domingo, 31 de julho de 2016

valeu a pena?

O relatório independente, encomendado pelo FMI, diz que o fundo desenhou o Programa da troika partindo de um diagnóstico errado:
A Portugal faltava poupança, não competitividade…
Depois de um programa de ajustamento aplicado durante três anos, com exigências duríssimas para a população e consequências muito graves para o desenvolvimento económico do país — a recessão foi muito mais profunda do que o previsto — Portugal conseguiu resolver os seus problemas e ganhar sustentabilidade?
Os peritos do Gabinete Independente de Avaliação do FMI são claros:
A nossa análise sugere que a sustentabilidade da dívida pública de Portugal é frágil: choques adversos modestos sobre a economia portuguesa ou aumentos discricionários do défice orçamental podem facilmente lançar o rácio de dívida pública sobre o PIB num caminho explosivo.”
Duas lições para o FMI
Primeiro, deve “repensar o custo-benefício” de colocar metas ambiciosas. Portugal não cumpriu nenhum dos objetivos que tinham sido fixados para o défice orçamental. Mais: o spreadentre os juros da Alemanha e de Portugal alargou-se até 2012.

A segunda lição tirada pelos peritos aponta para a necessidade de explicar melhor os riscos que um país que participa na união monetária corre. “A troika nunca ponderou seriamente reestruturar a dívida de Portugal”, lê-se no relatório. E nunca o fez porque, na verdade, sabia que essa era uma solução inaceitável para a Comissão Europeia. (in Observador)

sexta-feira, 29 de julho de 2016

sanções...

O Governo foi obrigado a apresentar medidas adicionais de consolidação orçamental no valor de 0,25% do PIB. Bruxelas sugere subidas no IVA. O Governo continua a negar, em Portugal, a exigência de um plano B ou de medidas adicionais, ao contrário do que está explícito na recomendação aprovada pelo colégio de comissários europeus.
Uma consolidação de 0,25% corresponde a 466 milhões de euros, tendo em conta a estimativa para o PIB deste ano do Ministério das Finanças. O documento da Comissão Europeia foi muito explícito:
Para alcançar os objetivos orçamentais implícitos no caminho de ajustamento proposto, serão necessárias medidas de consolidação adicionais com impacto de 0,25% do PIB em 2016″:
A Comissão frisou que as poupanças já incluídas no OE de 2016 “terão de ser complementadas com outras medidas de natureza estrutural que se podem focar no lado da receita”.
Os comissários Pierre Moscovici e Valdis Dombrovskis explicitaram que Portugal tinha de cumprir a meta de 0,25% do défice estrutural, um objetivo do Governo português a que a Comissão Europeia nunca deu total credibilidade. Moscovici sublinhou que, apesar das previsões da comissão para o défice português serem de 2,7%, o Governo comprometeu-se com uma meta de 2,5%.
Para atingir estes objectivos, a Comissão Europeia obriga Portugal a adoptar ainda este ano medidas que permitam aumentar a receita da tributação indirecta, sugerindo que “o ainda amplo uso das taxas reduzidas do IVA” seja revisto.
Na recomendação desta quarta-feira ao Conselho relativamente ao processo de sanções aplicado a Portugal, o executivo comunitário indica que, para cumprir a meta de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, serão precisas “medidas de consolidação adicionais” no montante de 0,25% do PIB e detalha mesmo o caminho a seguir.
“Em particular, Portugal deve implementar medidas incluídas no orçamento para 2016, bem como mecanismos de controlo da despesa na aquisição de bens e serviços, o que está atualmente evidenciado no Programa de Estabilidade de 2016”, começa por referir a Comissão.
Bruxelas acrescenta que
“estas poupanças devem ser complementadas com outras medidas de natureza estrutural que devem focar-se no lado da receita, com o objetivo de aumentar a receita da tributação indireta, alargando a base de incidência e reduzindo as despesas fiscais”.
Uma maneira de conseguir isto” — propõe o executivo comunitário – “pode ser ajustando o ainda amplo uso das taxas reduzidas do IVA”, lê-se no documento hoje divulgado.
Actualmente existem três taxas diferentes de IVA: 23%, a taxa normal; 13%, a taxa intermédia; e 6%, a taxa reduzida aplicada essencialmente a bens de primeira necessidade. (in Direita Politica)

terça-feira, 26 de julho de 2016

antes do Costa cair...

Antes do Costa cair, hão-de cair a economia e a sociedade portuguesas. Não teremos apenas um país com dificuldades de se financiar. Teremos uma economia mais estagnada e uma sociedade mais dividida.

De repente, há agitação sobre o futuro do governo. Por mim, não tentarei adivinhar quando António Costa vai cair. Inicialmente, muita gente cometeu o erro de esperar uma implosão rápida da maioria de enjeitados que ele improvisou com o PCP e o BE depois da derrota eleitoral de 2015. Cada um iria puxar para o seu lado, o PCP e o BE revoltar-se-iam ao primeiro rigor europeu. Ilusão. 
Os sócios da maioria precisavam todos do governo, e ninguém está a fazer sacrifícios, ao contrário do que pensam aqueles que levaram a sério as suas objecções à “austeridade” [mas] a única coisa de que a maioria social-comunista não gostava na “austeridade” era de Passos Coelho [e, principalmente, de Portas]. De resto, estão condenados a ficar juntos:
o primeiro a abandonar, carregaria as culpas pelo fiasco da “unidade de esquerda”. Esta é uma maioria sem portas de saída.
Quando isso se tornou claro, houve quem se tivesse virado para Bruxelas, (…). Um dia, a UE ia acabar com isto. Outra ilusão. (…) Afinal, esta é a mesma UE que aceitou durante anos jogar ao gato e ao rato com a Grécia, e que o ano passado suportou durante meses o carnaval do Syriza.
Que há mais?
O presidente da república? Mas Costa sabe que a lendária “popularidade” presidencial não aguentaria uma semana a uma daquelas campanhas que a esquerda moveu contra Cavaco Silva.
Quanto à opinião pública, estará estática até dois minutos antes do fim, e as sondagens nunca nos deixarão ver nada, a não ser o que cada um quiser. Já foi assim em 2011: a umas semanas das eleições, ainda Sócrates andava a ultrapassar Passos Coelho.
A conclusão não é animadora: basicamente, o país vai estourar antes do governo. Não me refiro a um estouro financeiro: enquanto o BCE impedir os mercados de registar dúvidas e o governo não romper com a UE, o financiamento será talvez possível, como foi entre 2001 e 2010. …
No fim, não vamos ter apenas um país com dificuldades de se financiar. Vamos ter uma economia mais estagnada e uma sociedade mais dividida. Reverter as “reversões” de Costa, voltar a 2015, ou mesmo a 2011, já não será possível ou suficiente.
O passado terminou.

(Rui Ramos no Observador)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

um Verão Gelado...

A verdade é que caímos nas mãos de gente particularmente perigosa. 
O resto é tudo mentira.
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Um governo. Uma maioria. Um presidente.
O primeiro, movido pelo oportunismo, pela intrujice e por incompetência, actua com gloriosa irresponsabilidade.
A segunda, movida pela pressão das clientelas e pelo fanatismo ideológico, exige com urgência inéditos paradigmas de loucura.
O terceiro, movido por um pavor clínico da rejeição, persegue transeuntes com comendas e faz figuras incompatíveis com o cargo.
Mesmo à distância, não seria difícil adivinhar o futuro, a breve prazo, de um país assim.

Ao contrário do que alguns esperam, isto não é um regresso a 2011, quando apesar de tudo havia no PS uma ou duas pessoas com vergonha na cara. E havia no poder ascendente uma ou duas pessoas que, cobardias de lado, teimaram em evitar a queda. E havia uma "Europa" disponível para nos amparar na dita.

Ao contrário do que temem outros, isto nem sequer é uma réplica da situação grega, onde até a demência do Syriza depressa se viu invadida por vestígios de realidade. As "sanções", ou a "prepotência de Bruxelas", são o que hoje nos impede de prosseguir jovialmente o caminho da Venezuela ou de um paraíso progressista similar, repleto de consciência social e miséria. Não sei se, cansada de corrigir incorrigíveis, a odiada "ingerência externa" impedirá tamanhas conquistas amanhã.

No fundo, isto é muito simples. E muito triste.
O dr. Costa, que é tão escrupuloso e sério quanto fluente na língua, está disposto ao que calha para sobreviver politicamente. Sejam um produto de incidentes neurológicos ou uma artimanha para servir amigos, as recentes declarações sobre o Novo Banco são um mero exemplo, entre dezenas, daquilo que uma criatura radicalmente desprovida de bom senso é capaz.
Em poucos meses, Portugal transformou-se numa história para assustar criancinhas, investidores e contribuintes em geral. O caso é de tal maneira grave que a recorrente questão acerca do carro usado não se aplica: do dr. Costa, ninguém aceitaria, nem dado, um carro com 0 km.
Infelizmente, não falta quem o siga até ao stand.
Por conveniências sortidas, temos o PS dos negócios, o PCP dos sindicatos e o BE da moral.
E o PR dos "afectos".
E certo PSD unido na oposição subtil a um reduto de sanidade chamado Pedro Passos Coelho.
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Cada elemento da divertida trupe prepara-se para espatifar o país e, graças à tradicional tendência para culparmos terceiros, espera terminar a proeza sob aplausos.
Com jeito, este processo de destruição metódica acabará imputado à UE, à Alemanha, ao brexit, à instabilidade na Síria, ao sr. Trump e a três futebolistas franceses.
A verdade é que caímos nas mãos de gente particularmente perigosa. O resto é tudo mentira. (por Alberto Goncalves em Verao-Gelado no DN)

quinta-feira, 21 de julho de 2016

CGD : um guia para aprender o que não fazer

A administração da CGD renunciou ao mandato e no quadro da lei terá de sair para a semana se não lhe for formalmente pedido para ficar. 
Mais de nove mil colaboradores assistem ao anúncio de despedimentos baseados num plano de reestruturação feito fora do banco.
Os cidadãos em geral ouvem o ministro das Finanças falar de um desvio que afinal diz respeito ao plano a três anos da CGD do qual o próprio ministro também é co-autor.
Em Abril ficamos a saber que António Domingues, administrador do BPI, seria o novo presidente da CGD. Trazia consigo uma administração com nomes de peso na gestão, na sociedade e na banca.
Praticamente na mesma altura, em meados de Abril, foi conhecida a equipa que iria fazer a avaliação da administração. Fernando Teixeira dos Santos, Miguel Pina e Cunha e Vasco d’Orey eram os membros deste órgão que teria um mandato de três anos. Passado um mês sabe-se que afinal Fernando Teixeira dos Santos vai para o BIC e por isso terá de sair da comissão de avaliação que estava obviamente já a trabalhar com a CGD.
… entre finais de Junho e início de Julho, mudam as regras. A Comissão de Avaliação passa ser temporária em vez de ter um mandato de três anos, como inicialmente tinha decidido o ministro das Finanças. Miguel Pina e Cunha e Vasco d’Orey obviamente demitem-se. 
…no início de Julho entra em funções uma equipa totalmente nova. A comissão transitória que vai avaliar a independência, competência e idoneidade da administração da CGD é agora composta por Laginha de Sousa, ex-presidente da Euronext Lisboa, Francisco Veloso, reitor da Universidade Católica e Patrícia Lopes da Porto Business School.
Neste processo já se perderam pelo menos dois meses por causa de uma mudança de opinião do Governo sobre o mandato da comissão de avaliação. Primeiro era uma comissão definitiva que teria a seu cargo a avaliação da administração ao longo de três anos. No início de Julho passou a provisória, revelando que a meio do caminho se mudou o modelo de governo da CGD que já estava decidido em Abril. 
Temos depois os milhões que são necessários para o banco. Quatro a cinco mil milhões são os montantes que têm sido referidos pela comunicação social baseados em fontes governamentais. E pergunta-se: porquê e para quê tanto dinheiro?
Ao mesmo tempo que se diz que a Caixa precisa desses milhões, o Governo resolve dar aos novos gestores salários mais elevados. Parecendo populista e menor, este é mais um contributo para a desestabilização da CGD.
Como se não bastasse tudo isto, o “ministro das Finanças” resolve dizer no Parlamento que há um “desvio”, palavra proibida para qualquer empresa, no plano que a Caixa fez. O desvio, como se sabe, compara os resultados atingidos com o que estava previsto. O ministro esqueceu-se que as previsões de resultados basearam-se numa determinada previsão de evolução da economia e das taxas de juro que foi feita no Banco de Portugal, quando era esse o trabalho de Mário Centeno.
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O que se está a passar com a Caixa é um exemplo de tudo o que um accionista não deve fazer com uma empresa, seja ela de que sector for. Os erros, até agora cometidos, podem não determinar o fracasso total das escolhas feitas. Vão seguramente dificultar os objectivos e resultados que se querem atingir. (por Helena Garrido no Observador)

perguntas politicamente incorrectas

É daquelas pessoas que dá palmadinhas compadecidas nas costas do muçulmano que violou a rapariga ocidental de mini-saia, afinal veio de uma cultural onde é normal maltratar mulheres, e por cá está desempregado?
Acha, como Ana Gomes, que a culpa dos atentados terroristas na Europa é da austeridade?
Defende que os pobres diabos, sejam violadores ou terroristas, têm de ser compreendidos, assimilados, receber muito dinheiro dos estados sociais europeus e, sobretudo, desculpados?
Considera que os vilões verdadeiros são os que denunciam que os costumes islâmicos são aberrantes, concretamente para a condição feminina, e não podem ser tolerados na Europa?
De cada vez que há denúncia de vilanias islâmicas, prefere escrutinar o mensageiro para tentar repudiar a mensagem?
Vê como de uma lógica cristalina clamar contra o patriarcado e o heteropatriarcado e, simultaneamente, recusar aceitar que as comunidades islâmicas na Europa têm propensão para violar e brutalizar mulheres, e acumular com defesa de regimes que enforcam ou afogam gays?
Repete vinte vezes por dia o mantra ‘o islão é uma religião de paz’?
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Pois bem, é conveniente reconhecer que as pessoas iluminadas que responderam sim a dez por cento destas questões são cúmplices do caldo culpabilizante das vítimas que propicia os crimes dos islâmicos. 
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sábado, 9 de julho de 2016

a geringonça para memória futura

1
Costa, ou se isto é um político Nota: 8
2
O ministro de todas as pastas Nota: 14
3
O novo simplex e as vacas voadoras Nota: 13
4
Mário Centeno, (ainda) pouco falcão Nota: 10
5
O ministro que ia levando à insubordinação Nota: 11
Vítor Matos
6
Um ministério entrincheirado Nota: 15
7
Francisca, a discreta Nota: 12
Luís Rosa
8
Um ministro em suspenso Nota: suspensa
9
O ministro clandestino Nota: 12
Bruno Vieira Amaral
10
O pacificador Nota: 12
11
Um ministro sob tutela Nota: 4
12
O mago do aparelho Nota: 11
13
Sem quebras de rumo dramáticas Nota: 15
14
Quando a falta de dinheiro é amiga da racionalidade Nota: 11
15
A vantagem de ser discreto num ambiente hostil Nota: 12
16
Entre a ambição e o silêncio Nota: 14
17
Ancorado aos fundos Nota: 12
Vítor Matos
18
A ministra sim sim Nota: 7
Filomena Martins
19
Entre a oportunidade e o exagero Nota: 12
Miguel Pinheiro
20
Um partido sem amadorismos Nota: 15

Miguel Pinheiro

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Não é com Pedro Passos Coelho que Bruxelas está preocupada…

Ponto um. É verdade que a desaceleração da economia portuguesa não aconteceu só após a posse do actual governo. Ela já vem a cair desde o segundo semestre de 2015, seja porque se agravou a crise em países como Angola e Brasil, seja porque os investidores começaram a temer os resultados das legislativas de Outubro, seja porque Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque se concentraram mais na tentativa de ganhar as eleições do que nas contas do país. O número do défice estimado pelo governo PSD-CDS para 2015 era de 2,7%. Portanto, quer o défice tenha sido 4,4%, 3,2% ou 3,0%, é sempre lícito afirmar que Passos Coelho e a sua ministra das Finanças falharam as metas a que se propuseram.
Ponto dois. É verdade, contudo, como sugere a própria Maria Luís Albuquerque, que se o governo de António Costa quisesse que o défice de 2015 se situasse abaixo de 3% não teria tido grande dificuldade em consegui-lo, já que o cálculo final envolve discussões com a Comissão Europeia sobre o que são medidas extraordinárias e medidas estruturais. O próprio INE reportou no final de Março uma estimativa para o défice de 2015 de 4,4%, incluindo a intervenção no Banif, que dizia ter correspondido a 1,4% do PIB. Quando se retira 1,4 a 4,4 o resultado não é 3,2. Em Maio, o Conselho de Finanças Públicas reiterou que o défice de 2015 foi de 3% sem Banif, alertando, contudo, para divergências na classificação de certas medidas. Se António Costa e o PS agora enchem a boca com os 3,2%, não é apenas por esse ser o número avançado pela Comissão Europeia, mas porque lhes dá imenso jeito empurrar a responsabilidade pelo procedimento por défice excessivo para o anterior governo, diminuindo em simultâneo a exigência para 2016.
Ponto três. É absolutamente mentira que a única coisa actualmente em causa seja a actuação do governo PSD-CDS, por muito que António Costa apareça todos os dias na televisão a insistir nessa ideia e a repetir “anterior governo” a cada duas frases. Ainda ontem ele encheu uma conferência de imprensa com ironias deslocadas: “qualquer medida hoje adoptada seria insusceptível de corrigir aquilo que foi orçamentado em 2015”. Eis o nosso pândego primeiro ministro a praticar a sua especialidade política: desconversar sobre o acessório para não ter de conversar sobre o essencial. Porque o essencial é isto: as reversões do seu governo são um disparate absoluto, despudorado e criminoso tendo em conta o estado em que se encontra o país. E elas têm tudo para empurrar novamente Portugal para os braços da bancarrota assim que o BCE deixar de comprar dívida portuguesa em quantidades cavalares (números de 31 de Maio: 17 mil milhões de euros adquiridos até agora, ao ritmo de 1,5 mil milhões por mês).
Ponto quatro. A agência Reuters não está certamente sob o comando da direita portuguesa e a notícia que justificou a conferência de imprensa de António Costa não deixa qualquer margem para dúvidas. O lead era este: “The European Commission on Tuesday will give Spain and Portugal three more weeks to take steps to correct their excessive deficits and avoid fiscal sanctions.” Que eu saiba, “tomar medidas para corrigir os défices excessivos” não inclui alugar mesas de pé de galo para entrar em contacto com o fantasma dos défices passados.

Não, não é com o passado que Bruxelas está ocupada – é com o presente. E não, não é com Pedro Passos Coelho que Bruxelas está preocupada – é mesmo com António Costa. (por João Guerra Tavares no Público

A cobardia de Marcelo é uma ameaça?

este será o primeiro artigo a criticar o Presidente Rebelo de Sousa em total contra-ciclo com o politicamente correcto da maioria da imprensa a que temos direito...
( por Henriique Raposo Expresso diário, 06-7-16 )
Marcelo Rebelo de Sousa foi, é e será sempre cobarde. E o maior sintoma dessa cobardia é aquela vontade quase infantil de ser amado por todos, de receber palmadinhas de toda a gente, de ter colinho em todas as barraquinhas. No fundo, Marcelo só pode ser o Marcelinho, o menino que faz beicinho para ter miminho, em que seja numa patética flash interview de um jogo de futebol.

Este indivíduo está na vida pública há mais de quarenta anos mas parece o recruta zero, vive paralisado pelo medo de ser criticado, pelo medo de ser odiado por este ou aquele, por esta ou aquela sensibilidade política, cultural, religiosa ou futebolística. É por isso que se transformou no Nicholas Sparks da política. É por isso que Belém é neste momento a capital mundial da lamechice.

Não, não comece a rir-se, caro leitor. Esta literatura dos afectos começa a ser uma ameaça à dignidade do regime. É uma ameaça porque Marcelo não percebe que o Poder tem um protocolo diferente dos média.
Quem chega ao poder tem de perceber que não se pode comportar como um comentador que comenta tudo, mas mesmo tudo, desde a bola ao poste até ao assunto de Estado. Se Cavaco exagerava no secretismo e da distância imperial do poder, Marcelo exagera no sentido contrário. Como dizia Rui Ramos no Observador, o poder exige decoro, gravitas, seriedade, visto que está ali a chave do nosso futuro colectivo. Marcelo não compreende isto e continua a tratar a vida pública como se fosse um jogo. Não percebe que esta presidência apalhaçada está a minar a respeitabilidade de Belém que já faz parte do anedotário nacional.
Claro que as ondas deste desrespeito popular demorarão a chegar às redacções, que continuam a amar Marcelo. Porquê? Não sei, caro leitor.
Mas posso colocar uma pergunta a este respeito: será que Marcelo continua a ser a fonte de inúmeras “notícias” e boatos? Será que Marcelo será a fonte jornalística dos seus próprios Conselhos de Estado?

Este desrespeito pelas instituições atingiu ontem um ponto alto. Marcelo deixou-se fotografar com o mais famoso suspeito de corrupção do país, José Sócrates. Pior: elogiou-o. Não podia correr riscos, não é verdade? Aparecer ao lado do político que afundou o país na bancarrota financeira e moral não era suficiente para agradar à clique socrática, era preciso ir mais longe, era preciso elogiar o homem.
Como é que Marcelo não percebe que este elogio é um sinal de desrespeito institucional e cívico? Tendo em conta aquilo que já sabemos do caso, Sócrates não pode ser apoiado cívica e moralmente por ninguém. Seja qual for o desiderato da justiça, o que Sócrates fez é absolutamente imoral. Até Fernanda Câncio Já percebeu isso.

Meu caro leitor, ao ser incapaz de dizer não a Sócrates, Marcelo não revelou apenas a sua cobardia, revelou que a corte de Lisboa não é mesmo para gente séria.


“Acresce ainda que Marcelo se apressou a condecorar um desertor, socialista, traidor da Pátria, cujas inígnias foram recusadas por todos os outros presidentes. Falo de Manuel Alegre que, enquanto os portugueses, nossos irmãos, filhos. etc. lutavam em África, andava ele “revolucionariamente” a denunciar na Rádio Argel os movimentos das nossas tropas”:
Que favor terá Marcelo recebido em troca?


domingo, 3 de julho de 2016

um artigo preocupante: Costa vai provocar eleições antecipadas?

Ninguém sabe como, nem quando, irá acabar a geringonça. Mas há outras coisas que sabemos. Nenhum dos objectivos macroeconómicos definidos pelo governo no orçamento se irá concretizar. O crescimento ficará abaixo dos 2.6% (possivelmente abaixo do 1,5%). O défice ficará acima dos 2.2%. E a dívida pública vai aumentar. …
Sabemos igualmente que o sistema financeiro está perto da ruptura, necessitando de uma recapitalização com urgência. Para a Caixa fala-se de valores de cerca de 5, 6 mil milhões de Euros. A venda do Novo Banco irá seguramente provocar perdas para os outros bancos. Isto quando o BCP enfrenta uma crise bolsista muito séria. A situação é de tal modo grave que se fala, em Lisboa e em Bruxelas, de um programa de assistência financeira para acudir os bancos portugueses. …
Sabemos que nestas circunstâncias o acordo para o orçamento do próximo ano será um exercício muito complicado. De duas uma, ou o governo compra um conflito com a União Europeia, para agradar os seus camaradas do parlamento. Ou a obediência a Bruxelas transforma o BE e o PCP nas versões portuguesas do Syriza.
contudo
A situação do sistema bancário torna impossível um conflito com Bruxelas e

O regresso à austeridade, imposta por Bruxelas, significaria a morte lenta da geringonça.
Há assim uma elevada probabilidade de o governo não conseguir uma maioria parlamentar para aprovar o orçamento de 2017.
…e o Costa sabe-o muito bem!
daqui resulta que
a realização de eleições antes do fim do ano seria a melhor maneira (senão mesmo a única) de evitar o fracasso político da aliança das esquerdas. Aliás, a adopção de medidas populares e o estado de permanente campanha, do futebol ao São João no Porto, do PM indicam claramente que a opção de eleições antecipadas tem estado sempre nos cálculos do Costa. …
O “Brexit” permite [-lhe] a construção da “narrativa socialista” para justificar eleições antecipadas. Dirão os socialistas que tudo corria de acordo com os planos até à instabilidade causada pelo voto britânico e
Se a Comissão Europeia propuser sanções contra Portugal, ajudará a narrativa socialista.
Nem a instabilidade provocada pelos britânicos travou o dogmatismo “neoliberal” de Bruxelas, dirão os socialistas.
[e] Poderão ainda acrescentar à lista a inflexibilidade europeia perante a necessidade de recapitalizar os bancos nacionais.
Costa poderá ter a tentação de fazer campanha “contra a Europa” (e, obviamente, contra o antigo governo) e [replicando o Syriza] de pedir aos portugueses um mandato político mais forte para lutar contra a “austeridade de Bruxelas”.
Para um político oportunista como Costa, a maior lição do referendo britânico é a seguinte: fazer campanha contra a “Europa” rende politicamente.