“o governo plantou num jornal uma
notícia falsa, que atingiu o bom nome de um juiz e colocou em causa a validade,
na opinião pública, das suas decisões.
Não é necessário um conhecimento
profundo dos fundamentos de um Estado de Direito para detectar que este
comportamento persecutório é abominável em democracia, por constituir um ataque
aos pilares da separação de poderes que suportam o regime.
Num país e num regime que se dessem
ao respeito, isto não seria um fait-divers ou uma polémica. Seria um escândalo
político.”
…
tudo acontece com impunidade porque
deste lado – o dos leitores, dos cidadãos, da sociedade civil – já está tudo
entorpecido demais para reparar e
nos jornais, se encontra quem,
facilitando no rigor, publica o que lhe dão a publicar…
(in Observador
por Alexandre Homem
Cristo)
.
Em matéria de transparência, em
Portugal sobre tudo se legisla mas pouco ou nada funciona. As leis não são
feitas para produzirem os efeitos que delas se esperam — dar informação aos
cidadãos que permita o escrutínio e dissuadir práticas incorrectas — mas sim
como método bacoco de fuga para a frente...
Quando há uma polémica, a primeira
coisa que os políticos fazem é prometer mais uma lei. Até conseguimos imaginar
as trocas de telefonemas dos últimos dias entre o Palácio das Necessidades, o
Algarve e o Terreiro do Paço:
“Podíamos anunciar já que vamos
avançar com um código de conduta. Os parvos dos jornalistas seguem essa lebre e
a opinião pública vai atrás. Em poucos dias já ninguém fala do caso concreto”.
A parcela de diálogo é ficcionada
mas, sabendo como os truques de comunicação têm ascendente sobre a essência das
questões, é tudo menos inverosímil…
(in Observador
por Paulo Ferreira)