8 DE JUNHO DE 1663
Um primeiro-ministro competente? Sim!
O conde de Castelo Melhor chegou ao
poder com um golpe palaciano, mas revelou-se um governante à altura dos tempos
de guerra
Foi D. Luísa de Gusmão quem chamou
para junto de si, no Governo, Luís de Vasconcelos e Sousa, conde de Castelo
Melhor.
Era uma boa escolha, mas da qual a
rainha viúva se arrependeria amargamente. Em julho de 1662, o conde faria
triunfar um golpe palaciano, que resgatava um “boneco” chamado D. Afonso VI,
filho herdeiro de D. João IV, e afastava D. Luísa de Gusmão do poder, ao cabo
de seis anos de regência. Então com 20 anos, D. Afonso VI já tinha mostrado que
não servia para o que o destino lhe reservara. Há relatos de que, logo em bebé,
fora atacado por uma misteriosa “febre maligna” que deixaria sequelas para
sempre. “Também fugia para se misturar com pessoas menos dignas nas tabernas e
prostíbulos, e era muito influenciável”, acrescenta o coronel Luís Albuquerque.
“Era dissoluto e inepto, mas como consequência das suas incapacidades físicas e
mentais.”
Como se está mesmo a ver, D. Afonso
VI delegou todos os poderes no conde de Castelo Melhor, que se tornou dono e
senhor do reino. Para lá de Inglaterra, Luís de Vasconcelos e Sousa estreitou
relações com a França do “Rei-Sol” Luís XIV, a cujo Estado-Maior foi recrutar
um general alemão com as melhores referências, o conde de Schomberg. E o
estratego alemão mostrou logo o seu génio militar naquele que foi, talvez, o
momento mais perigoso para Portugal na Guerra da Restauração. Um poderoso
exército de Filipe IV entrou em território nacional, tomou Évora, pretendia
avançar para Lisboa, mas acabou por ir ao encontro da força de socorro
portuguesa, no Ameixial, a norte de Estremoz.
Schomberg deixou que os espanhóis se
instalassem nas posições que escolheram. Depois, pôs a infantaria portuguesa em
duas colinas, e no vale colocou a cavalaria. Foi ao pôr do Sol que o general
alemão atacou o exército espanhol, com investidas de cavalaria no vale (onde
também se encontrava a cavalaria inimiga), e de infantaria, constituída por
mercenários ingleses (sempre eles…), sobre a infantaria do invasor, igualmente
instalada em colinas. O confronto foi curto: durou cerca de 60 minutos e
terminou ainda antes de anoitecer. Do lado espanhol estiveram envolvidos 12 mil
homens de infantaria e 6 500 de cavalaria. Pelo lado português combateram 11
mil homens de infantaria e três mil de cavalaria.
“Era uma hora imprópria para uma
batalha, que se trava normalmente de manhã ou durante o dia. Ou seja, com
algumas horas de luz pela frente, por forma a possibilitar um resultado
percetível”, afirma o coronel Luís Albuquerque. Porém, foi esse o fator
surpresa que determinou o desfecho vitorioso para o exército português.