domingo, 19 de outubro de 2025

quando a liberdade se apaga atrás de um véu

Nas democracias, a liberdade começa com a visibilidade. O rosto — a presença — é a expressão mais elementar de cidadania. É através dele que cada indivíduo se afirma no espaço público, responde pelos seus actos, participa na vida comum.
Ora, foi precisamente essa noção elementar de liberdade que, no Parlamento português, esteve em causa com a votação da lei que proíbe o uso de roupas destinadas a ocultar o rosto em espaços públicos, incluindo a burca e o niqab
Não falamos de um acessório inócuo, de um chapéu ou de um lenço ao pescoço. Falamos de símbolos de apagamento: peças que transformam a mulher num corpo sem identidade, sem expressão, sem rosto. Símbolos que dizem mais sobre poder, submissão e invisibilidade do que sobre liberdade ou religião.
Os partidos que disseram “não” à visibilidade
A lei, apresentada pelo CHEGA, foi aprovada com os votos favoráveis do PPD/PSD (Partido Social Democrata), Iniciativa Liberal (IL) e CDS – Partido Popular.
Contra estiveram: Partido Socialista (PS), Bloco de Esquerda (BE), Partido Comunista Português (PCP) e Livre.
A explicação dos socialistas foi de antologia: ninguém no Parlamento “se sente confortável com a utilização da burca”… mas, ainda assim, votaram contra a sua proibição. Não por discordarem da lei — mas porque não querem que o debate seja “catapultado pelo Chega”. Eis a moral: para agradar à narrativa, preferem tolerar aquilo que dizem repudiar.
É este o grau de cobardia política que domina parte significativa da esquerda portuguesa: não têm coragem de defender o espaço público comum quando o tema envolve islamismo ou multiculturalismo. Falam em direitos, mas esquecem o mais elementar dos direitos — o de existir com rosto, com identidade, com igualdade.
Burca e niqab: símbolos de apagamento, não de liberdade
A burca e o niqab não são “moda religiosa”. São instrumentos que apagam a mulher do espaço público:
- Apagam-lhe o rosto, logo, a identidade;
- Retiram-lhe visibilidade, logo, voz;
- Condicionam a sua relação com os outros e com o Estado.
Uma democracia liberal não pode aceitar que alguém se apresente no espaço comum como se não existisse. O rosto é sinal de cidadania, e a cidadania não pode ser coberta, anulada ou negociada em nome de sensibilidades culturais.
Permitir o uso da burca ou do niqab em hospitais, escolas, tribunais, repartições ou transportes públicos é abrir caminho a uma sociedade paralela, onde alguns vivem visíveis e responsáveis… e outros escondidos atrás de uma cortina de “tolerância” mal disfarçada.
Quando o Estado cede, a cidadania recua
O problema não é novo — nem se limita a Portugal. Veja-se o caso das escolas em Ceuta e Melilla, onde contratos escolares impõem menus sem carne de porco para satisfazer exigências religiosas 
Não se trata aqui de respeitar diferenças privadas — trata-se de transformar o espaço público num território segmentado por pertenças comunitárias.
Quando o Estado abdica da sua autoridade e da neutralidade do espaço público para agradar a minorias activistas, não está a promover integração. Está a legitimar privilégios. Está a criar cidadanias diferenciadas.
E é exactamente isso que permitir burcas e niqabs significa: aceitar a fragmentação social e institucionalizar a desigualdade.
Liberdade não é invisibilidade
Os partidos que votaram contra esta lei estão a dizer, por outras palavras, que é legítimo viver no espaço público sem rosto, sem identidade visível, em nome de uma suposta liberdade religiosa. Mas liberdade não é ausência de rosto. Liberdade é aparecer, existir, participar.
A sociedade que aceita o apagamento do rosto feminino em nome da tolerância, está a legitimar a opressão e a minar a sua própria cultura democrática.
A lei aprovada não é “populismo”, não é “islamofobia”, não é “ataque a minorias”. É simplesmente defesa do espaço público comum.
É dizer, com clareza: aqui, as regras são iguais para todos. Aqui, o rosto humano não é tabu. Aqui, não aceitamos cidadanias invisíveis.
o rosto é a fronteira da liberdade
Nenhuma democracia sobrevive se abdicar do princípio de igualdade no espaço público. A burca e o niqab não são apenas roupas — são muros portáteis entre pessoas.
E quem vota contra leis que proíbem a ocultação do rosto, vota a favor desses muros.
Portugal escolheu — por maioria — defender a liberdade com rosto. Alguns preferiram continuar a esconder-se atrás de narrativas politicamente correctas. Mas o essencial está dito: a liberdade não se mascara. A liberdade mostra a cara.