de vez em quando
abro-o, leio-o, confirmo que as folhas estão cada vez mais velhas e as palavras
cada vez mais actuais!
Pátria (admito! Porque não
acredito que seja Mátria!)
“Um povo imbecilizado e
resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta
de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma
rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as
orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se
lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que
eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência
como que um lampejo misterioso da alma nacional, – reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta (…)
Uma
burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o
bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que,
honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e
sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a
falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa
sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente
inverosímeis no Limoeiro (…)
Um poder
legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do
moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais,
e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, – como da
roda duma lotaria.