O dr. Mário Soares e uns quantos prosélitos fundaram em 1973 o Partido Socialista. Soares tinha vindo do exílio africano e instalou-se em Paris. Intuitivo e cosmopolita como poucos, começou a frequentar o trabalhismo europeu dos anos 70, no fundo, a social-democracia que ele converteria em socialismo democrático aqui. E, sobretudo, os alemães, que o ajudaram a dar corpo ao partido, algures na Alemanha. Soares sabia que precisava de um instrumento estruturado e financiado para fazer putativamente política num país, mais tarde ou mais cedo, libertado do Estado Novo. Não esperou muito. Nem todos os exilados correram imediatamente atrás do “Sud Express” do PS em Abril de 74. As infelicidades revolucionárias e os transportes radicais, “originais” ou terceiro-mundistas, transformaram o PS praticamente no primeiro grande albergue nacional da direita reciclada e por vir. Sá Carneiro teve de esperar quatro anos para calibrar o PPD, e mais um para inserir a direita no seu espaço, afastando a ideia de temores reverenciais e de tutoria regimental a cargo dos socialistas. Todavia, o PS já tomara o Estado, o propriamente dito e o das coisas. E nunca mais os largou, mesmo nas intermitências governativas da direita. A sua liderança aproximou-se sucessiva e gradualmente das oligarquias da I República. Caciques das mais distintas formas, feitios e inteligências ocuparam a casa. Tornaram-se proeminentes criaturas que nasceram e abeberaram no partido, os “milenais” socialistas, dos quais Sócrates e Costa foram os mais amados santos padroeiros. Os próprios vultos dos idos de 70, 80, 90 e princípio deste século acabaram na estatuária activa do partido. É ver como se dividiram alegremente pelos “milenais” Pedro Nuno e J.L. Carneiro. A palavra “poder” resume-os a todos e a cada um. E resume o que fez chegar a nono secretário-geral do remoto PS fundado na Alemanha uma criatura improvável que, ainda há menos de um ano, fora despedida de ministro por indecente e mau comportamento político-institucional. E tudo em casa, que o santinho padroeiro Costa não perdoa. O que devemos pensar deste “eleitorado” partidário que se entrega assim, e ao país, de mão beijada, a gente sem uma única ideia na cabeça que não seja a da perpetuação do poder socialista pelo poder socialista, do gasto libertino, no maior desprezo pelo país fora do Largo do Rato, afinal um novo “Portugal amordaçado” por eles? Foi tudo feito pelo “WhatsApp”?