E porque até nisto estamos sempre
crónica e pontualmente atrasados, só chegámos a 1984 em 1999.
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Tenho-me perguntado o que aconteceu
no caminho para cá. Hoje sei: aconteceu o 10 de Outubro de 1999.
Se eu tivesse que escolher a data
mais negra da história da democracia portuguesa, seria 10 de Outubro de 1999.
Desde esse dia, o espaço público, que já foi mais livre, mais leve, mais
divertido, tem vindo a tornar-se cada vez mais intolerante, mais policiado,
mais claustrofóbico.
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O que aconteceu à nossa democracia
foi o 10 de Outubro de 1999: o dia em que o Bloco de Esquerda recolheu 132 mil
votos nas legislativas e Francisco Louçã e Luís Fazenda foram eleitos deputados
à Assembleia da República. Pela primeira vez, a “doença infantil do comunismo”
passou a ter representação parlamentar. O resto é metástase. A partir desse dia
começou a feroz colonização das universidades, das escolas, das redacções de
imprensa, de todas as "fábricas da palavra" (porque as outras
fábricas, as "fábricas das mãos", já estão há muito tomadas pelo
PCP). A 10 de Outubro de 1999, com a eleição do Bloco, teve início em Portugal
o sistemático sequestro das palavras. O que sentimos hoje é o vazio crescente
deixado pelas palavras já sequestradas e cujos sussurros familiares de vez em
quando ainda somos capazes de escutar.
O triunfo dos porcos no Santo dos
Santos é a instituição de uma novilíngua, vala comum de velhas palavras
executadas. Parafraseando o outro, se querem uma visão do futuro, imaginem uma
bota a pisar uma palavra — para sempre. 1984. E porque até nisto estamos sempre
crónica e pontualmente atrasados, só chegámos a 1984 em 1999. 10 de Outubro de
1999: o anti-25 de Abril de 1974. Ainda tereis saudades, como eu, do 9 de
Outubro de 1999.” (por Miguel
Granja no FeiceBuque)
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