O deputada Catarina Martins, com a
subtileza de quem resume O Anel dos Nibelungos à história dos
problemas de uma família disfuncional, dá-nos num traço rápido a sua visão
geral da sociedade:
O essencial consiste na luta
permanente entre o público e o privado, que deverá idealmente terminar com a
definitiva e justa vitória do primeiro sobre o segundo.
O privado é uma
espécie de dragão fumegante que se alimenta de eucaliptos e mata a sede em
poços de petróleo.
Contra ele
ergue-se o justo herói público, com a invencível espada da nacionalização. A espada mágica vai
dizimando tudo à sua volta até que no terreno de batalha reste apenas o Estado,
lugar da virtude e da beleza.
... além da espada, possui um
eficaz arsenal que o ajudará a combater o asqueroso animal: as “greves
feministas” e as “greves climáticas” são também elas “trovões” – trovões
“anti-capitalistas, socialistas, ecosocialistas, feministas, anti-racistas,
internacionalistas” – que põem em debandada os “inimigos poderosos” da “elite
financeira” [...]
É o que a jovem Morais,
recorrendo a um vocabulário académico, chama “a interseccionalidade das lutas”
contra o dragão capitalista e tal interseccionalidade evidencia uma proposição
avançada pelo idoso Rosas: “o capitalismo repousa na exploração do capital, mas
também no patriarcado, no sexismo, na perseguição das minorias sexuais”.
A MEP
Marisa Matias – cuja genuína felicidade inspira, de resto, efectiva simpatia
– enumera também ela algumas lutas nas quais descobre a urgência da unificação,
do Sahara Ocidental à Argentina, passando por Lampedusa e Calais.
“Tudo comunica” como diz a Dona de Casa (oprimida)
do Mon Oncle de Tati. (in «A “luta toda” do
Bloco» por Paulo
Tunhas)