Sobre o caso Ricardo Robles eu tenho de contar aqui uma história. Com a devida autorização das pessoas. E esta seria mais uma pequena história vulgar e banal de rapacidade e de lucro sem o Vereador Robles DESPEJOU pessoas e LIQUIDOU um pequeno negócio e COLOCOU 4 TRABALHADORES NO DESEMPREGO e atirou outro para a reforma antecipada.
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Este senhor que teve de se reformar aos 63 anos era um pequeno comerciante. O Sr. Augusto. Trabalhou desde miúdo num restaurante do sócio do meu pai, na Rua Augusta. E como é tantas vezes comum no ramo do comércio o Sr. Augusto, na altura com trinta e tal anos, decidiu estabelecer-se por conta própria, autonomizando-se dos seus patrões. Talvez não saibam mas a cada vez mais exígua comunidade de antigos comerciantes da restauração na Baixa e no Centro de Lisboa é quase uma família. Com as suas zangas, as suas rivalidades. Mas igualmente solidários uns dos particular interesse não fora a mentira mais descarada que a elite dirigente do partido do Vereador Robles tenta espalhar.
Só que ainda que repitam esta mentira mil vezes nunca a deixaremos passar por verdadeira. E a verdade é esta: outros em caso de aflição, e sempre dispostos a ajudar a desencravar alguém. Foi assim que o Sr. Augusto teve alguma ajuda inicial dos seus patrões a que adicionou as suas economias.
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Comprou um trespasse de um pequeno café/snack bar em Alfama, num prédio antigo, e aí investiu tudo. Fez beneficiações e criou empregos. O pequeno restaurante/café era humilde: não era trendy, não era fancy, nunca foi gourmet, também não servia cozinha étnica. Servia mini-pratos e meias-doses aos almoços e servia bolos encomendados de pastelaria aos pequenos-almoços e aviava umas sandes aos lanches. A decoração era básica mas digna. Igual a milhares e milhares de estabelecimentos familiares pelo país fora que sustentam o emprego de centenas de milhares de pessoas.
Quando o Sr. Augusto começou a laborar no prédio já o 1’Andar estava afectado ao estabelecimento como armazém, onde tinha as arcas frigoríficas e onde estavam os arrumos do pessoal. Assim por lá esteve durante 26 anos a trabalhar e a dar trabalho a terceiros.
Nunca soube que a Segurança Social, seu senhorio, tinha colocado o prédio à venda.
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Nunca pôde assim concorrer ao leilão. A consequente chegada do então Deputado Municipal Ricardo Robles à sua vida teve o efeito da chegada de uma desgraça, de um tornado que lhe virou a vida de pernas para o ar. O seu novo senhorio só o deixaria continuar a laborar sem o 1’ andar para além da duplicação do valor da renda.
O Sr. Augusto aceitaria até pagar uma renda maior mas não poderia aceitar ficar com um espaço significativamente menor, sem ter onde colocar as suas arcas. O seu modelo de negócio sempre foi aquele e nunca poderia alterar a sua vida para ali passar a vender apenas quiches e rissois e comida vegan. Não houve entendimento. Para sair o Deputado Robles ofereceu-lhe 5000€ pelo seu investimento e por uma vida de trabalho. O Sr. Augusto exige 120000€ há quase três anos num caso que se vai arrastando em tribunal.
Entretanto aos 63 anos reformou-se. E os seus 4 empregados ficaram sem emprego, e foram parar ao subsídio de desemprego sem um tostão de indemnização. Pessoas como o Sr. Augusto foram os perdedores da troika. Ao passo que investidores sagazes como o Vereador Robles foram os ganhadores da troika.
Houve pois gente insuspeita que lucrou com a crise. É esta pois uma história de perdedores e de vencedores. Pequenos comerciantes de Lisboa como o meu pai, o seu sócio, o Sr. Augusto, foram os heróis silenciosos deste país. Aguentaram os piores anos da crise sem baixar os braços, a trabalharem sempre até caírem de velhos sem nos sobrecarregarem na Segurança Social, mantiveram empregos fazendo das tripas coração para não despedirem ninguém nem tirarem o pão a famílias, assegurando que o seu pessoal é também a sua família, suportando a carga fiscal, as alterações à Lei do Arrendamento,
mas acima de tudo aturando o discurso moralista e superior de uma cambada de meninos privilegiados que berravam contra a troika enquanto privadamente até ganhavam com ela. Pessoas como o Sr. Augusto, como o meu pai, que trabalharam toda uma vida, que agora ficaram fora de moda, não têm ninguém que os represente