quinta-feira, 1 de junho de 2023

os mais velhos, as mulheres, os menos instruídos...

A análise feita aos "dados micro" (instrução, idade e género) da sondagem à boca de urna feita pela Pitagórica no dia das eleições legislativas demonstra que o Parlamento teria seguramente outra composição - sem maioria absoluta do PS - se o eleitorado fosse mais jovem, mais masculino e mais instruído. Essa sondagem fez-se com recolha de dados em urna de 33157 eleitores, espalhados por 55 freguesias dos 18 distritos do continente.
Magalhães e Cancela sublinham é que desta vez, nestas eleições, "tudo aponta" para que tenha ocorrido, pela primeira vez, um gender gap : "o voto feminino mais à esquerda que o voto masculino".
O partido mais claramente feminino no seu eleitorado é o PAN (71% de mulheres e 29% de homens). A seguir, o PS (57% de mulheres e 43% de homens). E depois, por esta ordem, do mais feminino para o menos: Bloco de Esquerda, CDS, PSD (o único partido rigorosamente paritário), Livre, CDU, Iniciativa Liberal (IL) e Chega (o partido mais masculino de todos, onde quase dois em cada três eleitores são homens)."O modern gender gap português é criado por novos partidos, com capacidades de atração muito diferentes para homens e mulheres", mas "a feminização dos votantes" do PS "também contribuiu para esse fenómeno."
Outra variante analisada foi a idade dos eleitores. Desmentindo a ideia de que a CDU tem um grave problema de envelhecimento eleitoral, verifica-se que na verdade isso é muito mais notório no PS. O PS é notoriamente o partido com o eleitorado mais envelhecido - e, portanto, ganha com o facto de Portugal ser um dos países mais envelhecidos do mundo (o quarto na UE e o quinto do mundo, atrás do Japão, Itália, Grécia e Finlândia). No PS, só 15% dos eleitores são da faixa etária dos 18-34 anos. A partir daí, 37% têm entre 35 e 54 e quase metade (48%) têm 54 ou mais.

Quem foi então beneficiado com o voto jovem? Os autores do estudo concluíram que "os partidos mais novos - Chega, PAN, Livre e (especialmente) IL - foram desproporcionalmente mais apoiados pelos votantes mais jovens".
Ou, dito de outra forma: "Há um contraste claro entre os partidos "estabelecidos" e os novos a este respeito, com o BE e o Chega a ocuparem uma posição intermédia." No campeonato da juventude, o IL distingue-se claramente: quase metade dos seus eleitores tem 34 anos ou menos. Se só votassem os eleitores com menos de 25 anos, o IL ficaria em terceiro lugar - e o PSD venceria, deixando o PS em segundo.
Quanto a graus de instrução, o estudo revela que o PS é o partido com maior percentagem de eleitorado com menos que o ensino secundário completo (43%). Já o partido com menos eleitores com formação universitária (21%) é o Chega. Os "fenómenos" são o IL e o Livre: em ambos, "três em cada cinco votantes têm um diploma universitário".
Em síntese: 
"Esta eleição reforçou alguns elementos que já estavam presentes em atos anteriores, como a capacidade de o PS atrair o voto do eleitorado mais velho e a preferência dos eleitores mais instruídos por partidos à direita do espetro político."
A resposta à pergunta em título é então a seguinte: os mais velhos, as mulheres, os menos instruídos.
Há, porém, "novas pautas": a "emergência de uma assimetria de género no comportamento eleitoral" e a "assinalável capacidade do Iniciativa Liberal e do Chega em atrair o voto de segmentos muito específicos do eleitorado". joao.p.henriques@dn.pt