A decisão chegou: Lula da Silva não discursará nas comemorações oficiais do 25 de Abril, no parlamento. A decisão era tão inevitável, tão óbvia, tão incontornável que só surpreendia que, no governo, se tenha achado boa ideia lançar tal convite a Lula da Silva — por cinco razões.
Primeira razão:
Lula da Silva é uma personalidade política controversa e polarizadora. Convidar para as comemorações oficiais do 25 de Abril alguém que fragmentaria o parlamento português, em vez de representar a união nos valores democráticos, evidenciaria uma alarmante falta de bom-senso. […]
Segunda razão:
há que preservar o funcionamento das instituições democráticas. A participação de Lula da Silva nas comemorações do 25 de Abril foi anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros — facto que, no plano institucional, corresponde à violação da separação de poderes, pois o governo invadiu o espaço de decisão da Assembleia da República. […]
Terceira razão:
Lula da Silva não condena a invasão russa da Ucrânia. Pior: Lula da Silva responsabiliza e critica Zelensky pelo conflito com a Rússia. Ora, em Portugal e na UE, o regime de Putin constitui a maior ameaça à liberdade, à paz e à prosperidade. […]
Quarta razão:
Lula da Silva acumula posições recentes e inconciliáveis com os valores que Portugal comemora no 25 de Abril. Por exemplo, em 2022, durante a campanha eleitoral das presidenciais que venceu, Lula da Silva sugeriu o mapeamento dos endereços pessoais de deputados, de forma que estes pudessem ser pressionados por manifestantes junto das suas residências, para “incomodar a tranquilidade” e “conversar” com a mulher e os filhos. […]
Quinta razão:
Lula da Silva esteve envolvido em sucessivos casos de corrupção. O destaque evidente é a Operação Lava-Jato, uma gigantesca teia de corrupção com Lula da Silva no centro. O agora presidente do Brasil foi condenado em várias instâncias a pena de prisão (entre 8 a 12 anos), tendo cumprido mais de um ano de prisão até a sua condenação ser anulada por erros processuais relacionados com áreas de jurisdição — ou seja, Lula da Silva está em liberdade, mas politicamente não se pode considerar inocentado. […]
Se estas cinco razões são simples de atingir, o governo ignorou-as integralmente. Preferiu a polarização, tentou submeter o parlamento à sua vontade, desvalorizou a posição de Lula sobre a Ucrânia e valores democráticos, e abriu portas para o espectro da corrupção intoxicar as comemorações da democracia portuguesa. Neste caso, felizmente para o país, valeu que o parlamento travou a iniciativa, desautorizou o Ministro dos Negócios Estrangeiros e repôs alguma dignidade institucional.
Já passou? Não, não passou.
Lula não discursa no 25 de Abril, mas ficam os tiques do governo que a democracia dispensa: falta de bom-senso, atropelos institucionais, desrespeito pela liberdade e permissividade para com a corrupção.