Há momentos na vida pública portuguesa em que a hipocrisia ganha proporções de tragicomédia. O caso dos cartazes do CHEGA — em especial aquele que ousa dizer “Isto não é o Bangladesh” — é um desses momentos. A frase, simples, directa, visualmente eficaz, tornou-se subitamente o gatilho de uma ofensiva de censura política travestida de “defesa da decência democrática”.
Helena Matos, com a lucidez que lhe conhecemos, desmontou a histeria colectiva com uma ironia demolidora: recordando que há não muito tempo, o MRPP do Dr. Garcia Pereira — o mesmo que agora se dedica a querer ilegalizar o CHEGA — enchia as paredes do país com slogans como “Morte aos traidores”. E, nessa altura, a mesma Comissão Nacional de Eleições que hoje se mostra tão sensível à semântica tropical dos cartazes de André Ventura, achou tudo “metafórico”.
É precisamente essa duplicidade moral que hoje reina em Lisboa, no Observador, na CNN Portugal e em certos sectores do velho comentário político. Quando se trata de atacar Ventura, tudo é permitido: insultar, distorcer, criminalizar. Quando se trata de aplicar as mesmas regras aos amigos do regime — sejam os garcia-pereiristas, sejam as rap-divas que trocam o activismo por microfones pagos com publicidade institucional —, reina o silêncio cúmplice.
O novo tribunal da virtude
A actual campanha de linchamento mediático contra o CHEGA e o seu líder, iniciada pelo Dr. Garcia Pereira e amplificada pela racista e xenófoba artivista RAP Eva Cruzeiro (@evarapdiva), pela CNN e pelo Observador, revela um padrão de intolerância que há muito denunciamos. O sistema mediático português já não debate — julga. Já não informa — inquisita.
André Ventura é o herege preferido dessa nova Inquisição secular. O “antissistema”, o “populista”, o “perigoso”. E como todo o herege útil, serve de espantalho conveniente para uma elite política que vive do medo e da desinformação moral. O Observador, que já foi jornal de ideias, tornou-se um púlpito de moralismo suburbano, onde cada cronista compete em indignação com o cronista do lado. A CNN Portugal, por sua vez, transformou-se num reality show de ressentimento, onde se discute política como quem comenta futebol e onde a palavra “fascismo” substitui o argumento.
A CNE e o medo da liberdade
Quando a CNE decide remeter ao Ministério Público um cartaz que diz “Isto não é o Bangladesh”, não está a proteger a democracia — está a ameaçá-la. Porque o que está em causa não é o Bangladesh, nem a frase, nem sequer o cartaz. O que está em causa é o direito de um partido político, com representação parlamentar e apoio popular, dizer o que pensa.
A liberdade de expressão não é selectiva. Ou vale para todos, ou não vale para ninguém. A CNE pode tolerar metáforas homicidas como “Morte aos traidores”, mas não suporta constatações geográficas. A ironia é tão evidente que só um burocrata sem alma ou um jornalista sem vergonha poderia não a ver.
“O da Joana” e o país dos moralistas
Helena Matos termina o seu texto com uma nota de inteligência simples e rara: talvez fosse tempo de tratarmos de coisas sérias. Mas é pedir muito. O país dos moralistas prefere brincar aos ofendidos. As mesmas pessoas que relativizam o terrorismo islâmico, o tráfico humano e a insegurança urbana, desatam em pânico porque alguém escreveu “Isto não é o Bangladesh”.
O problema não é o Bangladesh. O problema é Portugal — um Portugal que tem medo das palavras, mas não tem medo da mentira.
E, no entanto, é precisamente este medo das palavras que faz crescer o CHEGA. Cada ataque injusto, cada tentativa de censura, cada cronista indignado, cada RAP histérica nas redes sociais é mais um combustível lançado na fogueira de uma sociedade que se cansou de ser insultada por pensar diferente.
Em Suma:
Helena Matos tem razão: isto não é o Bangladesh. Mas também não é — ainda — a Coreia do Norte. Por isso, defendamos o direito de dizer o óbvio, o direito de chocar, o direito de existir politicamente fora do rebanho do “politicamente correcto”.
Se a democracia portuguesa se sente ameaçada por um cartaz, então talvez seja porque já não tem alicerces. E talvez, afinal, seja tempo de reconhecer que a coragem de dizer o que se pensa — mesmo que incomode — é o último reduto da verdadeira liberdade.
Notas:
1. CNE — Comissão Nacional de Eleições. 2. MRPP — Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, fundado em 1970, partido de inspiração maoista liderado por Arnaldo Matos e Garcia Pereira.
3. RAP Eva Cruzeiro, auto-denominada “artivista”, actua como comentadora e agitadora política em diversas plataformas digitais, sob o disfarce de humor crítico.
4. O cartaz do CHEGA “Isto não é o Bangladesh” refere-se à necessidade de ordem, legalidade e soberania nacional — não à hostilidade a qualquer povo, como pretendem fazer crer os seus detractores.
