A direita que não aprende
O PSD não gosta do CDS, o CDS não
gosta do PSD - e o PS gosta de todos. Os congressos à direita mostraram que não
vai existir uma oposição unida. António Costa tinha razão: afinal, era fácil.
Confusa, angustiada e temendo pela
sobrevivência, a direita portuguesa voltou ao seu estado natural: a luta
corpo-a-corpo.
O simples rumor de que se estaria a
preparar uma candidatura conjunta à câmara de Lisboa, com Assunção Cristas à
frente, foi suficiente para provocar um início de levantamento de rancho. (por Miguel Pinheiro no Observador)
“Keep cool”, um congresso anestésico
Nem Passos se reinventou, nem a
equipa se refrescou, nem os maiores críticos apareceram, nem os que geraram
expectativas as cumpriram ou ultrapassaram. O povo laranja sai de Espinho mais
nervoso.
A
queda da geringonça, que podia ser a sorte de Passos Coelho, também pode ser o
seu azar. Ir a eleições e ter o mesmo resultado eleitoral e parlamentar seria a
sua morte política. (por Vítor Matos no Observador)
O isolamento da oposição
a Passos
Em caso de mau resultado nas
autárquicas – e se a “geringonça” se aguentar até lá (o que está longe de ser
uma certeza) – o ciclo do actual líder do PSD poderá rapidamente chegar ao fim.
O isolamento da oposição a Passos foi
manifesto em todo o Congresso e teve o seu ponto alto na intervenção de Santana
Lopes, naquela que foi a mais mobilizadora e a segunda melhor intervenção de
todo o Congresso (a melhor foi, sem surpresa, a de Carlos Moedas, como
habitualmente muitos furos acima do resto do PSD e todo o panorama político
nacional). Santana foi contundente na desmontagem do cerco mediático montado
contra Passos e afirmou-se como a principal referência senatorial (no bom
sentido) do actual PPD/PSD. (por André
Azevedo Alves no Observador)
O pântano do “somos todos
social-democratas”
Estou convencido que o esmiuçamento
dos rótulos, numa tentativa de avaliar da pureza ideológica, pode ser um
exercício intelectualmente interessante mas não interessa a 99,9% das pessoas.
Não percebo, por isso, a importância
desmesurada que se dá ao rótulo a colocar ao PSD. Será social-democrata o
partido que se chama Social Democrata? E onde acaba a social-democracia do PSD
e começa o socialismo democrático de que o PS se afirma representante? E onde
ficou este socialismo quando António Guterres descobriu uma terceira via e foi
dos governos que mais privatizou em Portugal? E o que distingue o conteúdo
programático do PCP e do BE, já que o embrulho é radicalmente diferente? São
ambos comunistas? Um é mais comunista do que o outro? Qual? É que nisso da
“esquerda radical” ou “extrema esquerda” cabe muita coisa. (por Paulo Ferreira no Observador
)
Nas tempestades, só se salva quem
mantém o rumo
Os problemas estruturais do país
foram identificados, a direita apresentou as suas propostas e venceu as
eleições. Sim, terá de esperar, mas seria incompreensível que renegasse agora
às suas ideias.
A direita ganhou as eleições mas
perdeu o governo. Passado o choque, o imediatismo das máquinas partidárias,
sobretudo a do PSD, logo se agitou e criou a ficção de que a passagem pela
oposição impunha um “reposicionamento” que levasse o partido de volta à
social-democracia e para longe do liberalismo – houve até quem descrevesse os
anos de governo como um “trip ideológico”. A questão, obviamente, nunca foi
filosófica nem ideológica – o PSD é um partido plural e ninguém ansiava por um
debate que opusesse seguidores do pensamento de Bernstein aos de Adam Smith. A
questão é meramente táctica: José Eduardo Martins, Rui Rio e outros dos
críticos não têm um problema com o liberalismo, mas com a liderança de Passos
Coelho e as suas próprias ambições partidárias. Mas, por enquanto, são os
únicos: ao contrário do que se dizia, no congresso não se viu Passos Coelho
isolado no PSD.
A
tradição portuguesa dita que quando se cai na oposição deve mudar-se liderança
e discurso, como quem clama por redenção e anseia recomeçar tudo já lavado de
pecados passados. Passos Coelho, vencedor de duas eleições legislativas
consecutivas, é de longe o melhor líder que o PSD poderia ter. E mudar por
mudar (fosse a liderança, fosse o discurso) seria um erro. Há, pois, que
aguentar o barco na tempestade e manter o rumo. (por Alexandre Homem Cristo
no Observador)
Passos não se reinventou.
Ainda bem
Ser Passos Coelho talvez comece muito
em Massamá e na Manta Rota, isto é, numa forma de vida que o aproxima muito
mais do português comum do que das elites que comentam, analisam e falam de
cátedra.
Passos Coelho subiu domingo, pela
terceira vez, ao palco do congresso de Espinho com o pin da bandeira portuguesa
na lapela. Desiludiu os comentadores, talvez tenha desiludido
muitos laranjinhas que prefeririam que tivesse na lapela as três
setinhas do símbolo do PSD. Mas fez bem. Passos só faz sentido sendo Passos.
E o que é que significa ser Passos?
Alguns congressistas disseram-no, como Moreira da Silva e, sobretudo, Santana
Lopes. Ser Passos é ser teimoso e ser frio. Ou, em palavras mais simpáticas, é
ser – e uso por isso as palavras de Santana Lopes – “frio, sereno, responsável,
determinado”.
Vou acrescentar outro elemento: é
continuar a ser mais liberal que a média do PSD e, por maioria de razão, a
média do país. (por
José Manuel Fernandes
no Observador)