Em Portugal a deriva populista, este
discurso do povo contra as elites, dos puros contra os corruptos, tem sido uma
das especialidades do Bloco de Esquerda. Nada de demasiado surpreendente se
pensarmos que os seus homólogos espanhóis, do Podemos, até teorizam sobre as
virtudes do populismo e o seu líder, Pablo Iglésias, foi ao ponto de cunhar um
epíteto – “la casta” – para definir todos os seus adversários.
A novidade é a forma despudorada
como o PS e o seu líder, por circunstâncias da vida nosso primeiro-ministro,
também fizeram seu este tipo de discurso. O partido que, mais do que assistir
mudo, cerrou fileiras em torno de alguém como José Sócrates, que defendeu os
“negócios de Estado” que ele promoveu a partir de São Bento nas circunstâncias
que hoje conhecemos, devia, no mínimo, ter mais cuidado quando atira lama para
o ventilador.
Nesta quarta-feira, no Parlamento,
depois dos esclarecimentos de Rocha Andrade, só a esquerda radical pode, por
ideologia, prosseguir na sua catilinária. Infelizmente o PS também parece
querer fazer o mesmo. É talvez altura de alguém mais sereno recordar naquela
casa que o populismo “centrista” não está isentos de riscos. (in “Populismo?
Quem disse que a peste não tinha chegado a Portugal?” por José Manuel Fernandes)