títulos que se ouvem aqui e ali e continuam
desligados da sua realidade...
.
Há pouco mais de quatro anos, a BBC
abriu um artigo sobre o Porto com seis mulheres que lavavam a roupa em tanques
públicos. Para o jornalista, aquele "equivalente medieval de uma
lavandaria" era "a única coisa" que "as pessoas sem
dinheiro para electricidade ou para reparar uma máquina de lavar roupa podiam
usar".
Estávamos na altura em que Portugal
era o P do humilhante acrónimo PIGS...
É altamente provável que aquelas
mulheres continuem hoje a lavar a roupa nos mesmos tanques. Mas agora não são
vítimas do "peso da austeridade" - foram elevadas ao estatuto de
"nórdicos da Europa", para citar o jornal La Voz de Galicia, que
adoptou o "soundbite" do Presidente Marcelo.
[...]
Se em 2012 o The Wall Street Journal
citava os números terríveis da falta de qualificações dos portugueses, esta
semana a Forbes elogiou a população "jovem e qualificada" que faz de
Portugal um destino óbvio de investimento. Até o desemprego jovem, antes
repisado em inúmeras reportagens, é visto agora pela Forbes como sinal da
existência de "um reservatório de talentos", impacientemente à espera
de uma oportunidade" (!).
[...]
No Portugal dual, uma grande parte
da população ainda vive no lado com menos luz - o dos salários baixos e
estagnados na retoma, da cultura de trabalho inimiga do mérito e da conciliação
com a família, da emigração forçada pela necessidade. (in “De PIGS a nórdicos do Sul em 5,3 segundos” por Bruno Faria Lopes)