Fosse o senhor vereador doutro
partido, por exemplo, do CDS, e sabe como seriam os títulos? Eu dou-lhe uma
ajuda senhor vereador. Duvida que seriam qualquer coisa como:
.
“Vereador do CDS faz negócio obscuro à boleia da lei dos despejos de
Assunção Cristas”?
.
E ambos temos a certeza que logo
Catarina Martins com o pano de fundo dos seus lindos olhos clamaria contra as
negociatas, a especulação imobiliária e a corrupção.
Sim, a corrupção senhor vereador.
Ou duvida o senhor vereador que logo
se vasculharia como foram tão lestamente aprovadas as obras?
Que de imediato três arquitectos
explicariam que aquele andar a mais era um atentado contra a paisagem urbana e
o trinado do fado?
E, obviamente, os
jornalistas-activistas desencantariam os seus ex-inquilinos a quem nunca
perguntariam quanto receberam de indemnização para sair do prédio e a quem
pediriam para relatar as saudades do seu velho bairro, a tristeza por terem
deixado os vizinhos de sempre e a lástima pelo horror da especulação
imobiliária. [...]
O senhor vereador na verdade é
apenas o mais recente exemplo desse endemismo dos países governados por uma
casta. [...]
E assim Portugal está cheio de
defensores da escola pública cujos filhos e netos frequentam colégios alemães e
ingleses.
De defensores do SNS que se tratam
na medicina privada a que aliás a maior parte deles tem acesso garantido via
ADSE graças à sua condição de funcionários públicos.
De indignados contra a lei dos
despejos que investem no imobiliário.
De paladinos dos transportes
públicos que de transporte público só conhecem o carro de serviço.
De horrorizados com a invasão
turística dos centros históricos sendo que eles mesmos não se cansam de
descrever as impressões de viagem que colheram em Veneza, Roma, Paris,
Budapeste…. Mas claro eles não se consideram turistas mas sim viajantes.
Enfim Portugal está cheio de gente
que identifica serviços públicos e políticas públicas com propriedade pública. (in “Rir não é
remédio. É placebo” por Helena Matos )