sábado, 18 de outubro de 2025

“Autárquicas: realidade e fantasia" (excerto do artigo de Jaime Nogueira Pinto)

Nestes tempos de provação e recuo, a Esquerda, habituada à vitória há meio século, tende a refugiar-se em prémios de consolação e nas delícias do comentariado.

A mudança
Entretanto, o mundo mudou, e sucederam-se as reacções ao globalismo, à desindustrialização, ao regresso ao capitalismo selvagem no Ocidente e ao ideário hedonista de uma esquerda agora instalada nas instituições e convertida ao internacionalismo capitalista – e até a Bruxelas.
Em Portugal – que para o bem e para o mal quase sempre segue a Euro-América – um dissidente do PSD começou um partido nacional popular, aproveitando a rejeição generalizada do alheado compadrio político sistémico e das novas formas internacionalistas de esquerdismo radical.
Em poucos anos, o Chega implantou-se como partido de protesto, valendo-se do vazio à direita (o abandono dos princípios nacionais-conservadores ou nacionais-populares) e, até, à esquerda (a troca de vitais causas sociais e laborais por um urbano-decadente arco-íris de minorias).
E é à luz de todo este enquadramento que devemos ler os resultados das eleições autárquicas de Domingo, 12 de Outubro.
As delícias do comentariado
Nestes tempos de provação e recuo, a Esquerda, habituada à vitória há meio século, tende a refugiar-se em prémios de consolação e nas delícias do comentariado.
O que dizer destas eleições? 
Que o Chega foi o grande derrotado, evidentemente. Comparando o resultado da “extrema-direita” nas legislativas de Maio com o resultado de agora, esquecendo a comparação entre os resultados das autárquicas de 2021 e estas de 2025, e atendendo às expectativas de Ventura de “varrer o país”, o Chega foi, de facto, o grande perdedor da noite. Só conseguiu três câmaras 134 vereadores e algum poder de desempate. Voto útil à direita? Parece que não houve. Afinal, o bipartidarismo está bem e recomenda-se. Ventura falou de mais; tal como Trump, que também se pôs a dizer que queria o prémio Nobel da Paz por dá cá aquele refém e depois não o conseguiu.
Que dizer da derrota da “Frente Popular” em Lisboa que foi praticamente um “empate técnico”, (33,95% vs 41, 69%)? E quanto à disputa por vereadores PCP-Chega… serão os boletins de voto que não tinham a opção Chega verdadeiramente nulos? No Porto também esteve tudo bastante empatado. Resumindo, o PSD perdeu Viseu e o Partido Socialista até se aguentou bem, vencendo em Loures (apesar da actuação do candidato, “ofensiva dos valores, cultura e identidade do partido”, segundo as forças vivas do mesmo que andam “entretidas lá na Europa”, ou por causa dela?) Ah, mas ainda há o Livre. O Livre subiu! E parece que já dá cartas no poder local. Em murchando o cravo, a papoila coliga muito bem.