segunda-feira, 9 de abril de 2018

o "Cristo das Trincheiras"

Na Primeira Guerra Mundial, no sector português da Flandres, entre as localidades de La Couture e Neuve-Chapelle, encontrava-se um cruzeiro com um Cristo pregado numa cruz de madeira, que dominava a paisagem da planície envolvente.
A imagem deste Cristo não era, obviamente, de origem portuguesa, mas encontrava-se na zona defendida pelo Corpo Expedicionário Português durante a ofensiva alemã que quase destruiu a 2ª Divisão de Infantaria.
No dia 9 de Abril de 1918, durante horas a fio, sobre aquela planície caiu uma tempestade de fogo de artilharia, que a metralhou, a incendiou e a revolveu.
Era a Ofensiva da Primavera de 1918 do exército alemão.
A povoação de Neuve-Chapelle, transformada em escombros, quase desapareceu do mapa,.
A área ficou juncada de cadáveres e, entre estes, jaziam 7.500 portugueses da 2ª Divisão do CEP, mortos ou agonizantes.
No final da luta apenas o Cristo se mantinha de pé, mas também mutilado: a batalha decepou-lhe as pernas, o braço direito e uma bala varou-lhe o peito.
Mas, no meio do caos, foi trazida pelos poucos militares que conseguiram reagrupar-se e regressar às linhas aliadas.
É quase inimaginável que, debaixo das barragens de artilharia alemãs, que dizimaram grande parte do contingente português, a opção de alguns militares fosse a de trazer consigo a imagem de Cristo, severamente danificada, e a colocassem em local seguro onde pudesse ser novamente venerada.

Em 1958 o Governo Português fez saber ao Governo Francês o desejo de possuir aquele Cristo mutilado: tornara-se um símbolo da Fé e do Patriotismo nacional e passou a ser conhecido como o "Cristo das Trincheiras". Está na Sala do Capitulo do Mosteiro da Batalha sobre o Tumulo do Soldado Desconhecido.

Mais do que um episódio ocorrido durante a 1ª Guerra Mundial, o "Cristo das Trincheiras" simboliza a fé que manteve os militares portugueses na linha de frente durante um par de anos, praticamente sem licenças, mal abastecidos, sentindo-se abandonados por quem os enviou para combater por algo que a maioria não entendia.