alarmante falta de bom-senso. […]
Segunda razão: 
há que preservar o funcionamento das instituições democráticas. A participação de Lula da Silva nas comemorações do 25 de Abril foi anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros — facto que, no plano institucional, corresponde à violação da separação de poderes, pois o governo invadiu o espaço de decisão da Assembleia da República. […]
Terceira razão: 
Lula da Silva não condena a invasão russa da Ucrânia. Pior: Lula da Silva responsabiliza e critica Zelensky pelo conflito com a Rússia. Ora, em Portugal e na UE, o regime de Putin constitui a maior ameaça à liberdade, à paz e à prosperidade. […]
Quarta razão: 
Lula da Silva acumula posições recentes e inconciliáveis com os valores que Portugal comemora no 25 de Abril. Por exemplo, em 2022, durante a campanha eleitoral das presidenciais que venceu, Lula da Silva sugeriu o mapeamento dos endereços pessoais de deputados, de forma que estes pudessem ser pressionados por manifestantes junto das suas residências, para “incomodar a tranquilidade” e “conversar” com a mulher e os filhos. […]
Quinta razão: 
Lula da Silva esteve envolvido em sucessivos casos de corrupção. O destaque evidente é a Operação Lava-Jato, uma gigantesca teia de corrupção com Lula da Silva no centro. O agora presidente do Brasil foi condenado em várias instâncias a pena de prisão (entre 8 a 12 anos), tendo cumprido mais de um ano de prisão até a sua condenação ser anulada por erros processuais relacionados com áreas de jurisdição — ou seja, Lula da Silva está em liberdade, mas politicamente não se pode considerar inocentado. […]
Se estas cinco razões são simples de atingir, o governo ignorou-as integralmente. Preferiu a polarização, tentou submeter o parlamento à sua vontade, desvalorizou a posição de Lula sobre a Ucrânia e valores democráticos, e abriu portas para o espectro da corrupção intoxicar as comemorações da democracia portuguesa. Neste caso, felizmente para o país, valeu que o parlamento travou a iniciativa, desautorizou o Ministro dos Negócios Estrangeiros e repôs alguma dignidade institucional.

Já passou? Não, não passou. 
Lula não discursa no 25 de Abril, mas ficam os tiques do governo que a democracia dispensa: falta de bom-senso, atropelos institucionais, desrespeito pela liberdade e permissividade para com a corrupção.

sábado, 22 de abril de 2023

Descoberta do Brasil: Uma nova visão!

1498 - DESCOBRIMENTO DO BRASIL
O primeiro português a vir às terras brasileiras não foi Pedro Álvares Cabral, ao contrário do que até hoje ensinam os manuais de história. O primeiro torrão de solo tupiniquim avistado pelos portugueses também não foi o Monte Pascoal, no sul da Bahia. O primeiro contacto dos europeus com a terra brasilis tampouco ocorreu em 22 de Abril de 1500.
Pesquisadores portugueses, espanhóis e franceses revelam uma história muito mais fascinante e épica sobre a chegada dos navegadores portugueses ao Novo Mundo.


“O primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um génio da astronomia, navegação e geografia e homem da mais absoluta confiança do rei de Portugal, d. Manoel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre Novembro e Dezembro de 1498.
O primeiro português a confirmar que existiam terras para lá do Oceano Atlântico desembarcou aqui num ponto localizado nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá, iniciou uma viagem pela costa norte, indo à ilha do Marajó e à foz do rio Amazonas. Quando regressou a Portugal, o rei ordenou-lhe que a expedição deveria ser mantida em sigilo. O motivo para que a descoberta fosse tratada como segredo de Estado era bastante simples: as terras encontravam-se em área espanhola, de acordo com a divisão estabelecida pelo famoso Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, quatro anos antes de Duarte Pacheco chegar à Amazónia”.
“A base da tese gira em torno de um manuscrito, o "Esmeraldo de situ orbis", produzido pelo próprio Duarte Pacheco entre 1505 e 1508 e que ficou desaparecido por quase quatro séculos. Até no título, o documento revela seu carácter cifrado. "Esmeraldo" é um anagrama que associa as iniciais, em latim, dos nomes de Manoel (Emmanuel), o rei, e Duarte (Eduardus), o descobridor.
"De situ orbis" significa "Dos sítios da Terra". "Esmeraldo de situ orbis", portanto, era "O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte". Era um imenso relato das viagens de Duarte Pacheco Pereira não só ao Brasil, como à costa da África, principal fonte da riqueza comercial de Portugal no século XV. O rei d. Manoel I considerou tão valiosas as informações náuticas, geográficas e económicas do "Esmeraldo" que jamais permitiu que ele fosse tornado público. Foi montado em cinco partes, com 200 páginas no total. As melhores provas sobre o descobrimento do Brasil aparecem no capítulo segundo da primeira parte.
Resumidamente, o trecho diz o seguinte: "Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados."
As novas pesquisas sobre a verdadeira história do descobrimento sepultam definitivamente a inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direcção às Índias. O trabalho dos historiadores, dos antropólogos e cartógrafos, dá cores e tons muito mais fortes à epopeia do descobrimento. Até consolidar sua presença nessa – até então – desconhecida parte do mundo, portugueses e espanhóis se envolveram num fascinante jogo de traição, espionagem, blefes e chantagens.
O mais recente trabalho a sustentar que Duarte Pacheco foi o verdadeiro responsável pelo descobrimento foi publicado no ano passado em Portugal. Intitulado “A construção do Brasil”, é de autoria do historiador português Jorge Couto, 46 anos, professor da Universidade de Lisboa e talvez o principal especialista em história do Brasil. 
Eduardo Franco Madeira no Facebook
Ilustração: "Esmeraldo de situ orbis", desenho do próprio Duarte Pacheco.