quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Isto não é Alcobaça, nem Alvalade, nem Algueirão...

Vivemos tempos em que o jornalismo confunde missão com militância.
O artigo publicado no Observador — intitulado “Isto não é o Bangladesh” — é um exemplo cristalino desse desvio: sob a aparência de comentário político, assume a forma de panfleto moral, dirigido contra um candidato à Presidência da República que, por acaso, é também o líder da oposição parlamentar¹.
A autora do texto, travestida de observadora imparcial, não comenta: adverte, julga, sentencia. Classifica André Ventura de “antissistema”, insinuando ser “antidemocrático”. Mas quem define o “sistema”? E, sobretudo, quem lhe deu o poder de o delimitar?
Verdade e aparência
O ensaio filosófico “Verdade e Existência: uma defesa do aspecto objectivo”² sustenta que a verdade não é produto de gosto ou simpatia, mas correspondência entre o que é dito e o que é — entre o juízo e o real.
Quando o jornalismo abdica deste “aspecto objectivo” e se converte em comentário de simpatia ideológica, deixa de ser veículo de conhecimento e torna-se instrumento de propaganda.
Não é a opinião que ameaça a democracia — é a pretensão de impor uma só opinião como “verdade”.
Jornalista ou activista?
Convém lembrar: o jornalista informa, o comentador opina. O problema surge quando o comentador pretende ser jornalista e o jornalista se comporta como activista.
A crítica política é legítima, mas a militância mascarada de reportagem é desonesta.
O artigo que atacou Ventura não visa esclarecer o leitor; visa moldar-lhe a percepção, qualificando um candidato de “perigo” para a democracia e, implicitamente, apoiando os outros — os “seguros”, os “aceitáveis”, os que não incomodam o regime mediático.
Trata-se, pois, de jornalismo militante, e esse é o mais perigoso, porque nega a liberdade que finge defender.
A força do discurso e o medo da verdade
Ventura fala alto, é certo. Fala claro, o que é raro. Mas falar alto não é crime; é parte essencial da liberdade política.
A democracia que teme a palavra vigorosa está doente: quer cidadãos dóceis, políticos domesticados, imprensa uníssona.
A liberdade de expressão não existe para proteger as ideias consensuais — existe para proteger as ideias incómodas.
O ataque mediático a Ventura é, no fundo, um sintoma: o sistema teme o espelho que o devolve à sua própria contradição.
E quando a imprensa tenta silenciar um político chamando-lhe “antissistema”, o que confessa é medo — medo de perder o monopólio da narrativa.
Isto não é Alcobaça, nem Alvalade, nem Algueirão
“Isto não é Alcobaça” — nem um feudo mediático, nem uma república de censores.
É Portugal, onde a palavra ainda é livre, mesmo quando fere sensibilidades delicadas.
O artigo do Observador não é jornalismo; é activismo com assinatura.
E a liberdade de expressão que Ventura reivindica, em nome próprio, é a mesma que permite à sua autora escrever o que escreveu — embora sem lhe reconhecer o mesmo direito de resposta.
Defender Ventura, neste caso, é defender um princípio:
    que ninguém, nem jornalistas nem partidos, se arrogue o poder de decidir quem             pode ou não falar em nome do povo.
A verdade — como a existência — não se curva perante conveniências mediáticas e 
A liberdade de expressão é objectiva, não condicional.
E o dia em que o discurso político for policiado por colunistas, será o dia em que a democracia deixará de o ser.
Em nome da verdade, e da liberdade de a dizer, afirmemos sem medo:
Isto não é Alcobaça, nem Alvalade, nem Algueirão
Notas de rodapé
-Ver artigo original no Observador, “Isto não é o Bangladesh — um artigo anti-Ventura disfarçado de comentário político”, disponível em cdeitado.blogspot.com.
-José Costa-Deitado, Verdade e Existência: uma defesa do aspecto objectivo, estudo filosófico guardado nos arquivos ReVisões, Outubro de 2024.