Os partidos da direita incluem, além da Forza Italia, os
radicais da Irmãos de Itália e da Liga, ambos partidos separatistas, um ligado
ao norte e outro ao sul do país, com raízes neofascistas e intenções de reduzir
drasticamente a imigração.
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FORZA ITALIA
Sílvio Berlusconi, líder do Força
Itália, está impedido de concorrer nestas legislativas, mas isso não o tem
impedido de participar na campanha eleitoral.
O antigo primeiro-ministro, de 81
anos, foi condenado em 2013 por fraude fiscal e só poderá voltar a concorrer a
cargos políticos em 2019.
O partido que lidera tem feito da
reforma fiscal e da redução transversal dos impostos as suas principais
bandeiras.
Berlusconi defendeu a introdução de
uma taxa única de imposto de 23%, aplicável quer aos rendimentos quer ao
consumo. O objetivo, a cumprir ao longo da legislatura, será baixar a taxa
única para 20%.
Matteo Renzi, do PD, reagiu de
imediato à proposta, lembrando que Berlusconi nunca a pôs em prática nos três
mandatos em que esteve à frente do governo italiano. E lembrou quanto poderia
custar aos cofres do Estado: “Uma taxa única de 15% custaria 95 mil milhões de
euros e uma de 20% custaria 57 mil milhões."
A proposta de Berlusconi representa
um reforço da aliança com a Liga Norte, da extrema-direita. A taxa única de
imposto de 15%, a que Renzi aludiu, é uma das propostas mais antigas da Liga,
que se opõe às atuais taxas de imposto progressivas, que chegam a 43%.
Outro ponto de união entre o Força
Itália, a Liga Norte e os Irmãos de Itália é a política de imigração. O partido
de Berlusconi é frontalmente contra a imigração e acusa a esquerda de Renzi de
“ter criado um problema que agora não consegue resolver”.
Numa entrevista, que deu esta semana
ao canal de televisão Retequattro, Berlusconi criticou a política de “portas
abertas” do país e anunciou que pretende iniciar um processo de expulsão dos
mais de 600 mil imigrantes “em situação irregular” no país.
Berlusconi referiu-se à
imigração como “uma bomba social prestes a explodir” e disse que os imigrantes
“vivem de expedientes e do crime”.
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Por que é que o líder do partido
Forza Italia, que foi primeiro-ministro quatro vezes mas está impedido de se
candidatar ao lugar por ter sido condenado a dois anos de prisão por fraude, é
considerado uma força positiva nas eleições? O “pai de todos os populismos”,
como o ex-primeiro-ministro – um que nunca foi eleito - Mario Monti lhe
chamou numa entrevista ao Le Monde, é visto por alguns analistas como
uma presença estabilizadora da economia desequilibrada de Itália, uma das
maiores economias da Zona Euro e um país cujos choques podem facilmente
impactar todos os países da moeda única, e a força da própria moeda.
Berlusconi está a ser acolhido com
“alívio”, escreve o analista Alberto Mingardi, diretor-geral do think tank italiano
Instituto Bruno Leoni, no Politico,
porque o ex-primeiro-ministro, enquanto líder do Forza Italia (cujo nome surge
em grandes letras no logótipo partidário) vai poder controlar os representantes
eleitos por este grupo, e os parceiros internacionais “veem-no como uma
segurança na eleição”. Isto porque Berlusconi, “que diz que a Itália deve
cumprir os objetivos orçamentais e reduzir os impostos mas sem aumentar o
défice, parece a escolha de confiança”. Afinal, “a retórica de Berlusconi podia
ser exagerada, mas as políticas que pôs em prática nunca o foram”.
No entanto, Berlusconi não tem
tido medo de se aproximar da direita mais radical em temas como a imigração. O
seu partido, Forza Italia, defende o fim da entrada de imigrantes, e tenciona
expulsar 600 mil imigrantes ilegais se chegar ao Governo em coligação. Após um
tiroteio em que morreram seis africanos em Itália, alvejados por um extremista
de direita, Berlusconi reagiu repetindo a promessa de expulsão de imigrantes e,
citado pelo The Guardian, disse que havia uma “bomba social à beira de
explodir”.
LIGA NORTE
O partido, que defende maior
autonomia para as regiões italianas, em especial, para o norte do país, pode
vir a causar grandes dores de cabeça à União Europeia.
O líder do partido, Matteo Salvini
defende a saída de Itália da UE. Salvini considera
o euro “a moeda alemã” que tem causado danos a todos os outros países
europeus e, em particular, à economia italiana.
O manifesto da Liga Norte afirma que
Itália deve abandonar o clube dos 27, a não ser que o país consiga renegociar
os tratados com a UE.
"Queremos permanecer na UE
apenas se pudermos renegociar todos os tratados que limitam a nossa soberania
plena e legítima. Na prática, o que queremos é voltar a adoptar os princípios
da união económica europeia, anteriores ao Tratado de Maastricht", pode
ler-se no manifesto.
As últimas sondagens revelam que o
Liga Norte pode recolher 14% dos votos nas eleições do próximo domingo.
O acordo entre Berlusconi, líder da
Força Itália e Salvini, da Liga Norte estabelece que se o “bloco” de direita
ganhar as eleições, o líder do partido que recolher mais votos terá direito a
nomear o primeiro-ministro e a definir a agenda política.
IRMÃOS DE
ITÁLIA
O partido
foi criado em 2012, na sequência de uma dissidência da coligação Povo da
Liberdade, liderada por Berlusconi. A líder do partido, Giorgia Meloni fez
parte do quarto executivo do antigo primeiro-ministro: entre 2008 e 2011 foi
ministra das Políticas da Juventude.
A
ex-jornalista chegou à liderança do partido em 2014, depois de se ter
distinguido na oposição às políticas do ex-primeiro-ministro Mario Monti, um
tecnocrata, ex-Comissário Europeu que assumiu o cargo após Berlusconi ter
resignado.
Nas
legislativas de 2013, o Irmãos de Itália conseguiu apenas 2% dos votos. Agora,
concorre com o Força Itália, considerado por muitos o “aliado natural”.
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À esquerda, o partido de Matteo Renzi, com Gentiloni como candidato é
o Partido Democrático (PD), que tem liderado a recuperação recente da economia
italiana mas não consegue, com isso, obter apoio significativo junto dos
italianos e o Livres e Iguais de Pietro Grasso.
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PARTIDO DEMOCRÁTICO
O partido que está no poder concorre
a estas legislativas com uma agenda política vista como “conservadora” pelos
analistas políticos.
O líder do partido, Matteo Renzi, tem
tentado fazer valer junto do eleitorado o leve crescimento da economia durante
a legislatura do PD que agora termina, aliada à queda ligeira do desemprego.
No plano europeu, o Partido
Democrático defende a ligação do país à UE. Enquanto foi primeiro-ministro,
Renzi cultivou boas
relações com a chanceler alemã, Angela Merkel.
Para lá dos trunfos económicos, o PD
tenta também conquistar votos entre os apoiantes do atual primeiro-ministro,
Paolo Gentiloni, cujos índices de popularidade estão bem acima dos do líder do
partido.
Renzi foi derrotado no referendo
constitucional de 2016, o que levou à sua demissão. Desde então, não conseguiu
recuperar a popularidade que já conheceu junto do eleitorado italiano. Ao que
tudo indica, o seu partido dificilmente conseguirá alcançar os resultados que
levaram à sua eleição em 2014.
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LIVRES E IGUAIS
Criado em Dezembro passado pelo atual
presidente do Senado italiano, Pietro Grasso, o Livres e Iguais assume-se como
um partido de centro-esquerda que quer ser alternativa ao PD de Renzi.
Grasso goza de alguma popularidade a
nível nacional, graças à sua carreira como procurador e à luta que levou a cabo
contra a Máfia Italiana, a Cosa Nostra.
Sem programa muito definido, o
principal argumento do Livres e Iguais é reunir todos os dissidentes e
descontentes com o Partido Democrático. As sondagens apontam para que obtenha 6
a 8% das intenções de voto.
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Na extrema-esquerda o
partido que parece ter mais intenções de voto, porém, é mesmo M5S - MOVIMENTO 5
ESTRELAS,
Fundado por Beppe Grillo e atualmente
liderado por Di Maio. As suas propostas são as comuns de um partido populista e
contra as regras instituídas: pretende instituir um rendimento mínimo de 780
euros, aumentar o défice, deitar fora “leis inúteis” que incluem as do trabalho
e das pensões. Sem se posicionar nem à esquerda nem à direita, o movimento
reúne votos de protesto de quem não vê as suas preocupações refletidas pelos
partidos no espetro comum da política.
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Concorre isoladamente e as sondagens
conhecidas apontam-no como o “primeiro partido de Itália”.
Sem uma tendência ideológica muito
definida - tanto defende medidas consideradas de extrema-esquerda, como a saída
da União Europeia, como políticas associadas à extrema-direita, sobretudo
medidas anti-imigração.
O atual líder do movimento, Luigi di
Maio, é uma das estrelas ascendentes da política italiana. Tem 31 anos e, num
espaço de cinco anos, deixou de ser mais um nome a engrossar as listas do
desemprego para se tornar vice-Presidente da Câmara dos Deputados.
Luigi di Maio frequentou os cursos de
engenharia e direito na Universidade de Nápoles, mas não chegou a terminar
nenhum e estava sem trabalho quando se juntou às fileiras do "5
Estrelas".
Agora, é líder da força política que
se diz anti-sistema e pretende formar governo ou, pelo menos, alcançar votos
suficientes para poder entrar num executivo de coligação.
Embora ainda não tenha definido
futuros parceiros de governo, o 5 Estrelas admite forjar alianças logo que
sejam conhecidos os resultados.
O Movimento 5 Estrelas é conhecido
pelas posições eurocépticas e chegou mesmo a defender a realização de um
referendo em Itália sobre a pertença à UE. Entretanto, Luigi di Maio
retratou-se e declarou que “não é o momento certo para a Itália abandonar o
euro”. Disse, também, esperar evitar o referendo, algo que agora encara como “o
último recurso”.
A imigração é outro tema forte para o
movimento, que reclama o “fim do serviço de táxi marítimo” para os imigrantes
do Norte de África.
Se chegar ao governo, o 5 Estrelas
promete revogar mais de 400 leis atualmente em vigor, entre elas, a que proíbe
os pais de não vacinarem os filhos. O movimento (a par com a Liga Norte) defendeque
os pais não devem ser forçados a vacinar os filhos.