sábado, 8 de novembro de 2025

A angústia dos jornalistas e o medo de perder o emprego!

Há hoje, nas redacções, uma forma curiosa de sobrevivência profissional: ser “anti-CHEGA”. Não basta fazer jornalismo; é preciso mostrar serviço. 
Dai que cada entrevista, cada artigo, cada noticia seja, para muitos, uma espécie de teste de fidelidade ideológica.
Não é o CHEGA ou o Ventura o entrevistado — é o jornalista quem se submete a exame.
A entrevista ou o artigo transformam-se em ritual de purificação: o repórter ou o comentador tem de demonstrar, perante chefes, colegas e a plateia moral das redes sociais, que *nada tem a ver com Ventura*, que odeia o “populismo”, que se indigna no tom certo e à hora certa. Só assim poderá manter o cargo, o espaço de antena ou o sorriso do director.
É um espectáculo de medo.
O medo é a pior das emoções — e é ele que hoje governa boa parte da comunicação social. O medo de ser confundido com “os maus”. O medo de ser acusado de complacência. O medo de não pertencer ao clube moralmente aprovado.
Quando um jornalista entra num estúdio para entrevistar Ventura, não procura compreender, questionar ou informar. Procura *salvar-se*. O entrevistador não fala para o público; fala para os seus pares. O seu verdadeiro objectivo é ser aceite.
A lógica é de servidão voluntária. Nenhum deles obtém de Ventura o que deveria ser o propósito do jornalismo — esclarecimento, informação, contraste de ideias. Obtém, isso sim, a sensação momentânea de segurança: provar que está “do lado certo da História”.
E é precisamente esse automatismo — essa incapacidade de sair do rebanho — que torna o jornalismo português tão previsível, tão pobre, tão incapaz de surpreender.
Há, é certo, os activistas confessos, os que militam abertamente contra o CHEGA. Mas o mais trágico nem são esses. É o número crescente dos que, não sendo activistas, imitam o tom e os tiques dos fanáticos para não serem excluídos.
A imparcialidade, que deveria ser a essência da profissão, tornou-se defeito. A serenidade passou a suspeita. A dúvida passou a crime.
Só em frente a Ventura, o fanático sente que pode — ou até deve — exibir o seu fanatismo. Como se o dever profissional de informar se dissolvesse no prazer tribal de atacar.
É o retrato da decadência mediática: jornalistas que não informam, comentadores que não analisam, e um país que vai sendo empurrado para a ignorância e o ressentimento — tudo em nome de uma “virtude” que não é mais do que medo mascarado de moral.

No fundo, o jornalismo português está dominado por uma patologia simples: a angústia de ser diferente.
E, por ironia, é isso mesmo que Ventura representa — a diferença que os outros temem reconhecer.