Em vez de queimar livros como o do Riccardo Marchi, esta extrema-esquerda académica devia tentar uma coisa mais simples: escrever livros minimamente legíveis, minimamente académicos e ‘científicos’, livros que não sejam meros almanaques dos campos de férias do Bloco de Esquerda; devia criar pensamento, e não as caixas de conformismo 'progressista' que transformam o 'progressismo' numa ortodoxia fanática.[…]
Hannah Arendt, que também teve os seus livros ‘queimados’, estabeleceu a diferença moral e conceptual que é a condição sine qua non do trabalho intelectual: ‘perceber’ não é ‘desculpar’. Riccardo Marchi fez um livro que procura ‘perceber’ um fenómeno político, o Chega, que passou de 700 militantes (2019) para 10.000 militantes (2020). Não queremos acompanhá-lo neste esforço de compreensão? Não queremos perceber o populismo por dentro para assim ficarmos a par das suas fraquezas? (in “A esquerda que adora queimar livros “ por HENRIQUE RAPOSO)
E
não se pense que o problema é só americano, ou só do mundo anglo-saxónico. A
semana passada [em Contra a higienização académica do racismo e fascismo do Chega], um
conjunto de académicos (entre os quais Boaventura Sousa Santos, Fernando Rosas,
Miguel Vale de Almeida, Ana Benavente, Irene Pimentel e Manuel Loff) assinou um
texto no Público contra a obra de um colega, Riccardo Marchi, que se atreveu a
estudar o Chega. Quem quiser conhecer as teses de Marchi, um cientista político
italiano que é professor do ISCTE, pode ler a entrevista que deu ao Observador (“André
Ventura está a conduzir um potencial Ferrari mas só tirou a carta de condução
ontem”), mas aqui o que conta é a intenção desses outros investigadores de
censurarem essa investigação. ( in “Liberdade:
afinal nem tudo estará perdido” por José Manuel Fernandes)