... em Agosto tive de passar por
Lisboa. Fiquei estarrecida, circulava-se mal e a custo, apesar do mês,
tradicionalmente bondoso com os automobilistas. Num relance, percebi duas
coisas.
Uma: Lisboa ficará intransitável
muito rapidamente. O presidente da Câmara, sem engenho ou disposição para
disciplinar as entradas e saídas de carro da capital, e certamente ignorando a
galopante compra de carros, preferiu uma luta pessoal, obstinada e quase
irracional contra o automóvel. Manda a seriedade que se lembre que nenhuma
grande cidade venceu ainda a luta contra o tráfego. Mas estreitar vias, acabar
com inúmeras outras, fazer praças, pracetas, ciclovias desertas, relvadinhos,
banquinhos onde poucos lisboetas se sentam… serve para quê?
Para uma Lisboa “lindinha” , que
encha o olho mas “impercorrível”? Em breve quase não se circulará e nem vale a
pena evocar o regresso às aulas, o inverno, a chuva, as cheias, basta só falar
do que (já) está.
Que me lembre, o presidente da
Câmara nem consultou os seus munícipes na guerra que iria declarar contra o
automóvel, nem lhes deu nada em troca. Sou grande utilizadora do metropolitano
mas, circulando ele apenas para meia dúzia de sítios, semi cumpre a sua função;
os autocarros? São demasiado incertos e estão demasiado velhos para que se
possa confiar neles com a responsabilidade de cumprir horários. Resta o táxi,
que não é obviamente uma forma de vida.
E, assim sendo, a segunda coisa que
percebi é que não vai haver solução. Novas linhas de metro? Daqui a quanto
tempo? Mais e mais lestos autocarros? Para quando?
(in “Chatices” por Maria João Avillez )