quinta-feira, 17 de outubro de 2019

a nova História no 12º ano é militante

O antigo presidente do Parlamento nota que o objectivo da nova disciplina opcional do secundário é mais "militante" do que científico e não aceita símbolos nacionais, heróis ou causas.



Jaime Gama entende que a nova disciplina opcional de “História, Culturas e Democracia”, que se destina a alunos de três cursos do 12º ano do ensino secundário, “serve-se da História” para cumprir “um objectivo, de certa forma, militante, não científico”. Ou seja, “gerar estratégias para estimular activismo, cidadania, intervenção”, considerou o socialista e antigo presidente da Assembleia da República no programa Conversas à Quinta, do Observador.
Presente nesta cadeira do secundário — que se destina aos alunos dos cursos científico-humanísticos de Ciências e Tecnologias, de Ciências Sócio-Económicas e de Artes Visuais — está também, segundo Jaime Gama, a ideia de que a História precisa de ser “desconstruída, relida, reinterpretada”. O programa da disciplina é virado para “a segmentação, a fractura, identidades minoritárias”, tendo “um abandono de tudo o que tem que ver com conjuntos, com integração, com coesão”, considerou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. É uma História “sem centralidade nacional”: “Não aparece Portugal, não aparece o Estado, não aparece a Nação, não aparece o Povo, tudo é segmentado”, aponta. Por exemplo, em relação à batalha de Aljubarrota, criam-se “imensas referências para que não haja visitas imponderadas ao Centro Interpretativo da Batalha de Aljubarrota” e “à visão do filme que lá é apresentado”, diz ainda.
O objectivo não é explicar a batalha: “O que se pretende é dizer que a batalha tem várias interpretações — ‘vejam as várias crónicas’”. Logo, “a crónica que valoriza a posição portuguesa é posta ao mesmo nível da crónica que valoriza a posição espanhola”. Há, na opinião de Jaime Gama, “uma descontextualização de uma interpretação mais vasta, geopolítica, histórica da época, porque isso não interessa — o que interessa é descontrair o mito da Batalha de Aljubarrota, relativizá-lo”.
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros lamenta que o programa da cadeira seja de “uma História que não aceita nenhum símbolo nacional, não aceita nenhum herói, não aceita nenhuma causa, não aceita nenhum objectivo estratégico do país, não aceita o país, sendo prefigurado por uma política de Estado — até na parte internacional”.
“O que está aqui em causa é cumprir um objectivo ideológico muito em voga, hoje, em certas culturas, sobretudo anglo-saxónicas, que é o de enfrentar-se com o passado”, considera Jaime Gama.
“É, no fundo, receitada uma penitência a certos povos e países que, porventura, podem ter algum orgulho na sua História e no que fizeram de positivo: ‘tens de te enfrentar com o passado, tens de ver a tua experiência dolorosa, confessar o teu pecado na experiência dolorosa, e só assim merecerás uma absolvição de politicamente correto, só assim poderás ser redimido na tua alma do que ainda há de empatia para com essa parte da História, autoflagelando-te, para poder ser um cidadão liberto'” face a “um passado de trevas”, ironiza.
“Outra noção muito perversa” do programa da cadeira, defende Jaime Gama, tem que ver com “a responsabilidade transgeracional”: não só há o confronto com o passado, como “‘tens de assumir a culpa e uma responsabilidade, quiçá indemnizatória, em relação a esse mesmo passado’”, diz o antigo presidente do Parlamento. Pedagogia que visa “vencer as diferenças e os ‘handicaps’ das minorias”. Objectivo? “Haver um momento em que as histórias das culturas minoritárias têm de se sobrepor às culturas maioritárias, para se estabelecer uma noção de equidade”.
Jaime Gama nota ainda que a bibliografia da cadeira “é muito irregular quanto à sua consistência científica e credibilidade de algumas instituições a que recorre”.