o PS reuniu-se numa festa de família e celebrou-se a si próprio. Foi nas mais recentes jornadas parlamentares onde, mesmo descontando o tom de campanha eleitoral, o registo geral dos discursos foi do gongórico ao populista. Alguma coisa não bate certo.
Cá fora, e deixando de lado a pandemia, mais um PRR em que poucos fora dos corredores do poder acreditam, mais todos os indicadores que nos dizem que ficámos aquém do que os outros fizeram neste ano e meio para aguentar o país, multiplicam-se os “casos e casinhos” que vão degradando a confiança nas instituições porque mostram que, para quem exerce o poder, as instituições têm pouco valor.
Recordemos apenas algumas notícias das últimas semanas:
. a ex-ministra Ana Paula Vitorino, esposa do ministro Eduardo Cabrita, foi nomeada para uma autoridade regulatória que se pretendia independente do Governo. Tudo com pormenores rocambolescos pelo meio.
. sete em cada dez concursos para os lugares de topo e de direcção da Administração Pública são viciados, pois o Governo usa o expediente da nomeação em “regime de substituição” para depois fazer passar os seus candidatos pelo crivo da CRESAP.
. fim de mais de meio ano de insistência, o Ministério da Defesa finalmente desclassificou uma auditoria que tinha abusivamente classificado como secreta às obras do Hospital Militar de Belém, que derraparam e custaram quase o triplo. O conteúdo da auditoria é tão chocante que só pode acabar no Ministério Público.
. um concurso de recrutamento centralizado de quase mil quadros superiores para a Administração Pública, lançado em 2019, não colocou praticamente nenhum passados dois anos, e 51 dos que colocou foram num organismo que não existe.
. um mês passado sobre o acidente com o carro em que seguia Eduardo Cabrita e de que resultou uma morte por atropelamento, continuamos a saber muito pouco sobre as circunstâncias do acidente, nomeadamente a que velocidade seguia o automóvel, mas já sabemos que outros ministros continuaram a circular em excesso de velocidade mesmo depois desse acidente e que nada lhes acontece.
. o mesmo ministro Cabrita foi avisado dos riscos da festa do Sporting pela PSP, mas decidiu nada fazer, e agora empenha-se em culpar o clube de Alvalade.
. em Lisboa descobriu-se que empresas com ligações ao PS lucram com kits de alimentos em centros de vacinação, tudo adjudicado sem concurso.
. ainda em Lisboa, o gravíssimo caso da passagem de dados de manifestantes a embaixadas de países onde há ditaduras foi resolvido despedindo o funcionário que menos inferira neste processo.
. finalmente, como quem não quer a coisa, o Ministério da Educação fez implodir por despacho os programas de todas as disciplinas no Básico e Secundário, transformando tudo num currículo de trivialidades que formaliza uma espécie de “escola mínima” numa altura em que professores e pais estavam distraídos com exames e colocações. Já houve quem lhe chamasse um “golpe de Estado na Educação”.
Podia continuar, houve mais casos de desrespeito pelas instituições, pela oposição, pelos cidadãos. O que se sente é que se comportam como “novos donos disto tudo” julgam-se intocáveis pois as sondagens não os afligem e já só sonham com o dinheiro da bazuca. Um dia vão perceber que se enganaram: o dinheiro não é assim tanto, a fominha é muita, as bocas a alimentar são cada vez mais e tudo tem um fim.
Eu, por mim, só desejo que, mesmo embriagados com a girândola da propaganda que os faz rodar sem parar pelo país, sempre de anúncio em anúncio, não deixem de notar que o Estado da Nação se aproxima perigosamente do “estado a que isto chegou”.