domingo, 3 de abril de 2016

dos que não perceberam, aos que perceberam tudo...

A direita que não aprende
O PSD não gosta do CDS, o CDS não gosta do PSD - e o PS gosta de todos. Os congressos à direita mostraram que não vai existir uma oposição unida. António Costa tinha razão: afinal, era fácil.
Confusa, angustiada e temendo pela sobrevivência, a direita portuguesa voltou ao seu estado natural: a luta corpo-a-corpo.
O simples rumor de que se estaria a preparar uma candidatura conjunta à câmara de Lisboa, com Assunção Cristas à frente, foi suficiente para provocar um início de levantamento de rancho. (por Miguel Pinheiro no Observador)

“Keep cool”, um congresso anestésico
Nem Passos se reinventou, nem a equipa se refrescou, nem os maiores críticos apareceram, nem os que geraram expectativas as cumpriram ou ultrapassaram. O povo laranja sai de Espinho mais nervoso.
A queda da geringonça, que podia ser a sorte de Passos Coelho, também pode ser o seu azar. Ir a eleições e ter o mesmo resultado eleitoral e parlamentar seria a sua morte política. (por Vítor Matos no Observador)

O isolamento da oposição a Passos
Em caso de mau resultado nas autárquicas – e se a “geringonça” se aguentar até lá (o que está longe de ser uma certeza) – o ciclo do actual líder do PSD poderá rapidamente chegar ao fim.
O isolamento da oposição a Passos foi manifesto em todo o Congresso e teve o seu ponto alto na intervenção de Santana Lopes, naquela que foi a mais mobilizadora e a segunda melhor intervenção de todo o Congresso (a melhor foi, sem surpresa, a de Carlos Moedas, como habitualmente muitos furos acima do resto do PSD e todo o panorama político nacional). Santana foi contundente na desmontagem do cerco mediático montado contra Passos e afirmou-se como a principal referência senatorial (no bom sentido) do actual PPD/PSD. (por André Azevedo Alves no Observador)

O pântano do “somos todos social-democratas”
Estou convencido que o esmiuçamento dos rótulos, numa tentativa de avaliar da pureza ideológica, pode ser um exercício intelectualmente interessante mas não interessa a 99,9% das pessoas.
Não percebo, por isso, a importância desmesurada que se dá ao rótulo a colocar ao PSD. Será social-democrata o partido que se chama Social Democrata? E onde acaba a social-democracia do PSD e começa o socialismo democrático de que o PS se afirma representante? E onde ficou este socialismo quando António Guterres descobriu uma terceira via e foi dos governos que mais privatizou em Portugal? E o que distingue o conteúdo programático do PCP e do BE, já que o embrulho é radicalmente diferente? São ambos comunistas? Um é mais comunista do que o outro? Qual? É que nisso da “esquerda radical” ou “extrema esquerda” cabe muita coisa. (por Paulo Ferreira no Observador )

Nas tempestades, só se salva quem mantém o rumo
Os problemas estruturais do país foram identificados, a direita apresentou as suas propostas e venceu as eleições. Sim, terá de esperar, mas seria incompreensível que renegasse agora às suas ideias.
A direita ganhou as eleições mas perdeu o governo. Passado o choque, o imediatismo das máquinas partidárias, sobretudo a do PSD, logo se agitou e criou a ficção de que a passagem pela oposição impunha um “reposicionamento” que levasse o partido de volta à social-democracia e para longe do liberalismo – houve até quem descrevesse os anos de governo como um “trip ideológico”. A questão, obviamente, nunca foi filosófica nem ideológica – o PSD é um partido plural e ninguém ansiava por um debate que opusesse seguidores do pensamento de Bernstein aos de Adam Smith. A questão é meramente táctica: José Eduardo Martins, Rui Rio e outros dos críticos não têm um problema com o liberalismo, mas com a liderança de Passos Coelho e as suas próprias ambições partidárias. Mas, por enquanto, são os únicos: ao contrário do que se dizia, no congresso não se viu Passos Coelho isolado no PSD.
A tradição portuguesa dita que quando se cai na oposição deve mudar-se liderança e discurso, como quem clama por redenção e anseia recomeçar tudo já lavado de pecados passados. Passos Coelho, vencedor de duas eleições legislativas consecutivas, é de longe o melhor líder que o PSD poderia ter. E mudar por mudar (fosse a liderança, fosse o discurso) seria um erro. Há, pois, que aguentar o barco na tempestade e manter o rumo. (por Alexandre Homem Cristo no Observador)

Passos não se reinventou. Ainda bem
Ser Passos Coelho talvez comece muito em Massamá e na Manta Rota, isto é, numa forma de vida que o aproxima muito mais do português comum do que das elites que comentam, analisam e falam de cátedra.
Passos Coelho subiu domingo, pela terceira vez, ao palco do congresso de Espinho com o pin da bandeira portuguesa na lapela. Desiludiu os comentadores, talvez tenha desiludido muitos laranjinhas que prefeririam que tivesse na lapela as três setinhas do símbolo do PSD. Mas fez bem. Passos só faz sentido sendo Passos.
E o que é que significa ser Passos? Alguns congressistas disseram-no, como Moreira da Silva e, sobretudo, Santana Lopes. Ser Passos é ser teimoso e ser frio. Ou, em palavras mais simpáticas, é ser – e uso por isso as palavras de Santana Lopes – “frio, sereno, responsável, determinado”.

Vou acrescentar outro elemento: é continuar a ser mais liberal que a média do PSD e, por maioria de razão, a média do país. (por José Manuel Fernandes no Observador)