Talvez o mistério Trump se explique
pelo paradoxo que melhor o define: a arrogância da esquerda num político de
direita.
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Diga-se o que se disser, a verdade é
que Trump tem o condão de irritar muita gente, da direita mais conservadora à
esquerda mais progressista. Ninguém gosta do seu estilo arrogante, do seu
palavreado por vezes ordinário, do seu novo-riquismo de mau gosto, para já não
falar da sua incrível melena. Como se explica então que tenha ganho a eleição
presidencial?! Possivelmente não se explica, mas estas dez pistas talvez ajudem
a compreender melhor o mistério Trump.
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1º. Trump é a expressão do
politicamente incorrecto: a sua eleição é uma reacção contra o sistema político
que, em nome da democracia, asfixia a liberdade.
2º. Trump tinha praticamente
toda a imprensa contra ele, com excepção da Fox News e do The Telegraph. Se
Watergate foi, ao lograr a demissão de um presidente dos Estados Unidos da
América, o auge do poder da imprensa, a eleição de Trump foi o seu canto do
cisne.
3º. Trump tem ideias claras
sobre a vida humana, o casamento e a família e está disposto a lutar por elas.
Os partidos ditos conservadores têm, em geral, uma atitude tíbia e
envergonhada, mas os partidos de esquerda têm uma agenda clara e não perdem
ocasião para a implementar
4º. Trump tem uma relação
diferente com os lóbis. Muitos governos vivem praticamente sequestrados pelos
grupos de pressão, que são uma espécie de comissários políticos da democracia.
Trump já deu a entender que, na América, manda ele, porque foi ele, e não esses
grupos, por muito respeitáveis que possam ser, que foi eleito presidente.
5º. Trump não tem medo da
iniciativa privada, se for a que melhor serve o bem comum. A esquerda
privilegia a saúde pública e o ensino estatal porque, em teoria, são os que
melhor servem o interesse nacional mas, na prática, porque herdou do marxismo
uma concepção totalitária do poder e desconfia da liberdade e da iniciativa
privada.
6º. Trump manda mesmo e, por
isso, demitiu a procuradora-geral interina, depois de Sally Yates ter questionado
a ordem presidencial que proíbe a entrada nos Estados Unidos da América a
cidadãos de sete países de maioria muçulmana. Também demitiu todos os
embaixadores ‘políticos’, que tinham sido nomeados pelo seu antecessor e que
não eram da sua confiança.
7º. Trump não tem uma visão
utópica ou idealista do mundo. Quer contribuir para a NATO, cuja importância
estratégica reconhece, mas não se a Europa não estiver interessada na sua
segurança. […] Quer a paz mundial, mas não apenas com os sacrifícios do seu país.
8º. Trump é a favor da
liberdade religiosa, mas não admite que ninguém, nem nenhuma religião, ponha em
perigo a paz e a segurança dos cidadãos norte-americanos. […] Os muçulmanos não
são todos potenciais terroristas, mas é evidente que esta religião é essencialmente
guerreira e que há um terrorismo maometano, que decorre do conceito islâmico de
guerra santa: a jihad.
9º. Trump é patriota e defende
os legítimos interesses do seu país, nomeadamente através do muro na fronteira
austral. Todos os Estados têm direito a evitar a imigração ilegal e é bom não
esquecer que foi Bill Clinton, um presidente democrata, quem decidiu e iniciou
a construção do muro, […]. E a verdade é que Obama, durante os seus dois
mandatos, não o destruiu; nem Hillary, se fosse eleita, iria fazê-lo. Mas uma
América fechada sobre si mesma pode levar ao ressurgir dos nacionalismos
proteccionistas, com graves prejuízos para a solidariedade internacional e para
os países mais necessitados.
10º. Trump é arrogante, é
certo, e o seu feitio não parece ser o melhor. Não são referências adequadas à
sua função: é, como é óbvio, um perigo para o seu país e para todo o mundo. Na
realidade, é preocupante que um homem, por vezes tão básico e imprevisível,
esteja à frente da maior super-potência mundial. Mas não é o único… (in O mistério Trump por P. Gonçalo Portocarrero de
Almada)