Uma situação que se tivesse como
protagonista um político dos denominados partidos de direita mereceria a
condenação na praça pública por parte do Bloco de Esquerda.
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O BdaE, resolveu quebrar o
silêncio instalado no partido sobre a tentativa de negócio imobiliário do seu
vereador na Câmara de Lisboa. Um silêncio que tinha levado Robles a fazer a sua
defesa pública totalmente desacompanhado.[.]
Havia alguma expectativa sobre a
forma como um partido habituado a denunciar as incoerências alheias, iria lidar
com o «carrossel da especulação» que lhe tinha entrado pela casa adentro, até
porque o PSD não demorou a pedir a demissão de Robles. Uma expectativa que,
como era previsível, saiu frustrada.
As palavras de Catarina Martins
inseriram-se naquela que é a prática habitual dos partidos populistas. No caso
de esquerda, mas que seria semelhante se a conotação fosse de direita.
Assim, não foi necessário recorrer à
estratégia de legitimação que Pablo Iglésias e a sua companheira, Irene
Montero, usaram em Espanha. Isto apesar do montante pago pelo casal – 600 mil
euros – representar pouco mais do que a décima parte do valor que Robles
pretendia obter. Ou de Iglésias e Montero serem compradores de uma habitação
própria e Robles assumir a condição de proprietário vendedor.
Robles proprietário não cometeu
qualquer ilegalidade. Aliás, o mesmo aconteceria caso a venda se tivesse
efetuado, desde que Robles cumprisse as obrigações do foro
administrativo-tributário.
Porém, a leitura terá forçosamente de
ser outra quando a análise contemplar a dimensão ética. Nesse plano, Robles –
tal como qualquer outro político – não pode querer impor aos outros aquilo que
não está disposto a cumprir. ( in “Robles
e o dilema do populismo de esquerda” por José Pinto )