Na noite em que perdeu as eleições,
António Costa foi “virtuoso” no sentido em que Maquievel usou o termo no
Principe. Levantou uma questão central da vida política: Tenho uma oportunidade
para conquistar o poder? E percebeu que tinha. […] Um novo governo do PSD e do
CDS seria uma enorme ameaça ao poder da esquerda, sobretudo do PCP, no aparelho
do Estado.
Domesticada a extrema-esquerda,
Costa lidou com a eleição presidencial da melhor maneira. Aliado às esquerdas
radicais no parlamento, precisava de uma figura moderada e do PSD em Belém; por
isso, fez o necessário para ajudar a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
O Costa está assim no centro de duas
alianças políticas. Tem uma maioria de esquerda no parlamento e fez um mini
bloco central com o Presidente, empurrando o PSD e o CDS mais para a direita,
num país desequilibrado para a esquerda (por isso estamos como estamos,
endividados, sem capital e empobrecidos).
Apesar dos gritos e das indignações
da direita, a curto prazo, Marcelo não tem condições políticas para mudar o seu
comportamento. E o Costa sabe-o.
[…] na Europa a situação também se
tornou favorável para o governo. As políticas monetárias do BCE permitem a
ilusão do que a crise acabou e o suficiente para o governo reverter algumas das
medidas mais impopulares do último governo de direita. A política de juros baixos
e de injeção de dinheiro nos mercados serve sobretudo para ajudar os países
mais endividados, como Portugal e a Itália. Draghi tudo fará para continuar a
auxiliar o seu país e apoiando a Itália, ajuda Portugal.
em ano de eleições […] a evolução
política na Europa pode ser ainda mais favorável para o Costa porque a
geringonça colocou o PS numa situação invejável para a maioria dos partidos da
esquerda moderada na Europa.
Em Espanha, o PSOE está a lutar para
continuar a ser o maior partido de esquerda.
Em França, o partido socialista está
a chegar ao fim (mais em baixo).
Em Itália, o Partido Democrata
dividiu-se.
No Reino Unido, os Trabalhistas
foram raptados por grupos de trotskistas. Apenas na Alemanha, o SPD parece
estar em condições de regressar ao poder, depois da chegada de Martin Schulz à
liderança.
E as eleições na Alemanha (e em
França) podem ajudar o Costa e a geringonça. (in “E
as coisas podem continuar a correr bem a Costa” por João Marques de
Almeida