tal como os "deploráveis" da Clinton ...os "sans dents" do Hollande são aqueles
que raramente se vêem, menos vezes ainda são entrevistados mas acabam a fazer
Marine Le Pen subir nas sondagens. E podem fazer dela presidente da França –
aquela mania do “pela primeira vez uma mulher” também se aplica neste caso? –
caso se mantenha esta espécie de síndroma de alienação da realidade que
atravessa presentemente o discurso de jornalistas, comentadores e analistas.
Por exemplo, quantas notícias lemos
sobre as agressões acontecidas em Outubro deste ano em Viry-Châtillon?
Tal como pouco ou nada ouvimos sobre
as manifestações de polícias em protesto contra com o calvário judicial que em
França aguarda os agentes que recorrem às armas já nem tanto para defender as
populações mas apenas a si mesmos.
E o que soubemos sobre o surto de
agressões extremamente violentas a professores e funcionários em vários liceus
franceses, isto apenas em Outubro deste ano? Não faltam cocktails Molotov,
rostos tapados, maxilares partidos (de professores ou funcionários,
naturalmente), instalações destruídas…
Igual vazio imperou sobre Calais:
durante três anos, Calais, com pouco mais de 75 mil habitantes, viu chegar
milhares de imigrantes que, na impossibilidade de passarem para o Reino Unido,
por ali ficaram amontoados, com os problemas inerentes a uma concentração
anárquica de homens jovens, desligados das suas famílias e sem ocupação.
Escrevia-se sobre as más condições desses acampamentos. Denunciava-se a falta
de apoios para esses homens a quem não tardou se passou a chamar refugiados.
Criticavam-se as autoridades (francesas e inglesas, claro, porque as dos países
desses homens não existem para efeitos de responsabilidade) por nada fazerem. A
Calais chegavam autocarros com manifestantes que faziam declarações repletas de
referências a leis, tratados e convenções sobre os direitos dos migrantes.
No fim do dia os manifestantes
entravam de novo nos autocarros, regressavam às suas universidades e
associações [mas]
Os habitantes de Calais esses
ficavam com as suas casas e bens desvalorizados, sem as receitas do turismo e a
ver os investimentos fugir da zona. ...
Sigo regularmente a imprensa
francesa e casos destes são quotidianos. Há dias em que me interrogo se já
ninguém sabe francês, se é má fé, preconceito ou simplesmente ignorância.
Porque algo terá de explicar esta fuga da realidade cujo momento épico acontece
quando, perante os resultados eleitorais naquele país, começam com os transes
da indignação e os exorcismos do racismo e da xenofobia para explicar o voto na
Frente Nacional.
O que tem distinguido a Frente
Nacional não são as sua soluções para os problemas mas sim o falar dos
problemas.
Porque os problemas, existem embora
mal se vejam dos bairros privilegiados em que se movem políticos, jornalistas,
universitários, tecnocratas… Ou seja.