A «revolução americana» que fez do
hoteleiro, do agente imobiliário, do businessman, do showman, do playboy maduro
Donald Trump o homem mais poderoso do mundo, deve muito a Steve Bannon.
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Bannon é um polimetis, um homem
de mil ofícios, católico, académico, oficial de Marinha, banqueiro, cineasta,
grande leitor e grande cinéfilo; foi ele o mago e o estratega que, com profundo
conhecimento da América e dos Americanos, pôs ordem na caravana Trump para que
se arremessasse contra os poderes do grande Dinheiro e da grande Imprensa.
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Sabendo que, nas guerras duras e sem
quartel em que se tinham transformado as campanhas eleitorais, valia tudo; e
que para os eleitores cépticos e descrentes da oferta, mais que os méritos da
própria causa, contavam os deméritos do adversário, Bannon partia com Trump
para o ataque. Hillary seria dali por diante a «crooked Hillary», com Clinton
Cash, de Peter Schweizer, o best-seller que expunha a trama financeira do casal
e da Fundação Clinton, como principal arma de arremesso e prova de acusação.
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A ideia do livro viera do próprio
Bannon que, com Schweizer, pusera uma equipa de jornalistas e de investigadores
a desenterrar factos chocantes sobre o financiamento da Fundação, no tempo em
que Hillary ainda era secretária de Estado. Bannon e Schweizer concentraram-se
nas «centenas de milhões de dólares» doados à Fundação. O estudo fora depois
devidamente executado pelo GAI – Government Accountability Institute –, uma
instituição privada de pesquisa com sede em Tallahasee, Flórida.
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Clinton Cash fora a bomba que
dinamitara a reputação da candidata, ao enumerar a longa lista de doadores da
Fundação Clinton, como o canadiano Frank Giustra, o patrão da Uranium One, com
interesses no Cazaquistão, que comprara jazigos de urânio nos Estados Unidos.
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Como o urânio é um mineral
estratégico, a compra teria de ser aprovada por uma comissão em que Hillary,
como secretária de Estado, participava – e Giustra dera 31 milhões à Fundação.
Embora a lei obrigasse a Clinton Foundation a declarar a origem dos donativos,
os da Uranium One não constavam nos relatórios.
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Comentando o resultado das eleições
na manhã de 9, o estratega de Trump tentava explicá-la:
Trump é o chefe de uma revolta
populista… O que Trump representa é uma restauração – uma restauração do verdadeiro
capitalismo americano e uma revolução contra o socialismo financiado pelo
Estado. As elites guardaram o melhor do bolo e deixaram o pior para os
americanos da classe média trabalhadora. […] Trump percebeu-o e o povo
americano também.
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E se do livro Clinton Cash se fizera
também um filme e uma série televisiva, para que os Americanos vissem os
Clinton, em todo o seu deslumbramento, ambição e corrupção, a «guardarem o
melhor do bolo», era porque Bannon sabia que, se não fossem eles a fazê-lo,
ninguém o faria. É que para os iluminados do novo moralismo hollywoodesco, os
maus da fita, os selvagens, os deploráveis, eram Trump e todos os que se
opunham ao progresso do mundo global – a última utopia que subtilmente e
tentacularmente esmagava tudo e todos a partir do interior, rumo a uma qualquer
humanidade nova.
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E na euforia da vitória, à sugestão
de um jornalista de que a história da campanha e do desfecho da campanha «tinham
todos os ingredientes de um filme de Hollywood», Bannon respondera, ao estilo
de Gregory Peck em Twelve O’Clock High: «Brother, Hollywood doesn’t make
movies where the bad guys win!»”
(in "Bárbaros
e Iluminados: populismo e utopia no século XXI" de Jaime Nogueira
Pinto)