Para Ferro Rodrigues, os
golpes e atropelos à ética e à boa gestão são totalmente legítimos. O único
contratempo é saber-se deles publicamente.
.
O caso dos “deputados
acumuladores” — que atravessa a generalidade dos partidos com eleitos nas
regiões autónomas — é mais um exemplo disso. Estas práticas estão tão
entranhadas naqueles corredores e gabinetes, a falta de escrutínio é tão
absoluta e a ausência de hábito em prestar contas aos contribuintes está tão
enraizada, que alguns dos eleitos que ali estão se sentem donos disto tudo.
Neste episódio, Carlos
César fez o papel da virgem ofendida — nada que surpreenda. A coragem que lhe
falta para dizer que é preciso pagar mais e de forma transparente aos
deputados, sobrou-lhe para dizer, sem se rir, que o seu duplo subsídio que lhe
permite lucrar pessoalmente com cada viagem que faz a casa é “eticamente
irrepreensível”. É uma ofensa à inteligência de todos mas, sobretudo, à prática
dos poucos que tiveram, de facto, um comportamento decente neste caso.
No final, a culpa será
sempre de alguns populistas e demagogos que querem ameaçar a democracia e,
claro, dos jornais.
Porque de resto, isto é
tudo gente séria, como se vê.