… em 1994, um núcleo de antigos combatentes lançou a ideia do Monumento aos Combatentes do Ultramar. E, a partir daí, todos os anos, junto ao monumento de Belém, onde estão inscritos os nomes de todos os militares que morreram nessas últimas campanhas de África e da Índia – bem como os que depois morreram ao serviço de Portugal em missões internacionais – alguns milhares de nós lembramos os nossos camaradas mortos ou desaparecidos em combate, cujos nomes ficaram gravados nos muros do monumento.
A cerimónia transcende ideologias – sobretudo ideologias partidárias de que o povo português está cada vez mais distante – e não pretende rever o que a História decidiu. Pretende sim não retirar aos mortos desses 14 anos de guerra, e aos outros que na defesa da pátria foram mortos, o seu lugar na História.
E lembrar que a Pátria, a terra da pátria e os mortos pela pátria, são o património agregador da comunidade e a verdadeira garantia da Liberdade dos portugueses. Uma liberdade que não vem de Bruxelas nem das Nações Unidas, que nunca poderá ser alienada a organismos supranacionais, a federalismos utópicos, a mecanismos de submissão discreta de povos e culturas, ao abrigo de facilidades financeiras e simpatias baratas.
O 10 de Junho dos Combatentes é, e continuará a ser, uma afirmação do patriotismo português, um rito celebrativo da nossa identidade e unidade, numa Europa que hoje também parece despertar para a sua verdadeira natureza e sentido, uma Europa das Pátrias, de Estados Nacionais, soberanos, que voltam a lembrar um passado histórico que tem de ser integrado, tal como também o Cristianismo incorporou as heranças da Grécia e de Roma e criou uma civilização onde a identidade e a independência são condição da Liberdade e das liberdades.
Foi isto que Camões entendeu e registou e que outro poeta maior de Portugal, Fernando Pessoa, veio lembrar e reintegrar no século passado. E os grandes poetas são os melhores intérpretes do espírito do povo, aqueles que, como os antigos arúspices, sabem ler nas entranhas do passado e nos ventos do presente a memória do futuro.