E, um dia, teremos de falar sobre a vaga de auto-censura que
vai por essas redacçôes fora.
Primeiro, desapareceram os
clássicos. Da Íliada a Dom Quixote, passando por Sófocles, Virgílio e Dante, a
razia remeteu as obras fundadoras para os covís académicos e a insignificância
pública. [...]
Arrumados os clássicos
incómodos, os alvos seguintes foram os contos de fadas e o folclore literário:
qualquer dia, quem contar a Branca de Neve às criancinhas arrisca uma denúncia
pelos crimes de apologia do assédio sexual ou ofensa aos anões (e nestes tempos
de fascismo idiomático, usar a palavra «anão» já é um risco). Conforme as teses
progressistas que se propagam com celeridade nos colégios e universidades
ocidentais,
- a Pequena Sereia, coitada,
foi privada do seu «género» quando lhe tiraram a cauda de peixe e a
substituíram por duas pernas,
- o Monstro devia estar preso
por maltratar a Bela, e
- o Príncipe denunciado por
importunar sexualmente a Branca de Neve.
O Lobo Mau, presume-se, está
isento de julgamento por mediação das associações animalistas.
O resultado está à vista:
vivemos hoje sob o ruído infernal da chamada «geração floco de neve», que se
caracteriza pela ofensa fácil, intolerância às opiniões divergentes e egolatria
patológica. [.]
Os
filhos, hoje, chegam a ser usados como cavalos de Tróia do progressismo que
tomou conta do ensino oficial: bem providos de raiva e prédicas moralistas, são
enviados para casa com a missão de vigiar e evangelizar os pais que não
reciclam, que não comem quinoa, que não dizem «presidenta», ou que, em geral,
desconfiam das virtudes do novo marxismo ecocultural.