Não fosse o “todo o burro
come palha, a questão é saber-lha dar” e o BE seria tratado como aquilo que de
facto é: um
grupo de gente esperta, frequentemente mal preparada, que na juventude se
profissionalizou na política e que fora da política não tem curricula para mostrar.
Pegue-se, na
lista de ministeriáveis do BE apresentada pelo Observador e pela demais comunicação
social e verificar-se-á que estamos diante de
dirigentes que passaram de estudantes
universitários a deputados, sem no meio terem feito algo de profissionalmente
relevante.
Comecemos
por Mariana Mortágua. Antes dos 30 anos
tornou-se deputada. Mariana é licenciada em Economia pelo ISCTE e estava a
fazer o doutoramento em economia quando se tornou deputada. Tinha 27 anos. É
apresentada como podendo vir a ocupar a pasta das Finanças.
Alguma
vez trabalhou numa empresa pública ou privada? Na administração pública? Em
algum gabinete de estudos? Alguma vez desempenhou uma tarefa que a confrontasse
com as consequências práticas na vida das empresas da legislação que defende?…
(in “Burros
de carga” por Helena Matos)
. 2
O caso de Joana
Mortágua apresentada como possível ministra da Educação é ainda mais assombroso
porque não se lhe conhece conhecimento relevante sobre nada: é
licenciada em Relações Internacionais com especialização em América Latina. Mas provavelmente porque a América Latina nunca se
interessou por Joana Mortágua esta tornou-se deputada em Portugal. Tinha à data
25 anos.
As suas habilitações
para ser ministra da Educação resumem-se ao facto de no parlamento se dedicar a
tal assunto. Digamos que é uma habilitação por frequência:
vai-se para o
parlamento, frequentam-se umas comissões e
fica-se apto a ser-se
ministro da respectiva pasta. Ou de todas elas.
(in “Burros
de carga” por Helena Matos)
. 3
Se
olharmos para o Luís Monteiro então estamos diante do curriculum zero: Luís Monteiro foi eleito com apenas 22 anos.
No grupo parlamentar, e
por ser estudante, foi-lhe atribuída a área do ensino superior.
Que o BE dê Luís
Monteiro como especialista em ensino superior não admira. O que realmente nem a
um jumento lembra é o país aceitar placidamente que Luís Monteiro possa ser
ministro do ensino superior porque frequenta ou frequentou o ensino superior!
(in “Burros
de carga” por Helena Matos)
. 4
Vamos ao caso de José Soeiro. Tem um
doutoramento em Sociologia. É dado como ministeriável na área do trabalho. Do
mundo do trabalho fora da Assembleia da República, José Soeiro tem, segundo se
lê na sua página do parlamento, a experiência de animar “oficinas de expressão
e de Teatro do Oprimido”. Terá sido aliás nessa actividade que, segundo o
Observador, se
confrontou com a precaridade e as questões dos recibos verdes que no
parlamento o transformaram em
especialista em questões de trabalho.
Seja como for, enquanto deputado José
Soeiro venceu a precaridade: José Soeiro tornou-se deputado aos 23 anos. Hoje
tem 34. Continua deputado.
(in “Burros
de carga” por Helena Matos)
. 5
Licenciado em Psicologia
tornou-se deputado aos 29 anos. Antes de ser eleito deputado já era
assistente parlamentar nas
áreas da Economia e das Finanças.
Um profissional da
política, portanto.
(in “Burros
de carga” por Helena Matos)
.
Que esta agremiação de
gente que aos vinte e alguns anos saltou dos bancos das universidades (e dos
palcos, pois o factor encenação não é irrelevante no caso) para as cadeiras de
deputados seja apresentada como ministeriável, sem que o país se interrogue sobre
as suas competências e experiências, é a prova – se alguma faltasse – do
jumentismo agudo de que padecemos.
Dirão que nos outros
partidos encontramos casos similares. É verdade. Mas em nenhum deles com este
peso e com tanta prosápia.
(in “Burros
de carga” por Helena Matos