Não vou discutir se bem ou mal – até
acho que, em muitas circunstâncias, há todas as razões para puxar mesmo da
pistola –, estou apenas a constatar que se trata de um terreno ideal para toda
a demagogia. E para o mais rasteiro populismo, mas já lá irei.
Comecemos pela demagogia.
Não houve 10 mil milhões de euros “a
sair pela porta do cavalo”, como acusou Catarina: houve 10 mil milhões cuja
saída (legal até ver) foi comunicada pelos bancos mas não foi devidamente
registada pela máquina fiscal. Esses 10 mil milhões nunca pagariam o SNS, pois
se houver algum imposto devido (e pode não haver) estaremos a falar de alguns
milhões de euros, no máximo.
Os 10 mil milhões também não
“fugiram” do país, como disse Costa: pelo menos uma boa parte deles destinou-se
a pagar operações comerciais, informou o seu secretário de Estado. E ninguém
podia “verificar o que aconteceu” a dinheiro que, na altura, não aparecia
registado no sistema informático.
Sobretudo nada disto tem a ver com o
combate à evasão fiscal e à cobrança de dívidas fiscais, algo que melhorou
muito nos últimos anos a todos os níveis da máquina fiscal.
Em contrapartida, tudo isto tem a
ver com uma insinuação soez: a da conivência com a fuga ao fisco dos “grandes”.
(in “Populismo?
Quem disse que a peste não tinha chegado a Portugal?” por José Manuel Fernandes)