antes a 13 de Dezembro de 2017 também
a Rita Siza, no Publico,
achava que “a surpreendente vitória de Doug Jones num estado fortemente
conservador dá um novo alento ao Partido Democrata.
Para os analistas, as últimas
votações funcionaram como um repúdio de Trump e um prenúncio de uma nova vaga.”
.
Primeiro, não ia ser candidato, não
podia ser, ninguém o levava a sério. Foi candidato. Depois, não podia ganhar,
era impossível, o mais impopular candidato de sempre. Ganhou. A seguir, não ia
durar, um indivíduo desqualificado, seria deposto em semanas. Ainda lá está, ao
fim de um ano. Tem sido assim com Donald Trump: não pode ser, é impossível, não
vai durar — mas foi, é possível e dura.
Agora, há quem espere pelas eleições intercalares do Outono, na expectativa de que os
Democratas ganhem o Congresso, ou que a investigação sobre as ligações com a
Rússia force Trump a incorrer em alguma forma de obstrução da justiça. Veremos.
Enquanto a imprensa faz a
contabilidade das suas inexactidões e tenta arranjar um escândalo todos os
dias, a economia continua a soprar a seu favor.
.
Os [¿Democratas?] não se conformam
com Trump. Mas também nunca, nos últimos cinquenta anos, se conformaram com
qualquer Republicano na presidência. As diatribes contra Trump seriam, aliás,
mais efectivas, não fossem uma repetição de todos os lugares comuns contra
todos os presidentes Republicanos (estúpidos, fascistas, racistas, mentirosos,
loucos, etc.). Um Republicano só se torna bom depois de deixar de ser
presidente, como George W. Bush, que até já é um pintor estimado. Deve dizer-se que os Republicanos têm
feito o mesmo aos presidentes do outro lado. Nada disto começou com Trump, nem
acabará com ele.
[...]
Mas Trump não é, de facto, um
presidente como os outros. É um intruso, sem experiência política. Está a
tentar evitar deixar-se manietar, quer pelos tarimbeiros do Partido
Republicano, quer por aventureiros como Steve Bannon, uma das estrelas populistas de 2016 que não
corresponderam às expectativas mais catastrofistas. O caos de “fogo” e de
“fúria”, que mantém toda a gente a rodar na sua equipa, serve a Trump
para se manter solto. Não se trata apenas de um gosto pessoal de independência,
ou da vontade de seguir um plano próprio de governo, que talvez não tenha.
Trump foi eleito pelo cepticismo e desprezo do público americano para com a
classe política tradicional. (in «Trump
para além do “fogo” e da “fúria”» por Rui Ramos)
nota: "Trump" perdeu a Câmara de Representantes e
ganhou o Senado