sábado, 16 de março de 2019

“Tudo comunica” diz a Dona de Casa do Mon Oncle de Tati.

O deputada Catarina Martins, com a subtileza de quem resume O Anel dos Nibelungos à história dos problemas de uma família disfuncional, dá-nos num traço rápido a sua visão geral da sociedade:
O essencial consiste na luta permanente entre o público e o privado, que deverá idealmente terminar com a definitiva e justa vitória do primeiro sobre o segundo.
O privado é uma espécie de dragão fumegante que se alimenta de eucaliptos e mata a sede em poços de petróleo.
Contra ele ergue-se o justo herói público, com a invencível espada da nacionalização. A espada mágica vai dizimando tudo à sua volta até que no terreno de batalha reste apenas o Estado, lugar da virtude e da beleza. 
... além da espada, possui um eficaz arsenal que o ajudará a combater o asqueroso animal: as “greves feministas” e as “greves climáticas” são também elas “trovões” –  trovões “anti-capitalistas, socialistas, ecosocialistas, feministas, anti-racistas, internacionalistas” – que põem em debandada os “inimigos poderosos” da “elite financeira” [...]
É o que a jovem Morais, recorrendo a um vocabulário académico, chama “a interseccionalidade das lutas” contra o dragão capitalista e tal interseccionalidade evidencia uma proposição avançada pelo idoso Rosas: “o capitalismo repousa na exploração do capital, mas também no patriarcado, no sexismo, na perseguição das minorias sexuais”. 
A MEP Marisa Matias – cuja genuína felicidade inspira, de resto, efectiva simpatia – enumera também ela algumas lutas nas quais descobre a urgência da unificação, do Sahara Ocidental à Argentina, passando por Lampedusa e Calais.
Tudo comunica” como diz a Dona de Casa (oprimida) do Mon Oncle de Tati. (in «A “luta toda” do Bloco» por Paulo Tunhas)