Foi assim
que Bob Woodward titulou o seu livro sobre a presidência de Donald Trump que
muitos comentam mas poucos leram...
.
Ao contrário do «jornalismo»
português, Woodward, tendo uma causa, tem a honradez e seriedade bastantes para
escrever um livro que, sendo certamente simpático à causa democrata, corre o
risco de cimentar as crenças dos eleitores do presidente e conquistar até novas
simpatias.
O «jornalismo» português já decidiu:
Trump é estúpido, ignorante, xenófobo e machista (além de capitalista,
evidentemente). Donde resulta necessariamente, segundo o «jornalismo»
português», que, visto terem-no eleito, os americanos o são igualmente.
Woodward, porém, além de jornalista, é inteligente e mais fino: do que ele
acusa Trump é de ser errático, padecer de défice de atenção, ignorar tudo da
economia e das relações internacionais, e ser perigosamente impulsivo. [...]
Em resumo, eis o que conseguiu a
gerência estúpida, ignorante, errática e perigosa de Trump:
- em vez da terceira guerra
mundial que os media portugueses garantiam, Trump sentou a Coreia do Norte
à mesa das negociações e conseguiu um acordo de desarmamento; e não ponho
de lado que, depois de pacificada a península, a Coreia do Sul venha a ter
que aceitar um acordo KORUS menos vantajoso;
- em vez de criar um Estado
Islâmico, Trump contribui para a destruição do Estado Islâmico para cuja
existência Obama contribuíra pela ausência;
- em vez de levar a China ao
limiar da guerra, Trump conseguiu uma condenação internacional por roubo
de propriedade intelectual, e pôs no centro da política externa a
consideração da China como mais perigoso adversário político, económico e
militar;
- a reforma fiscal recentemente
aprovada libertou para o orçamento de uma família média com um filho mais
de 2000 dólares anuais, com efeitos no consumo interno; «os ricos» (como
diz a esquerda) ficaram com ainda mais, o que fez disparar o investimento;
- as tarifas alfandegárias – ou
a ameaça de tarifas alfandegárias – suscitou a revisão de acordos
comerciais como o NAFTA, que abriu o mercado canadiano às indústrias
americanas de automóveis e lacticínios;
- investimento e emprego batem
recordes; e a economia americana cresce acima dos 4%;
- e o argumento da xenofobia é
apenas mais uma patetice atirada por gente irritada. Quem analise o que
está a ser debatido agora nos EUA (a migração em cadeia, por exemplo)
verificará que o debate decorre em termos bem razoáveis, e nem sequer mais
restritivos do que no tempo de Obama.
E então?
Então, Fear. Medo… Woodward faz muito
bem em tê-lo e em confessá-lo. Porque as políticas de Trump – opostas às dos
democratas e por eles consideradas estúpidas ou impossíveis – afinal produzem
resultados e afinal eram possíveis.
E há ainda uma pérola, ou uma cereja
em cima do bolo, como quiserem, que a mim pelo menos parece deliciosa: o facto
de o rico, capitalista Trump, o Trump do golfe e da vida faustosa, ser hoje nos
EUA a voz da classe operária.
(in “Ódio a quem
os desmascara” por José Mendonça da
Cruz)