domingo, 12 de setembro de 2021

um outro Jorge Sampaio!


Da militância associativa de estudantes no início da década de 1960, à oposição política e jurídica ao regime, ao MES leninista dos intelectuais (de que se afastou), à transição da Intervenção Socialista, à fação esquerda do Partido Socialista conspirando contra Mário Soares, à liderança do partido, à aliança perene com o PC que o levou à Câmara Municipal de Lisboa e à Presidência da República foi um longo percurso de um político ateu, de matriz judaico-britânica, excecionalmente honesto nos dinheiros num partido de corrupção genética marcado pela doença infantil do socialismo. Secretário-geral do PS, de 1989 a 1991, juntou os cacos das lutas internas num cântaro de asa esquerda, enquanto Cavaco governava e Soares tutelava o seu partido. Até que António Guterres conseguiu a bênção profana em 1991 e o substituiu no partido, alcançando o Governo em 1995, até fugir do “pântano” em 2001, evitando lidar com as repercussões políticas da pedofilia da Casa Pia de que certamente terá sido informado pelos relatórios do SIS. Na Câmara Municipal de Lisboa (de 1989 a 1995) foi inconsequente, embrenhando-se num planeamento estratégico com o fruto oco do conceito de Lisboa como cidade atlântica. Mas a câmara era um trampolim para a presidência da República, que exerceu, a partir de 1995, em dois mandatos insossos e sonsos. A maior evidência da sua carreira, foi a gestão política do processo do caso de abuso sexual de crianças da Casa Pia, que tentou resolver sem abandonar os seus amigos entalados Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues, além de outros passarões como Rui Cunha e Jaime Gama e as referências ao velho irreprimível Soares. Nesse caso, sem respeitar a separação constitucional de poderes – tal como o anterior ministro da Justiça António Costa… – que não lhe permitia nada conhecer do processo quanto mais influenciar o seu curso, pressionou – até publicamente!… – o procurador-geral José Souto de Moura e outras instâncias judiciais. Conseguiu, com a ajuda da Maçonaria e dos média de confiança, a imunidade dos amigos, proteger o PS da explosão que se adivinhava no dia em que, no auge da crise, reuniu a Comissão Nacional e o povo na paragem dos autocarros do largo do Rato assobiou e apupou quem entrava e se temia perante a Marcha Branca contra a Pedofilia, em que Ana Gomes foi defender os socialistas. Porém, em julho de 2004, tomou a decisão salomónica de não convocar eleições legislativas quando Durão Barroso se livrou desse imbroglio e partiu para presidente da Comissão Europeia, em julho de 1994, nomeando Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro em vez de convocar eleições, levando Ferro Rodrigues à demissão. Passados quatro meses (!…), demitiu o Governo, invocando ao magno problema da demissão do ministro do Desporto, justificada por Santana Lopes como eventual ciúme em entrevista a Ricardo Costa, enquanto lhe piscava o olho, sorrindo. Procurou, deste modo, fazer regressar o PS ao Governo, suavizando a amargura socialista da demissão de Ferro. E assim chegou José Sócrates: a obra-prima final de Jorge Sampaio. O PS deve a Jorge Sampaio a sobrevivência aquando do escândalo do caso de abuso sexual de crianças da Casa Pia e na reconquista do poder. Portugal não lhe deve nada. António Balbino Caldeira Director