em princípio, os políticos deviam
estar com os taxistas. Reparem:
é uma massa relativamente importante
de empresários e de trabalhadores que beneficiam de um monopólio público e das
respectivas rendas, e que a qualquer governo poderia interessar ter como
clientes satisfeitos. Os taxistas não são funcionários públicos, mas é como se
fossem. Mais: estão concentrados nas cidades, cujo trânsito podem bloquear ou
perturbar. São o tipo de classe profissional capaz de proporcionar à elite
política todas as razões para cedências. Seria fácil, aliás, tratar as
plataformas electrónicas como exemplos de “capitalismo selvagem”. O
esquerdismo primário que hoje em dia passa por ciência nas universidades
dispõe, para o efeito, da necessária doutrina sobre a “uberização da economia”.
Era o que se poderia esperar: a
classe política portuguesa tornou-se há muito a guardiã das “realidades que vêm
de trás”, para usar uma expressão do presidente da república, desde o que ficou
do corporativismo salazarista até ao que sobreviveu do PREC
gonçalvista.
Sendo assim, porque é que os
políticos recusam aos taxistas a mão que estenderam a outras corporações —
e, para
além de todas as vantagens que a lei já tenta garantir aos táxis, não impõem
também a contingentação às plataformas (porque, como é óbvio, a
contingentação é o grande problema)? (in “Os
táxis e a essência reaccionária do regime” por Rui Ramos )