segunda-feira, 17 de junho de 2019

GUERRA DA RESTAURAÇÃO – BATALHA DE MONTES CLAROS

17 DE JUNHO DE 1665
Fogo a 50 metros
Como o general alemão Schomberg nos salvou, em definitivo, a pele
Na derradeira tentativa que fez para subjugar Portugal pela força, Filipe IV colocou à frente do seu exército invasor um dos melhores generais que tinha – o marquês de Caracena. Nesta última batalha, travada perto de Borba, Schomberg escolheu o terreno de combate que mais lhe convinha, após efetuar um reconhecimento. Tinha alguma na manga, claro.
E a surpresa que reservou para Caracena foi a de lhe colocar a apenas 50 metros de distância seis peças de artilharia, de quatro e seis libras de calibre (uma libra corresponde a quase meio quilo). Mas, para o coronel Luís Albuquerque, “o grande segredo, e génio, de Schomberg está no emprego daquilo a que, modernamente, chamamos ‘armas combinadas’”. Ou seja, a utilização articulada de infantaria, cavalaria e artilharia. “Enquanto os espanhóis pensavam em romper o flanco direito português com um ataque de cavalaria, colocando-a toda no seu flanco esquerdo – e separando a cavalaria, à esquerda, da infantaria, à direita –, Schomberg respondeu posicionando a cavalaria intercalada com a infantaria e com as peças de artilharia pelo meio”, explica o diretor do Museu do Exército. “Foi a ação conjugada da infantaria e da cavalaria, com o apoio dos fogos de artilharia a curta distância, que quebrou o ímpeto do ataque espanhol por duas vezes. Mais: permitiu aos portugueses contra-atacar eficazmente e vencer a batalha.” Não se julgue, porém, que foi tiro e queda. O confronto prolongou-se por dez horas, com o envolvimento de grandes efetivos. Do lado espanhol encontravam-se 15 mil homens de infantaria e 7 500 de cavalaria. O lado português estava, claro, em inferioridade numérica – 15 mil homens de infantaria e 5 500 de cavalaria.
No palco político, o conde de Castelo Melhor seria traído pela sua ambição. Em 1666, com 23 anos, Afonso VI casou-se com Maria Francisca Isabel de Saboia, neta do antigo rei Henrique IV de França e, portanto, aparentada com o “Rei-Sol” Luís XIV. A união fora negociada por Castelo Melhor, que perseguia a ideia de, após a derrota de Espanha, ver França anexar os Países Baixos espanhóis (a Flandres) e reservar a Galiza para Portugal. No entanto, Afonso VI não conseguiu consumar o ato sexual durante os 15 meses que durou o casamento, deixando o trono sem herdeiro. A rainha envolveu-se então com o cunhado, D. Pedro, e ambos iniciaram uma conspiração para destituir D. Afonso VI, através da abertura de um processo sobre a sua virilidade. Acusado, julgado e condenado pelo “crime” de impotência sexual, D. Afonso VI seria deportado para Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores, onde ficou preso numa sala de um quartel militar. Depois recambiaram-no para o Continente e fecharam-no numa outra sala, no Palácio da Vila, em Sintra. Assim “viveu”, enlouquecido, entre 1667 e 1683, ano em que morreu de uma suposta crise cardíaca.
Por isso, é mentiroso o frontispício do Tratado de Paz de Lisboa, assinado a 13 de Fevereiro de 1668, fez agora 350 anos, pelo qual Espanha renuncia, em definitivo, à conquista de Portugal. Ali, em letras garrafais, lê-se que Afonso VI foi o soberano português que subscreveu o documento. No interior, a assinatura é a do irmão D. Pedro, na qualidade de “regente”. Desfecho mais do que previsível: após a morte de Afonso VI, o irmão conspirador subiu então ao trono, com o nome de D. Pedro II, e casou-se com a ex-cunhada, Maria Francisca – que foi assim duas vezes rainha de Portugal. E tudo voltou a ficar bem...