A situação actual apresenta perigos enormes, mas também
potencialidades benéficas. Entre estas, conta-se evidentemente a possibilidade
de mudança do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista. O que, apesar das
aparências, não é impossível. O Bloco, partido de transição e de trânsito,
poderá converter-se sem dificuldade a uma política democrática e realista, com
umas pinceladas reformistas e alguma radicalidade cultural e de costumes. Uma
boa análise de classe deste partido, das suas origens e do seu programa
dir-nos-á exactamente isso.
Quanto ao PCP, imagina-se que este partido poderia
conhecer, finalmente, a sua Primavera, quem sabe se a sua metamorfose e
transformar-se em partido democrático, de esquerda, de base sindicalista,
pragmático e radical, mesmo se pouco liberal. Não é impossível que a sua
evolução constitua um dos mais interessantes casos contemporâneos. O “novo
quadro político” e as “relações de forças”, os dois critérios mais importantes
da definição estratégica comunista, sugerem essa possibilidade. O apoio a este
governo é mais do que oportunismo e pode ter longo alcance. Até hoje, o PCP só
apoiou os governos de dois primeiros-ministros, Vasco Gonçalves e António
Costa. O primeiro foi o desastre conhecido. O segundo… não se sabe.
Infelizmente, não há só boas perspectivas. Há também
perigos, entre os quais dois graves. O primeiro seria o PS afastar-se da sua
história liberal e democrática, ficando apenas fiel à tradição jacobina. Se
assim for, fica o país a perder e a esquerda condenada, no futuro, a pastorear
reivindicações, não sem antes danificar ainda mais a posição de Portugal no
mundo.
O segundo seria o de repetir o ciclo de Sócrates:
distribuir o que se não tem, investir o que não se poupou, gastar o que não é
nosso, endividar-se e fazer aproveitar amigos políticos e patrícios
financeiros. Não parece exagerado imaginar que tal possa acontecer. Na verdade,
alguns dos mais importantes ministros e secretários de Estado deste governo
foram, com António Costa, os pilares dos governos de José Sócrates.
Nada está escrito.
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(por ANTÓNIO BARRETO
in Sem
emenda - Tão simples! N’ O Jacarandá)