1. Candidate-se dizendo que consegue
exigir menos às pessoas, dar mais às pessoas e, no fim, ainda ter contas
públicas melhores. Quando toda a gente lhe disser que isso não é possível,
acuse-os de estarem feitos com o grande capital.
2. Até saírem os primeiros números,
governe exigindo menos e dando mais. Quando o começarem a avisar de que, por
aquele caminho, as suas perspectivas económicas serão irrealistas, acuse-os de
bota-abaixismo.
3. Nota importante: o político de
esquerda não precisa de dizer como vai fazer as coisas; ele apenas precisa de
dizer que “é preciso” fazer as coisas. Por exemplo, ele não diz como vai acabar
com os pobres, ele diz: “É preciso acabar com os pobres!”, e logo a plateia
explode de loucura num aplauso febril. Ele não diz como pensa pôr a economia a
crescer; ele diz: “É preciso pôr a economia a crescer!”, “É preciso atrair
investimento”, “É preciso exportar mais”. É isto. Só isto. E será sempre isto
até ao fim.
4. Começam a sair os primeiros
números. Não há qualquer correspondência entre o cenário de crescimento
económico que previra e a realidade. Diga que o mundo mudou, que houve uma
gripe em África, um engarrafamento em Cabul, uma loja que fechou em Paris, e
que isso mudou tudo.
5. Saem mais números. Mais e mais
instituições o avisam para o perigo que está a correr e que é preciso mudar o
rumo. Diga que “regista”.
6. Todos os indicadores dizem o
óbvio: a sua estratégia falhou clamorosamente. Não há a mínima correspondência
entre o que prometeu e o que conseguiu. O país não só não cresce mais, como não
cresce de todo; mingua e está outra vez a cair em depressão económica. Quando
toda a gente lhe disser isso, verifique quanto tempo falta para as eleições; se
ainda faltar um pouco, acuse-os de fatalismo e diga que não se deixa abater. E
que “é preciso” qualquer coisa. Sempre. “É preciso crescer”, “é preciso investimento”,
“é preciso dinamismo”, “é preciso”.
7. O país está falido e vai haver
eleições antecipadas. Volte ao número 1.
(por Alexandre Borges no 31
da Armada)