O PM António Costa é uma personagem
engraçada. Passou dois meses a jurar aos portugueses que tinha uma “maioria
sólida, estável e duradoura.” Com essa maioria, foi para o governo. Mas,
aparentemente, uma maioria absoluta não chega. Ataca o PSD por não colaborar
com o governo e corteja a nova liderança do CDS, beijando com todo o
descaramento a nova líder do CDS em pleno Parlamento. Aliás, aqueles beijos a
Assunção Cristas são os verdadeiros beijos da morte. Costa quer uma maioria
total, com ele no centro como PM, e manobrando-a ao sabor dos seus interesses
do momento:
Ora beija Catarina, ora beija
Assunção.
.
A pressão pela maioria total também
mostra muitos dos maiores defeitos da política portuguesa.
Constitui o que chamo a herança
silenciosa do Estado Novo, e caracteriza-se
por um desejo enorme pelos consensos
nacionais,
pela redução das divergências a radicalismos
e
pela distinção entre “nós” (a
oligarquia do poder) e “eles” (o povo, a maioria dos cidadãos portugueses). O
povo é reduzido a um exército de eleitores a quem convém agradar e conquistar
durante as campanhas eleitorais.
Mas entre as eleições, governa-se
através de negociações e arranjos entre as elites oligarcas.
.
Conhecem-se todos, andaram todos nas
mesmas universidades, frequentam os mesmos restaurantes, convivem com os mesmos
jornalistas, por isso não há nada que não possam resolver. As divergências e a
oposição apenas complicam as arranjos de quem manda.
.
Por definição, o líder do principal
partido da oposição goza de um lugar importante entre a oligarquia. Ao
recusá-lo, Passos Coelho está a ser um “radical.”
E alguns dos que cobiçam a liderança do
PSD, desejam verdadeiramente aceder à oligarquia e participar nos acordos de
restaurantes e gabinetes. Mas não o querem imediatamente, para não terem de
penar anos na oposição. Mais próximo das eleições será mais conveniente.
São os “Costas” do PSD.
(por João Marques de
Almeida no Observador)