Costa é um otimista para quem a “esperança” é irrevogável, mesmo quando navega durante a incerteza de uma pandemia imprevisível e de uma crise económica sem precedentes. Na entrevista de balanço que deu à VISÃO, está focado no futuro, nos 58 mil milhões de euros que chegarão de Bruxelas e na oportunidade de reposicionamento, de reindustrialização e de um retorno em verde para Portugal. E, claro, numa reedição da Geringonça, sem máscaras. Porque isso de “procurar o Bloco Central é como caçar gambozinos”: um “mito urbano”.
O sol já ia baixo nos jardins da residência oficial do primeiro-ministro quando começou a entrevista com a VISÃO. Terminava assim para António Costa uma semana intensa, depois de um Conselho Europeu arrastado e do debate do Estado da Nação nessa manhã da passada sexta-feira. Uma conversa de balanço, sem acusar cansaço, sobre os desafios que teve de enfrentar, mas sobretudo acerca do que pode ser a saída da crise e um futuro pós-pandemia. Pretende partilhar este texto? Utilize as ferramentas de partilha que encontra na página de artigo.
Agora que está a atravessar o maior annus horribilis da história da democracia portuguesa e, provavelmente, do último século, pergunto: continua a ser um “otimista impenitente”?
Ser otimista não significa ser irrealista, e manifestamente vivemos um momento de incerteza enorme e assim continuaremos até haver um tratamento ou uma vacina. Sem isso, dificilmente conseguiremos ter um regresso à normalidade. O máximo que vamos conseguir é aprender a conviver com esta nova realidade.
Alguma vez neste processo se sentiu a perder o pé à situação? Quais foram os momentos mais duros?
O momento mais duro foi logo no início, porque qualquer decisor político gosta de ter certezas em relação àquilo que decide. E a certeza assenta na informação que tem. Uma coisa que ficou logo muito percetível no princípio de março foi que os cientistas tinham inúmeras dúvidas e desconhecimento, por esta ser uma realidade nova.
Estamos a participar num gigantesco laboratório à escala global, em que os cientistas vão investigando ao mesmo tempo que nós temos de ir decidindo. Aquele momento em que tínhamos de decidir “fecho as escolas ou não fecho as escolas?”, esse foi o de maior angústia, porque percebemos que tínhamos de decidir mais com base no que era a nossa própria convicção ou interpretação dos factos, mesmo que a base científica para a decisão não fosse completamente sólida.