domingo, 30 de setembro de 2018

10 de Outubro de 1999

E porque até nisto estamos sempre crónica e pontualmente atrasados, só chegámos a 1984 em 1999. 
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Tenho-me perguntado o que aconteceu no caminho para cá. Hoje sei: aconteceu o 10 de Outubro de 1999.
Se eu tivesse que escolher a data mais negra da história da democracia portuguesa, seria 10 de Outubro de 1999. Desde esse dia, o espaço público, que já foi mais livre, mais leve, mais divertido, tem vindo a tornar-se cada vez mais intolerante, mais policiado, mais claustrofóbico. 
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O que aconteceu à nossa democracia foi o 10 de Outubro de 1999: o dia em que o Bloco de Esquerda recolheu 132 mil votos nas legislativas e Francisco Louçã e Luís Fazenda foram eleitos deputados à Assembleia da República. Pela primeira vez, a “doença infantil do comunismo” passou a ter representação parlamentar. O resto é metástase. A partir desse dia começou a feroz colonização das universidades, das escolas, das redacções de imprensa, de todas as "fábricas da palavra" (porque as outras fábricas, as "fábricas das mãos", já estão há muito tomadas pelo PCP). A 10 de Outubro de 1999, com a eleição do Bloco, teve início em Portugal o sistemático sequestro das palavras. O que sentimos hoje é o vazio crescente deixado pelas palavras já sequestradas e cujos sussurros familiares de vez em quando ainda somos capazes de escutar.

O triunfo dos porcos no Santo dos Santos é a instituição de uma novilíngua, vala comum de velhas palavras executadas. Parafraseando o outro, se querem uma visão do futuro, imaginem uma bota a pisar uma palavra — para sempre. 1984. E porque até nisto estamos sempre crónica e pontualmente atrasados, só chegámos a 1984 em 1999. 10 de Outubro de 1999: o anti-25 de Abril de 1974. Ainda tereis saudades, como eu, do 9 de Outubro de 1999.” (por Miguel Granja no FeiceBuque) 
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