Primeiro, como sempre acontece,
surgiu Catarina Martins. Num desesperado esforço para usar a sua eterna
superioridade moral como arma para justificar a “taxa Robles”, disparou
toda a indignação que conseguiu juntar contra quem “compra
e vende num curto período e faz muito dinheiro”.
A seguir, tentando mais uma vez, com
sucesso, baralhar os eleitores do PSD, Rui Rio aproximou-se de um microfone
para dizer que a ideia do Bloco de Esquerda “não é assim tão disparatada”. E até
elaborou o seu pensamento económico:
“Efectivamente, uma coisa é
comprarmos e mantermos durante ‘x’ tempo e outra coisa é andarmos a comprar e a
vender todos os dias só para gerar uma mais-valia meramente artificial”.
.
Catarina Martins e Rui
Rio estão, portanto, de acordo. Ganhar dinheiro, sim — mas só se for pouco
dinheiro e só se for muito devagarinho.
*
a pobreza é uma virtude?
Corrrendo o risco de
considerarem um elogio, Catarina Martins e Rui Rio, “Os líderes do BE e do PSD,
partilham uma velha ideia que governou o nosso país durante 41 anos: a de que a
pobreza é, em si mesma, uma virtude.
Um célebre político português do
século XX anunciou um dia que “um país, um povo que tiverem a coragem de ser
pobres são invencíveis”. E construiu todo um regime (por sinal, autoritário) em cima
disso.
Foi o mesmo político que
afirmou, com ironia: “Os homens mudam pouco e então os portugueses
quase nada”.
(in “Ganhar dinheiro? Só pouco e devagarinho” por Miguel
Pinheiro)