O alargamento da geringonça, agora a quatro (PS, PCP, BE e PSD), tem sido discutido do ponto de vista das vantagens eleitorais de cada partido. [...]
O PS sofreu nas eleições de 2015 o
segundo maior desaire desde 1991, e deixou de acreditar na “Terceira Via”.
PCP e BE nem com o ajustamento
cresceram eleitoralmente, e descobriram que é impossível sair do Euro.
O PSD foi dizimado nas autárquicas,
e convenceu-se que as reformas só servem para perder votos.
Os quatro partidos da geringonça não
são mais do que “aparelhos” assustados, a tentar manter-se acima da água,
agarrando-se ao Estado. A lei das finanças, em que insistiram contra o
presidente da república, pode servir de símbolo do cinismo que substituiu todas
as ideologias. [...]
As geringonças têm notórias
vantagens. Aos governos, poupa-os a um verdadeiro escrutínio, substituído por
“sessões de trabalho” cúmplices. Às oposições, abre-lhes a porta dos celeiros e
fumeiros do poder. É assim que a geringonça alargada lambe os beiços com a
ideia de partilhar o dinheiro dos alemães, de dividir o Estado em feudos
regionais (a “descentralização”), ou de se ver livre desse incómodo que é o
Ministério Público.
(in “Normalidade,
dizem eles” por Rui
Ramos )