sexta-feira, 27 de julho de 2018

para a história da hipocrisia...

Fosse o senhor vereador doutro partido, por exemplo, do CDS, e sabe como seriam os títulos? Eu dou-lhe uma ajuda senhor vereador. Duvida que seriam qualquer coisa como:
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Vereador do CDS faz negócio obscuro à boleia da lei dos despejos de Assunção Cristas”? 
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E ambos temos a certeza que logo Catarina Martins com o pano de fundo dos seus lindos olhos clamaria contra as negociatas, a especulação imobiliária e a corrupção.
Sim, a corrupção senhor vereador.
Ou duvida o senhor vereador que logo se vasculharia como foram tão lestamente aprovadas as obras?
Que de imediato três arquitectos explicariam que aquele andar a mais era um atentado contra a paisagem urbana e o trinado do fado?
E, obviamente, os jornalistas-activistas desencantariam os seus ex-inquilinos a quem nunca perguntariam quanto receberam de indemnização para sair do prédio e a quem pediriam para relatar as saudades do seu velho bairro, a tristeza por terem deixado os vizinhos de sempre e a lástima pelo horror da especulação imobiliária. [...]
O senhor vereador na verdade é apenas o mais recente exemplo desse endemismo dos países governados por uma casta. [...]
E assim Portugal está cheio de defensores da escola pública cujos filhos e netos frequentam colégios alemães e ingleses.
De defensores do SNS que se tratam na medicina privada a que aliás a maior parte deles tem acesso garantido via ADSE graças à sua condição de funcionários públicos.
De indignados contra a lei dos despejos que investem no imobiliário.
De paladinos dos transportes públicos que de transporte público só conhecem o carro de serviço.
De horrorizados com a invasão turística dos centros históricos sendo que eles mesmos não se cansam de descrever as impressões de viagem que colheram em Veneza, Roma, Paris, Budapeste…. Mas claro eles não se consideram turistas mas sim viajantes.

Enfim Portugal está cheio de gente que identifica serviços públicos e políticas públicas com propriedade pública. (in “Rir não é remédio. É placebo” por Helena Matos )