Os
que passámos por esta guerra, ao lembrá-la e celebrá-la, não o fazemos animados
por nostalgias imperiais e muito menos imperialistas. Respeitamos os que nos
combateram de armas na mão em nome dos seus Estados nascentes; e, sabendo que
os que então nos combateram nos respeitam, queremos ser também ser aqui
respeitados e não tratados como marionetas de regimes ou serventuários de
causas suspeitas.
Por
isso, há 25 anos, um núcleo de antigos combatentes lançou a ideia do Monumento
aos Combatentes do Ultramar. E, a partir daí, todos os anos, junto ao monumento
de Belém, onde estão inscritos os nomes de todos os militares que morreram
nessas últimas campanhas de África e da Índia – bem como os que depois morreram
ao serviço de Portugal em missões internacionais – alguns milhares de nós
lembramos os nossos camaradas mortos ou desaparecidos em combate, cujos nomes
ficaram gravados nos muros do monumento.
A
cerimónia transcende ideologias – sobretudo ideologias partidárias de que o
povo português está cada vez mais distante – e não pretende rever o que a
História decidiu. Pretende sim não retirar aos mortos desses 14 anos de guerra,
e aos outros que na defesa da pátria foram mortos, o seu lugar na História.
O 10 de Junho dos Combatentes é, e continuará a ser,
uma afirmação do patriotismo português, um rito celebrativo da nossa identidade
e unidade, numa Europa que hoje também parece despertar para a sua verdadeira
natureza e sentido, uma Europa das Pátrias, de Estados Nacionais, soberanos,
que voltam a lembrar um passado histórico que tem de ser integrado, tal como
também o Cristianismo incorporou as heranças da Grécia e de Roma e criou uma
civilização onde a identidade e a independência são condição da Liberdade e das
liberdades.
Foi
isto que Camões entendeu e registou e que outro poeta maior de Portugal,
Fernando Pessoa, veio lembrar e reintegrar no século passado. E os grandes
poetas são os melhores intérpretes do espírito do povo, aqueles que, como os
antigos arúspices, sabem ler nas entranhas do passado e nos ventos do presente
a memória do futuro. (in
“O 10 de Junho dos Combatentes” por Jaime Nogueira Pinto)